27/07/2021
Pediatra Luci Pfeiffer, fundadora do Dedica e que concentrou toda a sua carreira buscando melhores perspectivas à infância, recebe a comenda que reverencia médicos engajados em causas sociais e humanitárias. Somente outros 17 receberam a Medalha de Lucas
A pediatra Luci Yara Batista Pfeiffer, também mestre e doutora em Saúde da Criança e do Adolescente, vai receber neste 2021 a Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico, honraria que o Conselho de Medicina do Paraná instituiu em 1996 para reverenciar profissionais com destacada atuação em prol de causas sociais e humanitárias. A reverência, inspirada no evangelista Lucas, Patrono do Médico, tinha alcançado até hoje somente outros 17 médicos paranaenses. A premiação ocorre em meio aos festejos do Dia do Médico, em outubro, e que mais uma vez terá a sua solenidade principal pelo meio virtual.
Formada há mais de 45 anos pela Universidade Federal do Paraná, a médica concentrou praticamente toda a sua carreira em defesa da infância saudável e da proteção a crianças em situação de risco. Uma das pioneiras do país na identificação de casos de maus-tratos contra menores, ela foi uma das idealizadoras e coordena até hoje o projeto Dedica (Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente), que nasceu no início dos anos 2000 e hoje funciona com apoio da Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas. Pesquisadora e palestrante de renome internacional, desde janeiro deste ano a Dra. Luci é um dos nove membros – e único da América Latina – do Focus Group on Families and New Tecnologies, instituição que faz parte da ONU e tem como objetivo promover o acesso de crianças e adolescentes carentes à tecnologia.
Comissão julgadora
Nada menos do que 25 personalidades de reconhecido trabalho médico-social tinham sido indicados para concorrer à edição de 2021 da Medalha de Lucas. Criada pela Portaria n.º 041/2021, da Presidência, a Comissão de Seleção de Médicos Candidatos à Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico 2021 foi formada pelos conselheiros Edison Luiz Almeida Tizzot (coordenador), Kátia Sheylla Malta Purim e Úrsula Bueno do Prado Guirro, todos professores de cursos médicos. A reunião final para deliberar sobre o vencedor do certame ocorreu em 17 de junho. Exaltando o histórico de vários dos outros concorrentes, os integrantes da comissão foram unânimes na indicação do nome da Dra. Luci, com decisão referendada em sessão plenária do CRM-PR.
Entre todos os premiados da Medalha de Lucas, a Dra. Luci Pfeiffer é a quarta mulher, a terceira da Pediatria. Antes dela, receberam a comenda a Dra. Zilda Arns Neumann (ano de 2000) e Mariângela Batista Galvão Simão (2020), pediatras, além da Dra. Helen Anne Butler Muralha (2019), gineco-obstetra. O primeiro médico a receber a comenda foi o Dr. Hélio Brandão, fundador do chamado “Clube da Soda”, seguido do padre e médico pediatra José Raul Matte, que dedicou toda a sua vida religiosa e profissional em prol dos ribeirinhos da Amazônia. Curitibano e formado pela UFPR, o Padre Dr. Raul faleceu no início de maio deste ano, em São Paulo. Estava prestes a completar 87 anos e 61 de formação médica.
Histórico
Natural de Curitiba, a Dra. Luci formou-se em dezembro de 1975 pela UFPR. Inscreveu-se no CRM-PR já em janeiro de 1976, obtendo o número 4.646. Além de título de especialista em Pediatria, fez mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFPR, com a dissertação “Epidemiologia da violência contra crianças e adolescentes – histórias que o mundo adulto não conta”; e doutorado com a tese “Proposta de método de graduação dos níveis de gravidade da violência na infância e adolescência”. Ainda tem formação em Psicanálise de Crianças na Associação Psicanalítica e pós-graduação em Adolescência e em Psicologia Clínica com abordagem Psicanalítica, ambas pela PUCPR.
Integra o Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade Paranaense de Pediatria, sendo deste a presidente. Faz parte ainda da Câmara Técnica de Pediatria do CRM-PR e já compôs a Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB-PR, instituição que lhe conferiu, em 2005, o Prêmio Profissional Amigo da Criança. Foi idealizadora do Dedica, ainda no início dos anos 2000 e que desde 2016 é mantido pela Associação dos Amigos do HC. O programa presta assistência gratuita interdisciplinar (médica, psicanalítica e social) a crianças e adolescentes vítimas de violência grave ou gravíssima. Modelo nacional, atende menores encaminhados pelo Ministério Público, Vara da Infância, Conselhos Tutelares, Delegacias e outros centros de atendimento.
“O sofrer das crianças por causas totalmente evitáveis sempre foi insuportável para mim”, conta a médica que, desde o início de sua carreira profissional, dedicou especial atenção às crianças com deficiência, centrando esforços para diagnóstico precoce e assistência, não se limitando aos serviços de saúde, inclusive buscando respostas em pesquisas nas escolas. Ela foi convidada a escrever a Lei do Teste do Pezinho e também a que colocou o Paraná como estado pioneiro na vacinação de mulheres em idade fértil contra a rubéola. Encampou campanhas de prevenção, como a Protegendo a Vida e outras envolvendo as Apaes, bem como de capacitação de profissionais para detectar casos de violência contra crianças, algo que ganhou corpo e permitiu estruturar o projeto piloto de implantação da Notificação Obrigatória (N.O.).
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Sobre a nova missão
Em 21 de janeiro deste ano, logo após ser confirmada como integrante do Focus Group on Families and New Tecnologies (IFFD), da ONU, a Dra. Luci Pfeiffer participou de uma reunião virtual, com base em Genegra (Suíça), com o tema “View of experts on family policies on families and new Technologies”. Na ocasião, foram apresentadas propostas para a estruturação e definidas as diretrizes do grupo. A conversa, restrita a convidados, ocorreu baseada em um questionário com nove pontos, recebido previamente pelos membros. Eles tiveram a oportunidade de responder tópicos como o impacto das novas tecnologias nas famílias e a universalização da internet como um direito humano.
Logo em seguida, a médica paranaense se manifestou: "Esse convite nos mostra a importância do pediatra ir além do seu consultório e de poder defender os direitos da criança e do adolescente de uma forma integral, com a experiência e ciência que somente nós temos. Assim fiz como voluntária, em toda a minha carreira, que iniciou com atenção à prevenção das causas prevalentes das deficiências na infância, buscando as consequências da falta de estrutura dos berçários. Também destaco o trabalho na estruturação da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação de Risco para Violência de Curitiba, e depois em outros municípios do Brasil. Destes trabalhos, nasceu a proposta do Programa Dedica, que criei e hoje coordeno, para prestar assistência interdisciplinar e intersetorial a vítimas de violências graves e gravíssimas, do mundo real e do mundo virtual. Nessa caminhada, tive a oportunidade de trabalhar e ter apoio de profissionais muito especiais e de desenvolver ações em prol da saúde física e mental da infância e adolescência, como nos Departamentos de Segurança da Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP), na qual sou presidente, e da SBP. E, agora, o convite da IFFD me traz a oportunidade de aprender ainda mais, com um grupo de especialistas mundiais, e também de levar a eles o conhecimento conseguido nessa caminhada, sempre para o bem da infância e da adolescência”.
A pediatra também comenta a interação com especialistas de outros Continentes: “Foi de extrema importância levar a realidade sobre as crianças e adolescentes brasileiras. A escuta dessas histórias me ensinou que precisamos encontrar essas vítimas e tratá-las o mais cedo possível, para que não sejam marcadas permanentemente pela violência. Esses danos, físicos, psíquicos ou sexuais são praticados especialmente no âmbito familiar, mas também encontram espaço na internet. Por isso, participar deste grupo, ligado à ONU, pode ser um caminho de extrema relevância. É uma possibilidade não apenas de fazer do acesso à internet um direito humano, mas também de garantir a todos um ambiente virtual digno, ético e seguro”.
SAIBA MAIS SOBRE A TRAJETÓRIA DA DRA. LUCI PFEIFFER.
Sobre a premiação
A solenidade de entrega da Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico” ocorre em meio às comemorações alusivas ao Dia do Médico de 2021 será virtual, a exemplo do que ocorreu no ano anterior. A exibição do evento será no dia 17 de outubro, um domingo, conjugando atividades ao vivo e gravadas. Além da premiação da Medalha, haverá homenagem aos médicos engajados no combate à pandemia e à memória daqueles que perderam a vida por causa da doença, além da entrega do Diploma de Mérito Ético-Profissional pelo Jubileu de Ouro. Nada menos do que 120 médicos que completaram 50 anos de formados com histórico ético exemplar vão ser agraciados com a comenda, instituída em 1986 pelo CRM-PR, sendo uma iniciativa pioneira no país de valorização da Medicina e daqueles que a exercem com dignidade.
Dentre os homenageados com o Diploma de Mérito este ano está o Dr. Júpiter Velloz Silveira, médico londrinense e um dos fundadores da Casa do Caminho, que em 2003 foi distinguido com a Medalha de Lucas por seu trabalho social. A listagem de profissionais que alcançaram 50 anos de formados inclui ainda Gerson Zafalon Martins, ex-presidente do CRM-PR e ex-conselheiro pelo Paraná no CFM e os professores Guilberto Minguetti, Francisco Gregori Júnior, Carlos Puppi Busetti Mori e Dagoberto Hungria Requião. Ainda entre os homenageados está o Dr. Sérgio Pfeiffer, que é irmão da Dra. Luci Pfeiffer e também especialista em Pediatria. Assim, no anúncio dos homenageados de 2021, o CRM-PR presta reverência, por extensão, a todos os pediatras na passagem de sua data comemorativa.