O Estado de São Paulo tem 2,3 médicos por mil habitantes, um número maior do que o de muitos países desenvolvidos. O alto índice, no entanto, não significa que há mais pessoas sendo atendidas. Isso porque a distribuição dos profissionais é extremamente desigual. Enquanto três municípios - Botucatu, Santos e Ribeirão Preto - têm mais doutores por habitante que qualquer país, outros 136 (ou 21% do total) não têm nenhum médico entre seus habitantes.

Os dados, divulgados em estudo do Cremesp, mostram que há dois tipos de cidade, as que atraem e as que repelem os médicos. "Mais do que dinheiro, os médicos procuram os lugares em que há infra-estrutura para exercer a profissão", afirma o presidente do Cremesp, Henrique Gonçalves. Segundo ele, os salários costumam ser até melhores nas cidades pequenas, mas isso não é suficiente. "A maioria prefere ganhar um salário simbólico no Hospital das Clínicas e usar equipamentos de última geração do que receber muito dinheiro, mas praticar uma Medicina do século passado numa cidadezinha do interior."

Com 5,7 médicos por mil habitantes, Ribeirão Preto é um centro de excelência em formação de mestres e doutores na área. O ginecologista e obstetra Luiz Alberto Ferriani, de 60 anos, está na profissão há 35 anos e é um exemplo disso, dividindo 12 horas diárias de trabalho entre seu consultório e a direção clínica da Maternidade Sinhá Junqueira, função que ocupa desde 1989. "Hoje (ontem) fiz duas cesáreas no horário de almoço", exemplifica. Ferriani formou-se na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, em 1972. Para Ferriani, Ribeirão não precisa de tantos médicos quanto tem, pois existe uma distribuição errada de profissionais. "Tem município que não tem médico."

Formado em 1974 pela Fundação Lusíada, em Santos, Maurício Lahan nunca deixou a cidade. Aos 59 anos, o pediatra atende diariamente em seu consultório no bairro do Boqueirão. Ele afirma que mesmo havendo muitos médicos em Santos, a falta desses profissionais na rede pública persiste.