09/07/2014
Novo levantamento do CFM avalia gasto per capita em saúde pública. Indicadores de saúde mostram que valores aplicados pelo Estado são insuficientes para atender necessidades da população
Um gasto de R$ 3,05 ao dia em saúde. Este é o valor que os governos federal, estaduais e municipais aplicaram
em 2013 para cobrir as despesas dos mais de 200 milhões de brasileiros usuários do Sistema Único de Saúde
(SUS). Ao todo, o gasto per capita em saúde naquele ano foi de R$ 1.098,75. O valor, segundo análise
do Conselho Federal de Medicina (CFM), está abaixo dos parâmetros internacionais e representa apenas metade do
que gastaram os beneficiários de planos de saúde do Brasil no mesmo período.
As informações
levantadas pelo CFM consideraram as despesas apresentadas pelos gestores à Secretaria do Tesouro Nacional, do Ministério
da Fazenda, por meio de relatórios resumidos de execução orçamentária. Em 2013, as despesas
nos três níveis de gestão atingiram a cifra de R$ 220,9 bilhões. O montante agrega todas as despesas
na chamada “função saúde”, destinada à cobertura das ações de aperfeiçoamento
do sistema público de saúde. Boa parte desse dinheiro é usada também para o pagamento de funcionários,
dentre outras despesas de custeio da máquina pública.
Para o presidente em exercício do Conselho
Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, os indicadores de saúde e as condições de trabalho para os médicos
nos municípios revelam como os valores gastos estão abaixo do ideal. “Como podemos ter uma saúde
de qualidade para nossos pacientes e melhor infraestrutura de trabalho para os profissionais do setor com tão poucos
recursos? O pior de tudo isso é que, enquanto Estados e Municípios se esforçam para aplicar o mínimo
previsto em lei, a União deixa de gastar, por dia, R$ 22 milhões que deveriam ser destinados à saúde
pública”, criticou o presidente ao relembrar um estudo do CFM, no qual aponta que, entre 2001 e 2012, o Ministério
da Saúde deixou de aplicar quase R$ 94 bilhões de seu orçamento previsto.
Além da má
qualidade da gestão dos recursos, que tem impacto direto na assistência da população e na atuação
dos profissionais, os representantes dos médicos acreditam que a saúde pública no Brasil não é
uma prioridade de governo. “Recentemente, um grupo ligado aos planos de saúde mostrou que cada um dos 50,2 milhões de
beneficiários de planos privados pagou, em média, R$ 179,10 por mês para contar com a cobertura de seu
plano em 2013. Isso representa cerca de R$ 2.150,00 por ano – quase o dobro do que os governos pagam pelo direito à
saúde pública”, ponderou o diretor de Comunicação do CFM, Desiré Callegari.
Comparação
internacional
As informações do CFM dialogam com dados da Organização Mundial da Saúde
– OMS (Estatísticas Sanitárias 2014), que, apesar de diferenças metodológicas, revelou que
o Governo brasileiro tem uma participação aquém das suas necessidades e possibilidades no financiamento.
Do grupo de países com modelos públicos de atendimento de acesso universal, o Brasil era, em 2011, o que tinha
a menor participação do Estado (União, Estados e Municípios) no financiamento da saúde.
Segundo os cálculos da OMS, enquanto no Brasil o gasto público em saúde alcançava US$ 512 por
pessoa, na Inglaterra, por exemplo, o investimento público em saúde já era cinco vezes maior: US$ 3.031.
Em outros países de sistema universal de saúde, a regra é a mesma. França (US$ 3.813), Alemanha
(US$ 3.819), Canadá (US$ 3.982), Espanha (US$ 2.175), Austrália (US$ 4.052) e até a Argentina (US$ 576)
aplicam mais que o Brasil.
Ranking dos estados e capitais
O levantamento do CFM, que acaba de ser
lançado, considerou ainda os dados declarados pelos maiores municípios de cada um dos dez estados mais populosos
do país. A comparação mostra que, embora alguns estados e municípios tenham aplicações
maiores que outros, em geral os valores são insuficientes para melhorar indicadores de saúde em nível
local. Neste estudo, as despesas em saúde foram cruzadas com Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), oferta
de leitos para cada grupo de 800 habitantes, taxas de incidência de tuberculose e dengue, além da cobertura populacional
de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Equipes de Saúde da Família (ESF).
É o
caso, por exemplo, do Distrito Federal, líder do ranking estadual do gasto em saúde, com R$ 1.042,40 por pessoa
ao ano. Apesar disso, o DF apresenta o pior desempenho de cobertura populacional de ACS (19%) e de ESF (20%). Por dia, são
gastos R$ 2,90 na saúde da população do Distrito Federal, valor que também não foi suficiente
para livrá-lo da pior taxa de leitos por habitantes do país: apenas 0,7 leito para cada 800 habitantes.
Em último lugar no ranking, aparece Alagoas, onde foram gastos apenas R$ 204,89, em 2013, na saúde de cada habitante,
o equivalente a R$ 0,57 ao dia. Apesar das taxas de incidência de doenças e demais indicadores de saúde
local não estarem entre os piores, Alagoas tem o pior IDH do país, segundo pesquisa divulgada pelo Programa
das Nações Unidas (PNUD) no ano passado e que mede o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida
pela população. Clique aqui para conferir o ranking dos estados.
Entre as capitais, a média do gasto em saúde por pessoa
é de R$ 542, 8. Onze cidades figuram abaixo desse valor. Belo Horizonte/MG tem o melhor desempenho relativo, com R$
933,86 ao ano, seguido pelas cidades de Campo Grande/MS (R$ 919,30) e Teresina/PI (R$ 874,82). Na outra ponta, Rio Branco-AC
(R$ 240,53), Boa Vista/RR (R$ 271,19) e Belém/PA (R$ 284,77) aparecem com os piores desempenhos. Em Macapá,
capital do Amapá, os gastos em saúde não foram encontrados, nem nos relatórios resumidos de execução
orçamentária, nem no portal da transparência da prefeitura, motivo que pelo qual a cidade não foi
incluída no levantamento. Clique aqui para conferir o ranking das capitais.
Fonte: CFM