14/04/2020
Trabalho intenso por mais de um mês envolveu nove instituições; trata-se de importante referencial no enfrentamento da pandemia e que pede cautela no uso de medicamentos sem comprovação científica
Força-tarefa envolvendo nove instituições, sendo oito delas sociedades médicas científicas, apresentou neste início de semana o resultado de trabalho de mais de um mês, que envolveu vários fins de semana, inúmeras teleconferências, centenas de artigos revisados e muitas horas para debater, escrever e revisão o conteúdo final com orientações práticas e científicas àqueles que estão na linha de frente do combate à pandemia do novo coronavírus.
O trabalho está sendo apresentado pelo denominado Grupo Força Colaborativa Covid-19, com orientações sobre diagnóstico, tratamento e isolamento de pacientes com o coronavírus. O documento foi compartilhado com a classe médica e científica pelo Dr. Clóvis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, instituição que coordenou a força tarefa através do seu Comitê de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde, juntamente com Associação Brasileira dos Profissionais em Controle de Infecções e Epidemiologia Hospitalar (ABIH).
Além de membros das duas entidades, participaram dos trabalhos representantes da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Instituto de Medicina Tropical – IMT USP, Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED) e Sociedade Brasileira de Nefrologia.
CONFIRA A ÍNTEGRA DA VERSÃO FINAL DO DOCUMENTO
A elaboração das Diretrizes para Diagnóstico e Tratamento da Covid-19 é uma resposta rápida para o enfrentamento da pandemia.”Este documento foi desenvolvido com o objetivo de apresentar um compilado dos conhecimentos adquiridos até o momento, que possam orientar sobre a abordagem diagnóstica de COVID-19, bem como sobre isolamentos de pacientes e profissionais de saúde, além de comentar o que se tem de evidência sobre tratamento. Este documento foi elaborado a partir da colaboração efetiva das sociedades científicas citadas”, destaca o trabalho em sua apresentação, enquanto versão n.º 1.
RESUMO DE CONSENSO
Confira a íntegra do trabalho, em suas 76 páginas, que traz o resumo executivo sobre o consenso entre os especialistas colaboradores deste documento:
● Para auxiliar tanto na suspeita diagnóstica de COVID-19, quanto no diagnóstico diferencial é necessário ter o conhecimento sobre etiologias virais de Pneumonias/SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), bem como de dados epidemiológicos. Se disponível, o ideal seria realizar para todo caso de SRAG o painel viral incluindo a pesquisa de SARS-CoV-2.
● É possível ter coinfecção SARS-CoV-2 e outros vírus respiratórios. É possível SRAG ser causada por outros vírus que não SARS-CoV-2.
● É consenso entre os especialistas participantes desta nota não utilizar a tomografia computadorizada de tórax exclusivamente para diagnóstico de COVID-19, nem usar este exame como parâmetro para retirada do isolamento. É preciso contextualizar de forma adequada os achados tomográficos com o quadro clínico e exames moleculares e/ou sorológicos quando disponíveis.
● Para se definir um diagnóstico de COVID19 é preciso estar pautado nas informações clínico-epidemiológicas + exames RT-PCR e/ou sorologia quando disponíveis e validadas + tomografia computadorizada, os quais precisam ser cuidadosamente ponderados a fim de se fechar diagnóstico.
● A interpretação apropriada de testes diagnósticos necessita do conhecimento do início dos sintomas, bem como das condições préanalíticas do teste, metodologia utilizada e momento da coleta em relação ao início dos sintomas.
● Se as condições pré-analíticas forem as ideais, bem como o momento de realização do teste, RT-PCR é considerado o método padrão ouro.
● O teste RT-PCR apresenta uma sensibilidade em torno de 63%, quando colhido em swab nasal/orofaringe. Portanto, RT-PCR negativo não afasta o diagnóstico de COVID-19. A critério clínico, considerar repeti-lo e/ou realizar teste sorológico, este a partir da 2ª semana de sintomas.
● Testes sorológicos podem auxiliar, porém tem maior sensibilidade após 7-9 dias de sintomas. Até o momento, não existem testes validados que possam ser utilizados com segurança. É mandatória a divulgação desta informação para a população geral que terá acesso ao teste.
● As medidas de precaução e isolamento para pacientes suspeitos ou confirmados internados devem permanecer até a alta. Se houver necessidade de liberação do isolamento antes da alta, pode-se usar a estratégia baseada em dois testes de RT-PCR negativos com intervalo de pelo menos 24 horas associados à resolução da febre e dos sintomas respiratórios. Na ausência de teste, pode ser utilizada a estratégia baseada na resolução da febre nas últimas 72 horas sem uso de antitérmico, além da melhora dos sintomas respiratórios considerando o período de isolamento respiratório de 14 dias após o início dos sintomas.
● Todo paciente com resfriado ou “síndrome gripal” deve permanecer por 14 dias em isolamento respiratório, uma vez que COVID-19 deve ser suspeitado. Seus contactantes também devem permanecer por 14 dias em isolamento respiratório. Se outro vírus for diagnosticado laboratorialmente (exemplo positivo para influenza e negativo para COVID-19), deve-se orientar o isolamento respiratório de acordo com o vírus isolado.
● Estudos estão em andamento e quaisquer medicamentos utilizados com o objetivo de tratamento devem ser administrados sob protocolo clínico mediante aplicação de termo de consentimento livre e esclarecido.
● Deve-se ter cautela ao usar cloroquina ou hidroxicloroquina em associação com azitromicina, pois pode aumentar o risco de complicações cardíacas, provavelmente pelo efeito sinérgico de prolongar o intervalo QT.