02/03/2021
A atual explosão de casos de Covid-19 no sistema de saúde, que já estava sobrecarregado ao longo de toda a pandemia, forçou o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) a editar norma aumentando a quantidade de pacientes por médicos nas UTIs. Desde domingo (28), ao invés de 10 pacientes por médico, conforme determina regulamentação de 2010 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as unidades de terapia intensiva do estado estão autorizadas a operar com um médico para 15 pacientes – aumento de 50%.
Com o próprio governo do estado admitindo que a rede hospitalar já está colapsando, com 96% de ocupação nos 1.444 leitos adultos de UTI nesta sexta-feira (5), chegou o cenário crítico que vinha sendo alertado por autoridades de saúde desde o início da pandemia: não há mais profissionais intensivistas para serem contratados. Atualmente, o Paraná inteiro conta com 321 médicos intensivistas adultos e 120 pediátricos, segundo o CRM-PR.
Dessa forma, resta aos médicos que já estão extenuados dedicar ainda mais tempo no atendimento de pacientes graves de Covid-19. “Essa norma é uma excepcionalidade que não deve mais valer após a pandemia, afirma o presidente do CRM-PR, Roberto Yosida. "Toda deficiência na saúde deságua infelizmente nos ombros dos profissionais de saúde. E o momento agora é como se fosse o de uma queda de avião: mesmo que seja acima da capacidade do hospital, todos os pacientes que dão entrada têm que ser atendidos", ilustra Yosida.
O presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Paraná (Sotipa), Rafael Deucher, avista um cenário ainda mais grave, com demanda de trabalho ainda maior às equipes de UTI se a transmissão acelerada do coronavírus não for freada. “Os leitos de UTI até aparecem. Botam uma cama, um respirador, os outros equipamentos, mas a questão é: médico e outros profissionais intensivistas não brotam do nada. São profissionais que exigem capacitação para lidar com pacientes graves. E a maioria dos pacientes de Covid-19 são muito graves, exigem muita atenção das equipes”, ressalta. "Botar um médico sem especialidade para atuar numa UTI seria como pedir a um recém-formado para operar um paciente com apendicite. Não vai saber fazer", compara o médico.
Deucher afirma que antes da pandemia a média era de três a quatro pacientes em estado grave nas UTIs do estado. Agora, são 15 ou até mais em estado gravíssimo em cada unidade de terapia intensiva, “quase morrendo”, faz questão de enfatizar. “Com 15 pacientes graves, você não para um minuto. Isso pode gerar falhas humanas pelo cansaço, o que já ocorre em situação normal e que agora foi muito potencializado. Mas, pelo momento crítico, é preferível dar 80% de atenção a 15 pacientes do que 100% para 10 pacientes”, aponta.
Com tamanha sobrecarga, muitos hospitais de Curitiba e de todo o estado já estão com dificuldade de fechar escalas. “Fazia dois anos que eu não fazia plantão noturno. Agora, estou fazendo de três a quatro por semana porque não tem médico”, ilustra Deucher, que entre domingo (28) e quarta-feira (3) dormiu apenas 12 horas, já que teve que cobrir o plantão de um colega que apresentou sintomas de Covid-19.
Fonte: Por Marcos Xavier Vicente, Gazeta do Povo/Tribuna do Paraná