Depois da autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2008, liberando a realização de pesquisas com células-tronco
embrionárias, o governo federal decidiu, em dezembro, financiar esse tipo de estudo. Quarenta e nove propostas foram escolhidas
no país e uma delas será realizada no Paraná. A parceria entre o Instituto Carlos Chagas (ICC) - ligado à Fundação Oswaldo
Cruz - e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) irá estudar o uso de células-tronco no resgate do ritmo cardíaco
do coração que sofreu enfarte, através de uma técnica inédita.
Na primeira quinzena de dezembro, os projetos foram selecionados pelo Ministério da Saúde para receber um investimento
total de R$ 10 milhões em pesquisas com células-tronco embrionárias e adultas, derivadas da medula óssea, do cordão umbilical
e de outros tecidos. O comitê responsável examinou 150 propostas.
De acordo com o professor de Medicina da PUC-PR e coordenador do Laboratório de Terapia Celular, Paulo Brofman, os estudos
escolhidos englobam áreas variadas em diferentes estágios de pesquisa: da básica, passando pela pré-clínica (que inclui o
estudo com animais), chegando à clínica. O projeto paranaense encarrega-se de estudar o uso de células-tronco adultas do cordão
umbilical e da medula óssea objetivando a recuperação da força do coração que sofreu enfarte. O financiamento recebido do
Ministério da Saúde será de R$ 500 mil por dois anos.
Com a utilização desse tipo de célula, Brofman explica que é possível resgatar o ritmo cardíaco de duas maneiras: "Pela
criação de novos vasos sanguíneos e pela transformação das células-tronco em tecido muscular cardíaco. As provenientes do
cordão umbilical tendem a formar a parede muscular, enquanto as da medula óssea tendem a originar novos vasos", diz. "A pretensão
é que, com a pesquisa, seja possível que ambas atuem das duas formas."
Quando o coração sofre enfarte, o paciente pode desenvolver insuficiência cardíaca. Cerca de 240 mil novos casos da doença
são registrados por ano no Brasil. E a forma atual mais eficaz para a cura é o transplante de coração. No entanto, apenas
200 procedimentos cirúrgicos desse porte ocorrem no país a cada ano. "A pesquisa vai trazer uma repercussão muito grande.
É uma técnica inédita que pode ser responsável pela melhoria de vida de muitas pessoas", afirma.
Mentalidade
O Ministério da Saúde pretende criar rede de pesquisas em células-tronco em todo o país. Por esse motivo, oito Centros
Regionais de Terapia Celular serão instalados para que os estudos estejam espalhados em território nacional. Um desses laboratórios
será construído no Paraná, com investimentos superiores a R$ 2 milhões. "Contando com recursos da Financiadora de Estudos
e Projetos (Finep), essa unidade servirá à pesquisa e à produção", diz o doutor em Biologia Molecular e pesquisador titular
do Instituto Carlos Chagas, Samuel Goldenberg.
O financiamento inédito de pesquisas com células-tronco e outros investimentos em tecnologia mostram a mudança da mentalidade
brasileira no tema ciência. A construção dessa rede é uma prova do novo conceito. "As verbas disponíveis para a pesquisa aumentaram
de alguns anos para cá. Elas ainda não são suficientes, mas é uma mudança de parâmetro", afirma Goldenberg. Para ele, iniciativas
dirigidas ao desenvolvimento de áreas e de pesquisas estratégicas para o país passaram a ser incentivadas. "Isso está ocorrendo
em paralelo com a pesquisa básica, que é o correto."
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