09/12/2007
Exame reprova 56% dos formandos de medicina de SP
Mais da metade dos alunos do sexto ano de medicina que participaram da avaliação feita pelo CRM SP (Conselho Regional de Medicina
de São Paulo) foi reprovada neste ano.
Com apenas 44% de aprovados entre os 833 que participaram do exame, o desempenho é pior do que o registrado no ano passado,
quando 62% dos 688 inscritos passaram. Em 2005, o índice de aprovação foi de 69% entre 998 estudantes.
O exame do conselho é voluntário, não tem caráter punitivo e a reprovação não impede o exercício da medicina.
Para o CRM, os resultados mostram que o ensino de medicina no Estado é deficiente e expõe a população a riscos. "A abertura
indiscriminada de cursos não foi acompanhada de qualidade. Faltam corpo docente e infra estrutura adequados", diz Henrique
Carlos Gonçalves, presidente do CRM.
A instituição defende a implantação de um exame de ordem. "O exame deveria ser até mais rigoroso que o da OAB", diz Braulio
Luna Filho, conselheiro do CRM e coordenador da prova de qualificação. "Se um bacharel em direito não for aprovado, ele não
irá trabalhar como advogado, mas poderá prestar concurso e atuar. No caso da medicina, deveria ficar fora da área, como nos
Estados Unidos", diz.
"Temos que cuidar da qualidade dos médicos que as escolas estão formando", concorda Roberto de Queiroz Padilha, diretor
do IEP (Instituto de Ensino e Pesquisa) do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Participaram do exame, realizado em duas etapas, em setembro e outubro, 833 de 2.200 alunos de 23 escolas do Estado. As
outras oito escolas não fizeram a prova por terem sido abertas há menos de seis anos.
A USP foi a mais bem colocada: 90,8 % dos 76 que fizeram a prova foram aprovados. Na outra ponta está a Universidade de
Marília, em que os dez inscritos no exame não passaram.
A primeira etapa, com 120 questões, abordava as áreas de pediatria, ortopedia, ginecologia, obstetrícia, cirurgia geral,
clínica médica, saúde pública, saúde mental, bioética e ciências básicas. Para passar à segunda fase, era preciso acertar
60%. Foi nessa etapa que ocorreu a reprovação de 56%.
Na segunda prova, todos foram aprovados.
O quadro é mais crítico nas áreas de ginecologia (média de acerto de 49,1%), clínica médica (50%) e pediatria (50,4%).
Em uma pergunta sobre diagnóstico e tratamento da asma, houve 13% de acerto. Em pediatria, só 32% acertaram um diagnóstico
de pneumonia.
Para Luna Filho, o resultado é preocupante porque, em geral, são as especialidades mais requisitadas nos prontos socorros,
onde a maioria dos recém formados vai trabalhar.
Para USP Ribeirão, resultado é positivo
Cursos conceituados na área, como o da Unicamp e o da USP de Ribeirão Preto, que tiveram índice de aprovação no exame
do Cremesp na faixa dos 50%, não consideram o resultado representativo ou preocupante.
"O percentual dos estudantes presentes é muito baixo para refletir o que é a medicina da Unicamp", diz Angélica Maria
Bicudo Zeferino, coordenadora do curso. "Não são todos os nossos alunos que são de excelência e, como o universo avaliado
é muito pequeno, somente nove pessoas, não podemos tomá lo como parâmetro."
O presidente da comissão da graduação da faculdade de medicina da USP Ribeirão, Luiz Ernesto de Almeida Troncon, considera
o resultado positivo. Segundo ele, o fato de a instituição ser a quarta mais bem colocada mostra o investimento feito na escola.
Com índice de aprovação de 85,7, a Unifesp teve 14 participantes. "O exame é punitivo, porque não permite que o estudante
repare os seus erros ao longo do curso", afirma Bruno Ferreira Funchal, coordenador geral do Centro Acadêmico Pereira Barreto,
da Unifesp.
"Sabemos quais são as escolas ruins, mas elas não são fechadas. Quem acaba sendo punido é sempre o estudante", afirma
Mauricio Braz Zanolli, coordenador da Associação Brasileira de Educação Médica de SP. Ele defende uma avaliação contínua.
Fonte: Folha de S.Paulo
Exame do Cremesp reprova 56% dos médicos
Mais da metade dos formandos que fizeram o exame do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) neste ano foi
reprovada. Segundo análise do conselho, isso significa que eles não têm os conhecimentos necessários para exercer a profissão,
mas se tornarão médicos mesmo assim. O exame é opcional e não impede os recém-formados de obter o registro de médico. Ao todo,
833 estudantes do último ano fizeram a prova e 56% não conseguiram acertar o mínimo, que era de 60% das questões (72 de 120).
O índice de reprovação é bem mais alto que os 38% registrados no ano passado e os 31%, no anterior, quando o exame começou
a ser aplicado.
Segundo o médico Bráulio Luna Filho, que coordenou o exame, a má-formação dos alunos se deve à abertura indiscriminada
de faculdades no Estado e está diretamente ligada ao aumento das denúncias contra médicos nos últimos anos. Para ele, a situação
pode ser ainda pior, pois, como a prova é opcional, a tendência é que seja feita só pelos melhores alunos.
Com exceção de Saúde Pública e Obstetrícia, houve queda nos acertos em todas as áreas do conhecimento médico exigido durante
a graduação. Os piores desempenhos neste ano foram em Ginecologia, Clínica Médica, Pediatria e Clínica Cirúrgica, nas quais
os estudantes acertaram em média metade das questões.
"Desde o primeiro exame detectamos deficiências na formação de emergência, o que é lamentável, pois a emergência é a porta
de entrada dos médicos mais jovens e também dos pacientes mais graves", diz Luna.
Boicote
Das 31 faculdades de Medicina no Estado, apenas 23 foram representadas no exame, pois as outras ainda não formaram a primeira
turma. Das que participaram, oito obtiveram mais de 50% de aprovação. Dessas, só uma é particular. De acordo com Henrique
Carlos Gonçalves, presidente do Cremesp, algumas faculdades boicotaram o exame e marcaram atividades obrigatórias no horário
da prova. Mesmo assim, isso não justificaria o péssimo resultado, pois o exame segue os parâmetros curriculares do Ministério
da Educação (MEC). "As provas são preparadas para alunos médios, não é difícil", afirma.
Uma boa medida da abstenção dos alunos neste ano foi a ausência da maioria dos formandos da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp). Dos 110 que se formaram, 14 fizeram a prova, o que pode ter contribuído para diminuir a média, já que a faculdade
normalmente tem notas altas. "Ainda assim, outras escolas participaram com grande número de alunos e tiveram resultados ruins",
diz Gonçalves.
Fonte: O Estado de S.Paulo