23/03/2009
Exame ajuda a identificar se dor no peito é cardíaca
Método é o primeiro a mostrar se dor é isquêmica até 24 horas após fim do sintoma.
Procedimento pode evitar que quadro evolua para infarto; outros exames perdem a eficácia de duas a três horas após a dor
acabar.
Um novo exame ajudará a identificar as causas de um dos sintomas que mais costumam assustar pacientes e médicos: a dor
no peito, que pode ser desencadeada tanto por um infarto quanto por uma simples azia. O método permite avaliar, até 24 horas
após o fim da dor, se sua origem é isquêmica -quando o músculo cardíaco entra em sofrimento devido à falta de irrigação sanguínea.
Com isso, pode evitar que o quadro evolua para um infarto.
Os exames atuais perdem a eficácia de duas a três horas depois que a dor acaba, mostrando-se inconclusivos ou normais,
o que gera o risco de que a pessoa infarto após ir para casa. O novo procedimento é feito com um aparelho de PET-CT, que une
recursos da medicina nuclear e da radiologia. É rotina recente nos EUA e chegou ao Brasil em dezembro de 2008, no laboratório
Fleury.
Segundo a cardiologista Paola Smanio, chefe da medicina nuclear do Instituto Dante Pazzanese e do laboratório Fleury,
novos estudos provam que, até 24 horas após a dor, as células que sofreram a isquemia permanecem com alterações metabólicas.
Esse conceito é chamado memória isquêmica. No exame, é injetado um marcador que detecta essas alterações. "Se as células estão
em sofrimento devido à isquemia, alimentam-se de glicose. O marcador identifica essa glicose, o que permite avaliar de forma
bem fiel se a dor que a pessoa teve é de origem cardiológica", explica Smanio.
"Determinar se uma dor no peito que começou
algum tempo antes de o paciente buscar ajuda é consequência de uma isquemia tem sido desafiador", escreveu o pesquisador Vasken
Dilsizian, autor de um artigo publicado em dezembro de 2008 no "Journal of Nuclear Medicine" sobre a memória isquêmica. Segundo
ele, nesse caso o exame físico costuma resultar normal e o eletrocardiograma, inalterado.
Smanio acrescenta que o eletro costuma dar resultado falso positivo em mulheres, já que as moléculas de estrogênio podem
simular uma isquemia. Por isso, o médico pode não dar importância a uma alteração e liberá-la inadvertidamente.
A cintilografia miocárdica, outro exame da medicina nuclear, também diagnostica a isquemia, mas perde a eficácia após
três horas do início da dor. Muitas vezes, a solução é internar o paciente para observação. Smanio diz que é comum haver demora
para buscar atendimento.
"Ficamos rendidos. Se liberamos o paciente, ele pode ter um infarto em casa. Se o internamos e ele não tem nada, um leito
é ocupado sem necessidade. É difícil distinguir a dor de origem cardíaca de outra causada por uma crise de ansiedade, por
exemplo", diz. Segundo um estudo recente, até 10% dos pacientes com dor torácica liberados por falta de alteração no eletro
evoluem para infarto.
Para José Soares Jr., presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, o exame tem potencial para se disseminar.
"É bem inovador. Com ele, o diagnóstico fica mais concreto. Acho que vai atrair os cardiologistas", diz. Ele ressalta que
o uso do PET-CT não é rotina na cardiologia. O método é indicado para pessoas mais propensas a doenças cardíacas, como fumantes
e obesos.
Fonte: O Estado de São Paulo