04/10/2007

Estudo traça perfil dos médicos dependentes químicos

Foram quatro anos de uso abusivo de um medicamento da classe dos opióides, com efeitos mais fortes do que a heroína. Duas overdoses e dois acidentes de carro depois, o fundo do poço chegou para o ex-ortopedista, R.R., de 32 anos, quando desmaiou em um pronto-socorro durante seu plantão. Há um ano longe do vício, a trajetória de R.R. faz parte de um levantamento realizado pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
A pesquisa traçou um perfil de 365 médicos dependentes de substâncias químicas atendidos pelo Uniad entre 2000 e 2005. Para os médicos acompanhados pelo serviço da Unifesp - todos residentes -, o álcool foi a droga mais apontada como responsável pelo início do problema de dependência. Em seguida aparecem a maconha, benzodiazepínicos e medicamentos opiáceos.
Uma vez instalada a dependência, esse quadro muda. Apesar de o álcool continuar na primeira posição, os medicamentos benzodiazepínicos (calmantes) e opiáceos passam a ser mais consumidos, o que sugere uma forte relação entre o consumo e a exposição ambiental.
Alguns fatores podem explicar esse padrão de consumo diferenciado com o tempo. Além do fácil acesso a medicamentos de uso controlado, esses profissionais podem ter a falsa idéia de que o conhecimento técnico sobre substâncias químicas garante o uso seguro. "Existe essa falsa impressão, o que é um mau uso da informação", diz o psiquiatra Hamer Nastasy Palhares Alves, autor da pesquisa.
Outra constatação do estudo, que confirma a hipótese da exposição ambiental, é o perfil do uso de drogas de acordo com a especialidade médica. Entre as chamadas especialidades clínicas (como clínica geral e pediatria) e cirúrgicas, o álcool é a droga mais consumida. Para os anestesistas e ortopedistas, no entanto, os medicamentos controlados, como calmantes e opiáceos, aparecem em primeiro lugar.

Tratamento começa mais cedo

São Paulo (AE) - Desde 2000, médicos dependentes químicos são atendidos por uma rede de psiquiatras no Estado de São Paulo. O serviço, coordenado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), recebe profissionais que demoram até 6 anos para procurar ajuda. Entre a população em geral, esse período é de 7 anos. "O conhecimento médico ajuda discretamente no reconhecimento do problema e na busca de auxílio", afirma o psiquiatra Hamer Nastasy Palhares Alves.
A pesquisa de Palhares não indica a prevalência do uso de drogas entre os médicos, mas ele acredita que seja similar ao resto da população. Ou seja, entre 4% e 8%. Para o álcool, o índice pode chegar a 11%, como confirma o coordenador da Uniad, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira. Para ele, médicos não são diferentes de outros profissionais e podem ficar doentes ou se tornar dependentes químicos como qualquer pessoa. "O que mais me preocupa nesses resultados são os que não recebem tratamento", diz.
Uma das causas da demora dos médicos em procurar ajuda é a própria estigmatização do vício. Para eles, essa "culpa" tende a ser ainda maior. "Muitas vezes, eles preferem até mesmo se tratar em outras cidades", afirma Henrique Carlos Gonçalves, presidente do Cremesp.
Antes da criação do programa, quando o conselho de medicina identificava um profissional com problemas, simplesmente suspendia seu registro e o impedia de trabalhar. "Hoje temos mais controle sobre essa situação", diz Gonçalves.
Fonte: Tribuna do Norte (RN)

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