05/05/2008
Escolas médicas: é preciso avaliar mais, e sempre
Dos 103 cursos de Medicina avaliados pelo Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), 17 serão supervisionados. Esse
número não significa que a maioria das 175 escolas médicas do País alcance qualificação mínima. Muitos cursos não foram avaliados,
como os 52 que ainda não formaram a primeira turma. O exame é apenas uma dimensão da avaliação do ensino. Também é preciso
avaliar a instituição, a estrutura do curso, as instalações e qualificação do corpo docente. Isto também está programado.
Com esses dados, será identificada uma enorme quantidade de insuficiências.
A causa do mau desempenho é a péssima qualidade das faculdades e não dos alunos. Apesar de o ensino médio brasileiro ser
reconhecidamente fraco, a concorrência nos vestibulares de Medicina é tão grande que acaba selecionando candidatos com potencial
satisfatório.
Não causa estranheza surgirem tantas faculdades públicas na lista dos reprovados. A degradação do ensino público tem ocorrido
paralelamente à mercantilização do ensino privado. Os professores são mal remunerados, a carreira não é atrativa, as instalações
estão degradadas e os laboratórios não tem equipamentos apropriados. Além disso, os hospitais do SUS constituem a arena de
aprendizado do estudante de Medicina. A deterioração da estrutura física e organizacional do sistema público de atendimento
afeta intensamente a formação do aluno de Medicina.
A distribuição desigual dos médicos entre as diferentes regiões do País e a concentração de escolas médicas não guardam
relação direta de causa e efeito. Nos Estados do Sul e Sudeste estão os candidatos com maior poder aquisitivo para enfrentar
o desafio das caríssimas mensalidades das faculdades particulares. Coincidentemente, nessas regiões existe oportunidade de
trabalho na Medicina privada. Dos 40 milhões de brasileiros que tem planos de saúde, a maioria vive nas grandes cidades da
região Sul e Sudeste. Os brasileiros da região Norte e Nordeste, particularmente aqueles que residem em cidades do interior,
são dependentes do serviço público e no SUS não há perspectiva de carreira para o médico.
* José Luiz Gomes do Amaral
Presidente da Associação Médica Brasileira