07/01/2018
Thadeu Brenny Filho
A edição semanal de 16 a 22 de dezembro último, do Jornal Gazeta do Povo, em sua página 5, apresenta, com o nome “SÍNTESES”, artigos opinativos para o leitor refletir.Traz, especificamente, o que chamaria de ponto e contraponto, com o seguinte título-debate: “O governo deve suspender a criação de novos cursos de Medicina?”.
O artigo intitulado “Escolas médicas demais, saúde de menos” é de autoria do Dr. Wilmar Mendonça Guimarães, presidente do CRM-PR, enquanto “Um retrocesso para a medicina” é da lavra de Janguiê Diniz, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior. De um lado, a exposição das mazelas de mais escolas de medicina e, de outro, a visão de retrocesso em suspender por cinco anos a criação de novas vagas para o curso de medicina, pois que isso não melhoraria a qualidade delas.
De pleno acordo no antagonismo uníssono dos artigos em lide.
Quando os li e refleti, tão logo quis manifestar opinião, mesmo sem terem me solicitado. Porém, nada melhor que ao tempo dê-se o necessário tempo. No primeiro fim de semana de 2018, no jornal Folha de São Paulo, o médico Dráuzio Varella faz mais um apontamento às reais necessidades de médicos no Brasil, a disparidade enorme de médicos demais em grandes centros e médicos sabe-se lá quem ou quantos ‑ e se é que tem ‑ nos mais infindáveis rincões da Terra Brasilis. Isto, por falta de um plano de carreira médica, o Médico do Estado, assim como do Judiciário, que encontra respaldo técnico e funcional em todos os lugares possíveis. E sob merecida recompensa mensal.
Fugindo dos comentários politizados e contenciosos, há de se fazer vista sim ao tipo de ensino médico que se está oferecendo nessas novas escolas de ensino. Sem professores com mestrado ou doutorado, sem hospitais-escolas e sem professores tutores empenhados no ensino com qualidade e presteza, pois não os há, por falta de estrutura. Boa vontade tenho visto desdobrarem, não com a real necessidade, mas com o possível de se fazer frente, e com a estrutura que sem tem, ao que foi imposto por esferas superiores e com finalidades a serem descobertas ano após ano. E os alunos, assustados e com medo de não se formarem, ou mesmo temerosos de retaliações, calam-se para estas falhas e omissões. Falhas estas que podem refletir no atendimento a seu pai, seu filho ou parente próximo, ou em nós que estamos lendo.
Qual o preparo desse profissional médico? Se nas escolas médicas públicas e algumas particulares, que já passaram pelo T-T (tempo/experiência/tradição), o professor no mínimo com mestrado para poder lecionar, o que se vê são médicos abnegados no ensino nesses novos estabelecimentos. E se o novo médico refina seu aprendizado na Residência Médica, esta não cresce na mesma proporção da necessidade dos novos formandos, que irão aprender a ser médicos na prática diária em postos de atendimento, unidades básicas de saúde ou em seus consultórios.
Não venho por bater nas mesmas teclas estatísticas, financeiras, impacto das novas escolas numa cidade de pouco mais de 200 mil habitantes etc, mas a preocupação com o ensino em si e da qualidade do aluno que sai. Hoje, a porta de entrada está escancarada; e se entrou, tem que sair. Temos que o formar! Como saiu, não se sabe e ouço dizer que os encontraremos nas barras de um Tribunal Cível e de Ética?!
Encontrei-me com antigo e estimado colega com sua família, na praia, e ele me faz uma constatação interessante ao apresentá-la. Como a família, com a maior densidade demográfica de profissionais mestres-doutores em Física, eram em 5! Comenta-me ele que o vestibular para Física é até fácil, tem vagas demais e interessados de menos. E menos ainda os que no curso conseguem se manter e muito poucos os que recebem o diploma de físico. Simples, não? O próprio curso, interesse e vocação já os qualifica – ou ou desclassifica. A porta de saída é estrangulante e, do curso, bacharel ou doutor em Física só se formam os melhores.
E da Medicina? Todos entram, todos saem.
Entrar numa nova escola para se formar alunos em Medicina, hoje, é como estar num shopping às vésperas do Natal: muita gente para comprar, poucas pessoas para atender às necessidades dos consumidores. Daí, se é levado a comprar gato por lebre; não há o que se falar em qualidade de nada.
E a história se repete...
Thadeu Brenny Filho é conselheiro do CRM-PR,
coordenador da Câmara Técnica de Urologia e professor convidado da Faculdade de Medicina da UFPR.