Medida está prevista em lei sancionada nesta segunda-feira (29); registros devem ser feitos por clínicas e hospitais públicos
e privados às autoridades de saúde
O presidente Jair Bolsonaro sancionou nesta segunda-feira (29) uma lei que prevê que hospitais e escolas passem a notificar
casos de tentativa de suicídio e automutilação. Os registros devem ser feitos por clínicas e hospitais públicos e privados
às autoridades de saúde. Já as escolas devem notificar os casos ao Conselho Tutelar. A comunicação deve ser feita em sigilo.
O texto prevê ainda a criação de uma política nacional de prevenção ao suicídio e que haja um serviço telefônico para
atendimento a pessoas em situação de sofrimento psicológico. A medida, que já havia sido aprovada no Congresso em março, foi
publicada no Diário Oficial desta segunda. A proposta é autoria do deputado federal e atual ministro da Cidadania, Osmar Terra.
A notificação de casos de violência autoprovocada já era prevista em portaria do Ministério da Saúde desde 2014. Agora,
vira lei e passa a incluir o acompanhamento por escolas e Conselho Tutelar, segundo o governo. Inicialmente, o projeto previa
a possibilidade de aplicar sanções em caso de não cumprimento da legislação. O trecho, que previa caracterizar a situação
como "infração sanitária", foi vetado após ter sido qualificado como genérico e com pouca aplicação às escolas.
Questionado,
o Ministério da Família e Direitos Humanos, à frente da proposta, informa que pretende discutir a possibilidade de sanções
à falta de notificação durante a regulamentação do tema.
Desde o início deste ano, o tema tem sido elencado como
uma das bandeiras de gestão da atual ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. Em palestras, Damares,
que é pastora, disse que pensou em suicídio após ser vítima de um abuso sexual, mas desistiu ao ver a imagem de Jesus. Além
da nova política, a pasta estuda uma parceria para oferta de uma disciplina de "inteligência emocional" em universidades particulares
como forma de prevenir casos de suicídio e automutilação.
A discussão é feita entre o ministério e a Anup (Associação
de Universidades Particulares), entidade que abrange 189 instituições privadas -setor que concentra 75% dos estudantes de
graduação. A previsão é que a disciplina, com carga horária de 80 horas, seja obrigatória para alguns cursos. A definição
de quais
caberia aos reitores.
A proposta, porém, tem sido alvo de críticas por especialistas, para os quais a definição
de uma "inteligência emocional" é inadequada. Outros apontam risco de tratar a questão do suicídio de forma reducionista.
Já a pasta defende a medida. O Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio em 2016, segundo os dados mais recentes do Ministério
da Saúde. Não há informações sobre casos entre universitários.
No ano passado, a USP criou um escritório de saúde mental após registro de casos. Uma pesquisa de 2009 com 140 estudantes
da pós-graduação da UFRJ concluiu que 58,6% dos pesquisadores apresentavam níveis médio e alto de estresse.
Fonte:
Folha de S. Paulo