06/09/2006
Escolas Médicas: quem dá mais?
"Vivendo neste mundo de sofrimento, devemos ser, para este mundo, os profissionais da esperança." (A. M. Carré)
Nestes primeiros meses do ano, uma movimentação política está agitando várias cidades no sentido da criação de novos cursos
de medicina. Ocorre que, ser dono de uma escola médica particular em nosso país tornou-se um negócio extremamente lucrativo.
As mensalidades desses cursos giram em torno de 4 mil reais. O saudoso senador Darcy Ribeiro estava certo quando disse: "O
Brasil é o único país do mundo, que permite ao sujeito criar uma escola - como uma padaria ou açougue - para ganhar dinheiro.".
Como se não bastasse o Brasil ter alcançado o topo na liderança mundial com 157 cursos de medicina deixando para traz
a China com 150, a Índia com 140 e os EUA com 125, comenta-se que, no Paraná, a UFPR deverá criar, em campi avançado, dois
cursos de medicina: um em Paranaguá e outro em Palotina ou Toledo. Outros cursos estão programados para serem criados em
São José dos Pinhais, Ponta Grossa (reabertura do que foi fechado pelo governador Requião), Umuarama, Guarapuava, Apucarana,
Pato Branco, Londrina e Arapongas.
No Estado de São Paulo, as projeções estão focadas em escolas médicas para Adamantina, Franca, Barretos, Jaú, Guarulhos
(2 cursos), Osasco, Bauru, Piracicaba, Limeira, Araras, Diadema, Guarujá, São José dos Campos, Araçatuba, Ourinhos, Assis,
Itapetininga; Campinas (2 novos cursos). O Centro Universitário São Camilo, a UNIP e Anhembi estão próximos de criar seus
cursos de medicina.
Já no Rio de Janeiro, a Universidade Severino Sombra vai criar um campus avançado com curso de medicina no município de
Porto Real, e em Minas Gerais articula-se a criação de uma escola médica na Ufop, em Ouro Preto e outro em Itaúna. Recentemente,
Fidel Castro e Hugo Chaves declararam que pretendem formar 100.000 médicos nos próximos 10 anos.
Sem um exame prévio para aferir conhecimentos aprendidos nas escolas médicas brasileiras e em outros países como Bolívia,
Cuba, Venezuela e Argentina, onde milhares de brasileiros cursam medicina, este verdadeiro "festival de escolas médicas" é
extremamente preocupativo.
O resultado disso, com certeza, será a banalização da medicina como profissão. É como disse, certa vez, o ex.governador
da Bahia, Nilo Coelho, numa demonstração de desprezo à classe médica baiana que o pressionava por melhores salários, em frente
ao palácio do governo "para mim, médico é como sal, branco, barato e eu encontro em qualquer lugar". Lamentavelmente, esse
dia parece estar próximo.
Dr. Antonio Celso Nunes Nassif, 72, médico, professor aposentado da UFPR, ex-presidente da Associação Médica Brasileira
(acnnassif@netpar.com.br)