26/03/2010
Entidades médicas e CNBB defendem cuidados com pacientes terminais
Propostas em tramitação na Câmara permitem ao paciente terminal optar pelo fim dos procedimentos médicos que o mantém vivo
artificialmente.
Representantes de entidades médicas e religiosas voltaram a defender na Câmara a regulamentação do atendimento a pacientes
terminais no Brasil e, consequentemente, da ortotanásia. O termo é utilizado pelos médicos para definir a morte natural, digna
e sem sofrimento, sem a interferência da ciência. Dessa forma, evita-se o prolongamento artificial da vida por meio de medicamentos
e aparelhos.
A Comissão de Seguridade Social analisa três projetos (PLs 3002/08, 6544/09 e 6715/09) sobre o assunto. As propostas foram
um dos itens abordados no seminário "Anencefalia e Eutanásia", promovido nesta quinta-feira pela Comissão de Legislação Participativa,
a pedido do deputado Dr. Talmir (PV-SP). O assunto já havia sido discutido em audiências realizadas em 2009, também a pedido
do parlamentar.
Suspensão de procedimentos
No seminário, o promotor de Justiça Diaulas Ribeiro, que representou o Conselho Federal de Medicina (CFM), manifestou
opinião favorável ao PL 6715/09, do Senado, que permite ao doente terminal optar pelo fim dos procedimentos médicos que o
mantêm vivo artificialmente. Com isso, o médico que atender ao pedido de interrupção do tratamento não poderá ser processado
por homicídio doloso.
Segundo Diaulas, o projeto evoca a resolução do CFM, atualmente suspensa pela Justiça Federal, que autoriza o médico a
não empreender esforço terapêutico apenas para manter o paciente vivo. "A interrupção [do tratamento] é algo absolutamente
defendido. Para o conselho federal, o paciente terminal tem direito a toda assistência humanizada", afirmou Diaulas.
Ele ressaltou ainda que o "tratamento fútil" onera a saúde pública, ocupando leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
com doentes que deveriam ser atendidos em unidades de tratamento paliativo.
O diretor de Comunicação da Associação Médica Brasileira (AMB), Elias Fernando Miziara, também defendeu a ortotanásia
e a atenção ao paciente terminal para garantir sua qualidade de vida, ainda que portador de enfermidade. "Defendemos a qualidade,
não a quantidade de vida", afirmou.
Especialidade
A prestação adequada de cuidados paliativos, no entanto, esbarra na falta de profissionais especializados no Brasil. Na
opinião do oncologista e mastologista Cícero Urban, que representou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o
médico hoje é mais um técnico do que um profissional formado para lidar com o paciente.
Ele classificou a ortotanásia como uma "convergência" de opiniões sobre o assunto e disse que na Europa ou nos Estados
Unidos já não se discute mais o termo.
A AMB já discute a criação de uma especialidade chamada "paliativismo" e pode resolver o assunto ainda neste ano. Médicos
formados poderiam se especializar na área por meio de residência médica.
Texto único
Em relação aos projetos que tramitam na Câmara, o deputado Dr. Talmir informou que já conversou com o relator, deputado
José Linhares (PP-CE), e sugeriu a reunião dos textos em uma única proposta, eliminando termos como ortotanásia.
"O que precisa é atender as necessidades básicas do ser humano de água, comida, oxigênio e de um local de acolhimento,
se UTI ou se centro de cuidados paliativos", disse o parlamentar. O seminário continua à tarde com debates sobre anencefalia.
Fonte: Agência Câmara