30/04/2008
Entidades médicas defendem o veto à ampliação de vagas
A fiscalização mais intensa do MEC nos cursos de medicina atende a uma antiga reivindicação de entidades médicas, que defendem
uma medida ainda mais radical: o veto à ampliação de vagas na área.
Defendida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB), por exemplo, a tese é que
há médicos suficientes no Brasil -ou até em excesso.
As entidades ligam a expansão do número de cursos, iniciada há cerca de dez anos, à queda na qualidade no ensino, apontada
pelos dados do MEC.
"Os dados mostram que não precisamos de mais vagas. Além disso, se mantida a lógica dos últimos anos, aumentaremos o número
de médicos mal preparados", disse o presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), Henrique Carlos Gonçalves.
Um dos trabalhos sobre o número de médicos no país, assinado pelo CFM e pela AMB, destaca que a Organização Mundial da
Saúde estabelece como adequada a proporção de um médico para cada mil habitantes. No país, a proporção era de 1 médico para
cada 622 habitantes em 2005.
O trabalho, chamado "Abertura de Escolas de Medicina no Brasil - Relatório de um Cenário Sombrio", foi encaminhado ao
Ministério da Educação para pedir maior controle no setor.
"O excedente de mão-de-obra, ao fazer prevalecer a lei da oferta e da procura, traz reflexos danosos à política salarial
aplicada à classe médica, bem como aos honorários médicos", aponta o relatório.
O relatório também aponta desigualdade na distribuição dos médicos no país. No Rio de Janeiro, proporcionalmente, havia
três vezes mais médicos do que no Maranhão.
"Precisamos é criar condições para que os médicos sejam atraídos para os locais deficitários", disse Gonçalves.
A pesquisadora Sônia Miriam Draibe, da Unicamp, discorda da tese. "Entendo que seja necessário formar mais médicos. As
filas no SUS e a última crise no Rio [ocasionada pela dengue] mostram isso. Mas é claro que os cursos precisam ter qualidade."
Fonte: Folha de São Paulo