Brasília - A falta de médicos no Sistema Único de Saúde (SUS) está ligada à ausência de uma carreira única e estável e
à carência de especialistas na rede pública. A opinião é do presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Francisco Batista,
ao comentar o resultado da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que avaliou a percepção do brasileiro
sobre os serviços do SUS.
A pesquisa divulgada hoje (9) constatou que quase a metade dos entrevistados (46,9%) reclamou da falta de médicos na rede
pública de saúde, 37,3% apontaram o número reduzido de especialistas e 33% falaram da necessidade de mais médicos nos serviços
de urgência e emergência.
Segundo o presidente do CNS, o atendimento especializado passou, na última década, a ser ofertado, em sua maioria, por
meio de clínicas particulares conveniadas ao SUS e pelos planos de saúde, fazendo com que o maior número de profissionais
se concentrasse na iniciativa privada. Além disso, de acordo com Francisco Batista, a falta de uma carreira única e a instabilidade
profissional diminui os atrativos para o trabalho na rede pública.
"Apesar de várias secretarias oferecerem altos salários, os médicos não querem ir. A falta de estabilidade é mortal para
o SUS. É mais cômodo e interessante trabalhar na rede privada", disse Batista.
O Ministério da Saúde informou que, desde 2009, oferece bolsas de residência médica para áreas consideradas prioritárias
dentro do SUS, onde há carência de especialistas. Outras medidas citadas pela pasta são a implantação de núcleos de tele-saúde
e o abate de dívidas de estudantes da área médica, beneficiados pelo Fies, que prestarem atendimento em áreas com poucos profissionais.
Em março, um seminário deverá discutir estratégias para solucionar a carência de profissionais de saúde e especialistas no
SUS.
Em setembro do ano passado, o ministério instituiu um grupo para estudar um plano de carreira nacional dentro do SUS,
com o objetivo de estimular a ida dos profissionais às cidades do interior e periferias das grandes capitais.
A pesquisa do Ipea mostra também que grande parte dos entrevistados cobra redução no tempo de espera por atendimento nos
postos de saúde e para marcar uma consulta na rede pública. Para Batista, o problema poderia ser amenizado se o atendimento
no SUS deixasse de ser centrado na figura do médico. "Já passou da hora de a população ser atendida por outro profissional
sem ser o médico, como enfermeiro, psicólogo e fonoaudiólogo", afirmou.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) também comentou, por meio de nota, os dados da pesquisa do Ipea. Para a entidade,
o subfinanciamento do sistema de saúde e a falta de uma carreira médica estão na origem dos problemas do SUS. "Para o CFM,
as principais queixas decorrem do crônico subfinanciamento que assola a saúde pública do país e da necessidade de modernização
dos instrumentos de gestão. É fundamental a adoção de políticas efetivas de valorização dos profissionais da saúde e de investimentos
em infraestrutura na rede de atendimento, entre outros pontos", diz a nota.
Criado em 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS), previsto na Constituição Federal, é formado por uma rede de serviços médicos
e hospitalares, que inclui consulta médica, cirurgia e distribuição de remédios. Qualquer brasileiro pode usar os serviços
do SUS gratuitamente.
A União, os estados e municípios são responsáveis pela gestão do sistema. Historicamente, o governo federal financia metade
dos recursos da saúde pública no país e a outra metade fica a cargo dos estados e municípios. A União formula as políticas
de ações, que devem ser implantadas pelos demais entes federativos e a sociedade civil organizada. O governo estadual organiza
o atendimento no estado. O município é o principal responsável para entrada dos usuários na rede pública de saúde.
Fonte:
href="http://agenciabrasil.ebc.com.br/home/-/journal_content/56/19523/3185401" target="_blank">Agência Brasil