31/07/2009
Enfrentando a gripe: prevenção solidária
O novo vírus influenza H1N1 causador da pandemia de 2009 é a quarta geração descendente do vírus de 1918. Reconhecer que
após 91 anos do evento da influenza estamos novamente vivendo uma pandemia é desanimador.
A atual pandemia está sendo
acompanhada sem precedentes pelo mundo: os números, a disseminação e os casos fatais certamente deixam a comunidade da área
da saúde e a sociedade em geral apreensiva. Este momento nos leva a uma reflexão sobre o sistema de saúde, sobre a necessidade
de mudanças de hábitos e de educação sanitária. Com relação ao sistema de saúde que já trabalha no limite de sua capacidade
ou acima dele, temos que repensar quanto tem sido investido na área de saúde nas esferas federal, estadual e municipal. Também
é importante lembrar que enquanto ocorre a pandemia, outras enfermidades também estão acontecendo; ou seja, a estrutura
disponível está sobrecarregada.
A boa notícia é que se sabe que pandemias sucessivas parecem reduzir sua severidade com
passar do tempo. Esta redução é consequência, em parte, do avanço da medicina e da saúde pública, mas também pode ser efeito
da própria evolução viral, a qual busca uma ótima transmissibilidade com mínima patogenicidade, pois o vírus que mata seus
hospedeiros ou leva-os ao leito não possui transmissão ótima.
Na era da medicina baseada em evidências e da informação acessível, o desafio de uma doença infectocontagiosa de rápida
evolução, associado ao dilema da não disponibilidade da confirmação diagnóstica em tempo hábil, angustia profundamente tanto
médicos como pacientes, pois restam apenas critérios clínicos acrescidos de dados epidemiológicos para o diagnóstico e o tratamento
específico. Portanto, nossa principal arma é a prevenção.
A mudança de hábito é fundamental para o enfrentamento desta pandemia. Temos de prevenir a transmissão dessa gripe e de
outras infecções respiratórias através da higiene frequente das mãos, do uso de máscaras, da limpeza e da ventilação dos ambientes,
de hábitos de proteção da tosse para evitar a dispersão de gotículas respiratórias, do uso de lenços descartáveis e da higiene
das mãos após tosse e espirros. A pessoa infectada deve seguir rigorosamente a orientação de isolamento domiciliar e utilizar
máscara a fim de evitar a transmissão, no seu domicílio. Deve, ainda, intensificar a higiene com uso de álcool a 70%. A
transmissão deste vírus ocorre por contato direto e próximo (menos de 1 metro) com o infectado ou através de superfícies
contaminadas. Cada pessoa pode e deve fazer a sua parte para o controle desta pandemia, este não é um problema apenas das
autoridades de saúde, mas da comunidade em geral.
Nas escolas, assim como nos locais de trabalho, deve-se atuar mais firmemente na incorporação de hábitos de higiene básicos.
A educação sanitária deve ser matéria incluída em todas as escolas, para ensinarmos nossos alunos a técnica correta de higiene
das mãos e as situações em que esta higiene é necessária. Também é importante que os estudantes recebam conhecimentos básicos
sobre a transmissão das doenças e que saibam como preveni-las. Dessa forma, nossa sociedade estará mais preparada para enfrentar
situações como esta.
Neste momento precisamos manter a tranquilidade, o bom-senso e a cautela. Isso sem esquecer que algumas medidas mais drásticas
de distanciamento social são necessárias, como já estão ocorrendo com as escolas e universidades, pois para controlar uma
pandemia segundo conceitos de epidemiologia é preciso fazer tudo na medida correta, no tempo correto e da forma correta.
Heloisa Ihle Garcia Giamberardino, pediatra especialista em Epidemiologia e Controle de Infecção, é coordenadora
do Serviço de Epidemiologia e Controle de Infecção do Hospital Pequeno Príncipe.