No Brasil, a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito. Os desastres
nas ruas e estradas do País também já deixaram mais de 1,6 milhão de feridos nos últimos dez anos. No Paraná, foram aproximadamente
28 mil mortes entre 2009 e 2018, o terceiro maior número em valores absolutos em todo o País, atrás apenas de São Paulo (63
mil) e Minas Gerais (36 mil).
Para o coordenador da Câmara Técnica de Medicina de Tráfego do CFM, José Fernando
Vinagre, os números mostram que os acidentes de trânsito constituem um grave problema de saúde pública e que provoca sobrecarga
nos serviços de assistência, em especial nos prontos-socorros e nas alas de internação dos hospitais. “É preciso reconhecer
o importante aprimoramento da legislação ao longo dos anos e também o aumento na fiscalização, especialmente após a Lei Seca.
No entanto, precisamos avançar nas estratégias para tornar o trânsito brasileiro mais seguro”, destacou.
Segundo
a análise do CFM, a cada hora, em média, cerca de 20 pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento
grave decorrente de acidente de transporte terrestre. Ao avaliar o volume total de vítimas graves do tráfego nos últimos dez
anos (1.636.878), é possível verificar que 60% desses casos envolveram vítimas com idade entre 15 e 39 anos, sendo menor a
frequência nas faixas etárias que vão de zero a 14 anos (8,2%) e em maiores de 60 anos (8,4%). Outra constatação: quase 80%
das vítimas eram do sexo masculino.
Mais vítimas
Entre 2009 e 2018, houve um crescimento
de 33% na quantidade de internações em todo o País. O pior cenário, proporcionalmente, foi identificado no estado de Tocantins,
que saiu das 60 internações, em 2009, para 1.348, no ano passado (aumento de 2.147%). Na sequência aparece Pernambuco, onde
o salto foi de 725% na última década. Apenas cinco estados registraram queda no número de internações por acidente de transporte:
Maranhão (redução de 40%), Rio Grande do Sul (22%), Paraíba (20%), Distrito Federal (16%) e Rio de Janeiro (2%).
CONFIRA AQUI A QUANTIDADE DE INTERNAÇÕES POR ESTADO.Em números absolutos, 43% do volume total
de internações registradas no SUS no período ficou concentrado em estados do Sudeste, região que reúne também metade da frota
de veículos automotores do País. Outros 28% dos casos graves ficaram no Nordeste e o restante ficou diluído entre o Sul (12%),
Centro-Oeste (9%) e Norte (7%).
Para a presidente da CFM, Carlos Vital, a solução para reduzir os acidentes depende
de uma série de fatores de prevenção, reforço na fiscalização e sinalização, além de questões de infraestrutura e aprimoramento
dos itens de segurança dos veículos. “Neste contexto, os médicos desempenham papel fundamental nas discussões sobre direção
veicular segura. O impacto desses acidentes nos serviços de saúde é alto. Leitos são ocupados, hospitais e médicos se dividem
no atendimento entre os acidentados e os que procuram assistência médica para patologias que não poderiam prevenir, diferentemente
dos acidentes de trânsito, que podem ser reduzidos e prevenidos”, destacou.
Sobrecarga para o SUS
Se por um lado as tragédias no trânsito trazem dor e sofrimentos aos pacientes e seus familiares, por outros elas
também estendem suas consequências para o bolso dos brasileiros. Na última década, as internações hospitalares decorrentes
de acidentes de trânsito consumiram cerca de R$ 2,9 bilhões do SUS, em valores atualizados pela inflação do período.
CONFIRA AQUI AS DESPESAS COM INTERNAÇÕES POR ESTADO.Antonio Meira Júnior, diretor
da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e membro da Câmara Técnica do CFM, lembra que os custos com os acidentes
de trânsito vão além das hospitalizações. “Estamos falando de um custo médio de aproximadamente R$ 290 milhões ao ano, que
obviamente foi investido para salvar vidas, o que é justificável. Se conseguíssemos diminuir o número de vítimas do trânsito,
no entanto, teríamos um impacto muito grande também nas contas públicas. São recursos que poderiam ser direcionados para outras
áreas prioritárias da assistência em saúde no País”, pontua.
Estimativas conservadoras, segundo ele, calculam em
cerca de R$ 50 bilhões ao ano os gastos com os acidentes, incluindo atendimento médico-hospitalar, seguros de veículos, danos
a infraestruturas, perda ou roubo de cargas, entre outras despesas. “É preciso lembrar que existem outros custos envolvidos
neste contexto, como o do absenteísmo por doença (falta do trabalhar por atestado ou licença-saúde), com auxílios doença e
tudo o mais que o País tenha investido no indivíduo que veio a óbito ou que ficou inválido em idade produtiva. Mais grave
do que toda essa matemática, porém, são as sequelas físicas e emocionais – muitas vezes irreversíveis – que cada um destes
acidentes deixa na vida das pessoas”.
Mortalidade em queda
Segundo o levantamento
do CFM, que considerou ainda dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, só em 2016 (ano
mais recente disponível), foram registrados 37.345 óbitos decorrentes de acidentes de transportes terrestres. Embora a quantidade
seja a menor registrada no período analisado (2007 a 2016), o número de mortes tem avançado em alguns estados, sobretudo das
regiões Nordeste e Norte do País.
CONFIRA AQUI A QUANTIDADE DE ÓBITOS POR ESTADO.Na região Norte,
a mortalidade por acidentes subiu 30%. Da mesma forma, no Nordeste houve um crescimento de 28% dos casos. No Centro-Oeste
também houve aumento do indicador (7%), enquanto nas regiões Sul e Sudeste apresentaram menor quantidade de óbitos em 2016,
frente à 2007, com queda de 15% e 18%, respectivamente.
Embora os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná liderem
o ranking nacional em números absolutos de mortes no trânsito durante os últimos dez anos, o Piauí foi a federação que apresentou
o maior crescimento proporcional no período: 56%. Em 2007, 670 óbitos haviam sido registrados naquele estado, número que saltou
para 1.047 dez anos depois. Na mesma proporção, de 56%, cresceram os registros vítimas fatais no Maranhão no período. Ao todo,
16 estados notificaram aumento desse tipo de agravo.
De outro lado, o estado mais populoso do País informou queda
na quantidade de óbitos desta natureza. Em 2016 foram 5.740 mortes, 24% a menos que o indicado em 2007 (7.550). No quadro
nacional, também figuraram com redução significativa de casos fatais no período os estados de Santa Catarina e Roraima, ambos
com queda de 23%; Distrito Federal (22%); e Espírito Santo (20%).
Fonte: CFM