18/08/2006
Nas últimas semanas vimos na mídia vários ataques à revisão científica sobre
maconha e saúde mental feita pelo Departamento de Dependência Química da ABP. A crítica veio de
uma nova associação que a princípio reúne profissionais que abertamente defendem a legalização
da maconha e outras drogas e tem como presidente o Dr. Dartiu Xavier da Silveira.
Vale a pena defendermos o que o Departamento
de DQ fez. Alguns aspectos dessa revisão merecem destaque:
1 - A revisão científica tentou evitar
o tema da legalização da maconha. Tivemos como principio da nossa revisão que ficaríamos restritos
ao impacto do uso da maconha na saúde mental. Achamos que muito das informações são perdidas quando
ficamos num clima ideológico das pessoas pró e contra a legalização. O foco da ABP deveria ser
o do impacto na saúde mental, como fazemos com as consequencias do álcool e mesmo do cigarro. Avaliamos que
faltava para o profissional de saúde mental no Brasil esse tipo de informação.
2 - Como a intenção
era fazer uma revisão científica com qualidade, convidamos mais de 20 profissionais de vários estados
do Brasil, além de inúmeras faculdades e federadas da ABP. Os organizadores tiveram o cuidado de escolher os
profissionais com maior experiência nas várias áreas afetadas pelo uso crônico da maconha, psiquiatras
(especialistas em DQ, em crianças e adolescentes, em esquizofrenia, psicofarmacologia, epidemiologia das doenças
mentais, neuroimagem, etc) , pediatras, psicólogos ( especialistas em tratamento, neuropsicologia, adolescentes, etc).
3 - Esses colegas tiveram autonomia completa para pesquisar e desenvolver o seu trabalho. A única recomendação
é que buscassem informações baseadas em evidências científicas e que ao escrever pensassem
no psiquiatra geral e como esse profissional poderia beneficiar-se dessas informações. Buscamos responder informações
básicas, que estão disponíveis no nosso site (www.abpbrasil.org.br). Qem olhar com isenção
para os temas e autores verá a qualidade do trabalho e que mantivemos o foco no tema sobre saúde mental e que
fugimos de qualquer conotação ideológica : Revisão Científica - MACONHA E SAÚDE
MENTAL - LISTA DE AUTORES - Departamento de Dependência Química da ABP
Epidemiologia do uso da maconha no
Brasil - José Carlos Galduroz (UNIFESP) e João Carlos Dias (ABP - RJ)
Tendências de uso da maconha
no mundo - Marcelo Ribeiro Araújo (UNIFESP)
Evidências da Síndrome de Dependência da Maconha
- Ronaldo Laranjeira (UNIFESP) - Analice Giglioti (Santa Casa - RJ)
Evidências da síndrome de abstinência
da maconha - Ana Cecília Marques (UNIFESP) e Tadeu Lemos (UFSC)
Maconha e adolescencia - Claudia M. Szobot (UFRGS),
Luis Augusto Rohde (UFRGS)
Impacto do uso da maconha da vida acadêmica de adolescentes - Sergio de Paula Ramos (Hospital
Mãe de Deus - RS) Lisandra Soldati Fração
O sistema canabideóide - José Alexandre Crippa
(USP-RP) Fabrício Moreira (USP-RP)
A ação da maconha no cérebro -Acioly Luiz Tavares de Lacerda
(UNICAMP), José Alexandre de Souza Crippa (USP-RP), Rodrigo Affonseca Bressan (UNIFESP)
Neuropsicologia do uso
crônico da maconha - Paulo Cunha (USP)
Existe uma psicose específica relacionada ao uso da maconha - Valentim
Gentil (USP)
Uso da maconha e as doenças psiquiátricas - Evidências epidemiológicas - Paulo
Rossi (USP) - Lílian Rato (Santa Casa - SP)
Uso de maconha e Depressão - Lisia von Diemen (UFRGS), Flavio
Pechansky (UFRGS) e Felix Henrique Paim Kessler (UFRGS)
Uso da maconha e Esquizofrenia - Rodrigo Bressan (UNIFESP)
Uso
de maconha e ansiedade - José Alexandre Crippa (USP-RP) Antonio Waldo Zuardi (USP-RP)
Uso de maconha e TDAH - Marcos
Romano (UNIFESP)
Genética e uso de maconha - Homero Vallada (USP) Quirino Cordeiro (USP)
Tratamento psicológico
do uso da maconha - Flávia Jungerman (UNIFESP)
Tratamento farmacológico do uso da maconha - Alessandra Dihel
e Ronaldo Laranjeira (UNIFESP)
Uso de maconha e gravidez - Ruth Guinsburg (UNIFESP) Marina Carvalho de Moraes Barros (UNIFESP),
Sandro Mitushiro (Hospital Servidor Municipal SP)
Dirigir e uso de Maconha - Ilana Pinsky (UNIFESP) e Marco Bessa (CRM-PR)
4 - Após a produção desses capítulos todos esses colegas apresentaram para um audiência
de mais de 200 psiquiatras, na reunião do Departamento de DQ no nosso últimos congresso em Belo Horizonte. Foi
uma das melhores reuniões já produzidas pelo Departamento de DQ. Durante toda a manhã um número
excelente de colegas ouviram as apresentações, comentaram, criticaram, sugeriram, tudo num clima de extremo
respeito, pela qualidade das apresentações e pelo clima de que todos estávamos ali aprendendo sobre um
assunto que interessa a todos os profissionais de saúde mental. A aprovação dos textos e da revisão
ocorreu tranqüilamente pois os textos eram o retrato do que a ciência tinha e tem a oferecer sobre esse assunto.
Diferente dos ataques rasteiros feitos por essa nova associação que representam o velho discurso da legalização
das drogas, não houve nenhuma intenção em: 1- defender a proibição da maconha; 2 - fazer
a "pedagogia do terror" explorando os lados negativos da maconha; e 3 - muito menos mostrarmos oposição ao eventual
uso terapêutico da maconha. Cremos que fizemos o que uma Associação Brasileira de Psiquiatria com responsabilidade
social deva fazer, ou seja compilar cientificamente as melhores informações disponíveis e mostrar aos
nossos associados e ao público em geral quais os riscos que se expõem as pessoas que consomem cronicamente maconha,
em especial os riscos que os adolescentes ficam expostos.
Essa nova associação começou mal. Atacou
a ABP de uma forma desleal e vil. Ao invés de participar dos nossos debates e expor as suas eventuais discordâncias,
levou para a mídia uma falsa idéia que os psiquiatras são companheiros do retrocesso e da parcialidade
científica. Usaram a ABP para promoverem a sua própria associação que começa com o pé
esquerdo. A opinião pública saberá distinguir os aventureiros inflados pelos minutos de fama na mídia
dos pesquisadores interessados na saúde mental da nossa população.
Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira
- Coordenador do Departamento de Dependência Química da ABP