27/09/2010

Educação e Saúde: o que queremos do novo presidente

Estamos às vésperas da eleição. Mais alguns dias, teremos definido quem serão nossos representantes na Câmara dos Deputados, no Senado e nas assembléias legislativas. O mesmo acontecerá em relação a governadores e à Presidência da República.
Hoje, candidatos de todas as matizes aparecem na propaganda gratuita com uma série de garantias, mas é certo que se um centésimo das promessas fossem, de fato, cumpridas, já teríamos um Brasil de primeiro mundo.

Precisamos ter claro o que exigiremos do novo(a) presidente em áreas sociais, como a educação e a saúde. Somente assim será mais fácil cobrar, fiscalizar e nos mobilizar pela consolidação de nossos anseios.

Na educação, é mister uma reforma profunda no modelo de ensino superior. É inadiável, por exemplo, frear a criação indiscriminada de faculdades de medicina. Simultaneamente, o governo deve fazer rigorosa fiscalização nas que estão em funcionamento, fechando as que não oferecem formação adequada.

Também precisamos analisar de forma crítica o ProUni, impedindo que se perpetuem escolas ruins em detrimento do aprendizado. Outra prioridade é o estabelecimento do critério adequado de cotas, para evitar as distorções existentes hoje. Não podemos deixar de considerar, ainda, o ENEM, que é uma proposta bastante importante, mas que tornou-se caótica em vista da incompetência administrativa.

O curso médico deve ter como sua principal vertente formar médicos com ensino baseado na comunidade. Para tanto, faz-se imperioso que a academia seja consultada para elaboração de currículos de qualidade. Não podemos admitir que seja verdadeira a frase "formar médicos para o Sistema Único de Saúde (SUS)". Essa intelectualidade delirante visa, em última análise, a criação de mão de obra barata, caracterizando, mais uma vez, a incompetência na elaboração de uma política de saúde que valorize a residência médica por ser a melhor forma de treinamento após a graduação. Porém, a busca pela excelência não pode "tapar buraco" na incompetência dos órgãos governamentais.

Não se pode falar em AMAS e Policlínicas - atendimento especializado - sem antes tornar o SUS eficiente. Cada doença corresponde a uma especialidade. Qual seria, então, o objetivo do SUS? Tratar a gripe, sem complicação? É o mesmo que colocar o lustre sem a casa terminada. O atendimento primário, quando eficiente, resolve 70% dos casos a um baixo custo. Isso mostra a falta de preparo de quem preconiza esse tipo de política de saúde totalmente caótica. Almeja-se plano de carreira no SUS tirando os médicos das unidades básicas e garantindo acompanhamento horizontal do paciente, fundamental no humanismo e na relação do médico com o doente.

Temos de afastar das instâncias decisórias, da educação e da saúde, os bacharéis em medicina que, desde muito, deixaram de ser médicos de verdade. Os critérios para ocupação de cargos públicos devem contemplar o mérito, não questões ideológicas, ou políticas partidárias.

Posto tudo isso, almejamos que o novo(a) presidente salve o SUS. Se conseguir fazer com que o Sistema Único de Saúde cumpra todas as propostas desenhadas no escopo de sua criação - equidade, universalidade e integralidade - ofereceremos aos brasileiros uma assistência eficiente, eficaz, de qualidade.

São esses, portanto, os desafios colocados. Se superados, como esperamos, poderemos em eleição futura repetir o voto, pois teremos a certeza de que o Brasil tem um(a) estadista para dirigi-lo.


Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.

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