Em entrevista sobre o atual momento da pandemia, médico intensivista Rafael Deucher afirma acreditar que muitas das pessoas
ainda não estão conscientes do real problema
A taxa de ocupação dos leitos de Unidades
de Terapia Intensiva (UTIs) adultos exclusivos para Covid-19 alcançou 98% no Paraná no domingo (7). A situação
é considerada crítica pelas autoridades do governo estadual e dos municípios, que tentam ao máximo
diminuir a incidência de casos ativos com decretos e fiscalizações pesadas contra aqueles que seguem descumprindo
normas de prevenção. O colapso no sistema de saúde é uma realidade aos profissionais que atuam
no dia a dia e que relatam o caos, como se o Paraná fossem um país em guerra, que já tivesse perdido
12.486 combatentes.
O alerta do atual momento da pandemia do novo coronavírus
no estado foi dado pelo médico intensivista Rafael Deucher, 41 anos, coordenador das UTIs do Hospital VITA Batel, em
Curitiba, e presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Paraná (SOTIPA). Atento ao que está ocorrendo nos
hospitais, Rafael acredita que muitas das pessoas ainda não estão conscientes do real problema e que só
irão ter a noção exata quando algum familiar ou amigo precisar de um leito hospitalar.
A reportagem da Tribuna do Paraná conversou com
o médico nesta manhã de segunda-feira (8), sobre vários temas e inclusive sobre a flexibilização
das medidas do governo estadual a partir de quarta-feira (10). “Eu acho que eles devem ter um argumento muito bom para
esta liberação. Enquanto não houver vacinação em massa, diminuição na circulação
de pessoas e medidas sanitárias não sendo respeitadas, a doença vai continuar indo para frente. Logo
vai ter pessoas quebrando unidade de saúde por angústia e buscando justiça com as próprias mãos”,
comentou o médico intensivista.
O
Paraná atingiu 98% de ocupação de leitos adultos exclusivos para covid-19. Estamos vivendo um período
semelhante à de uma guerra?
Rafael
Deucher – Com certeza. Um leito de UTI é artigo de luxo e se você conseguir uma hoje em dia, você
é sortudo. As pessoas estão sendo entubadas fora da UTI já há algum tempo e já começa
a faltar respirador. Este 98% de ocupação para a gente que está na linha de frente passou faz tempo e
quando se fala com os colegas está tudo está ocupado. Um caos total e uma situação de calamidade
pública mesmo. É desesperador o que estamos vivendo. Vai começar a morrer gente com falta de assistência
médica em todos os lugares do Paraná.
O que os seus colegas conversam contigo sobre estas lotações e até mesmo do trabalho?
Rafael Deucher: Nossas principais
cidades já entraram em um caos total e a população precisa entender que a coisa está feia. Ninguém
quer ser o mensageiro do Apocalipse aqui, mas chegou o momento que se a incidência da doença continuar na mesma
proporção que está vindo, o colapso que está instalado vai se tornar em um caos matemático
total. As pessoas que estão em casa não têm noção, basta um familiar precisar do hospital
para você ter a dimensão do que está acontecendo. Tem casos de médicos que estão preocupados
em não conseguir ajudar os parentes caso eles precisem ser internados. Posso dizer que não existe mais diferença
até em classe social, pois tem gente com plano de saúde que está buscando o Sistema Único de Saúde
(SUS), pois o privado também não tem mais vaga. O Paraná é um dos estados mais acometidos pela
variante do novo vírus.
O
governo estadual vai flexibilizar um pouco as medidas restritivas a partir da quarta-feira (10). O que achou desta ação?
Rafael Deucher: Eu tenho possivelmente
uma visão inferior a um gestor público como um prefeito, pois eles têm diversas informações
que eu não tenho. Como médico e presidente da sociedade, a doença precisa incidir menos e se os novos
casos seguirem, o colapso vai se manter e teremos gente morrendo na rua ou na frente do hospital sem assistência. Liberar
a circulação de pessoas com a falta de leitos e com filas nas UTIs não parece ser interessante. Eu acho
que eles devem ter um argumento muito bom para esta liberação. Enquanto não houver vacinação
em massa, diminuição na circulação de pessoas e medidas sanitárias não sendo respeitadas,
a doença vai continuar indo para frente. Logo vai ter pessoas quebrando unidade de saúde por angústia
e buscando justiça com as próprias mãos. Acho que isso não está longe de acontecer.
Fonte: Tribuna do Paraná