06/11/2019

Dr. Theodoro Busso Beck, pioneiro de Araruna e as muitas lições de amor à Medicina

Chegando aos 95 anos de idade e 61 de formado, continua em plena atividade em seu hospital como médico e dirigente, além de comandar negócios agropecuários

“Medicina é uma profissão de dedicação, que exige disposição e pleno respeito ao paciente; deve ser exercida com honestidade, reconhecendo os próprios limites, admitindo quando não se sabe ou quando já não podemos fazer. Daí é preciso ler sempre e se atualizar ao máximo possível. Com certeza, nós, médicos, precisamos nos adaptar aos novos conhecimentos, cada vez mais acessíveis e que surgem com velocidade impressionante”.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Theodoro, na sala de administração do hospital. (Foto: CRM-PR)

A análise é do Dr. Theodoro Busso Beck (CRM-PR 1.428), do alto de seus quase 95 anos de idade (aniversaria em 20 de janeiro) e 61 de plena atividade médica, já que até hoje mantém a rotina diária de atendimento e administração de seu hospital em Araruna, cidade no Noroeste paranaense, a 22 km de Campo Mourão, onde se instalou ainda no começo da segunda metade do século passado e muito contribuiu para o desenvolvimento da região, inclusive como agropecuarista e outras atividades sociais e empreendedoras. Constitui-se assim, hoje, em um dos médicos mais longevos em atividade no Paraná e no País.

O pioneiro Dr. Theodoro tem credenciais de sobra para enriquecer a série “Medicina que é vida; vida que é Medicina”, criada pelo CRM-PR. Filho de imigrantes alemães radicados em Curitiba, foi o primeiro da família a fazer curso superior e a escolha pela formação médica foi decidida face ao projeto de vida de ter uma profissão em que pudesse ajudar as pessoas. Assim, exalta o companheirismo da esposa Hildegard, da mesma idade que ele, como fundamental para a vida profissional no interior ‑ ela que foi a primeira a trabalhar nos serviços de enfermagem quando ele construiu o hospital de madeira e o fez funcionar numa Araruna que ainda começava a ganhar vida como município.

clique para ampliarclique para ampliarEm 2008, recebendo pelas mãos do filho Ricardo o Diploma de Mérito Ético. (Foto: CRM-PR)

Sob os exemplos de respeito familiar, de ética e de solidariedade, vieram os três filhos, depois os netos e a construção de uma corrente de amizade e respeito na cidade onde o casal se radicou. Dos filhos, nascidos em Curitiba, dois tornaram-se médicos (o outro é engenheiro mecânico), passos seguidos também por três dos netos ‑ um deles formado em 2015, outro em 2017 e o terceiro agora se graduando pela Evangélica-Makenzie. Além disto, uma das noras do casal também é médica.

“Amor e prazer ao que se faz”. Esta é a explicação curta e grossa que o Dr. Theodoro dá ao falar da longevidade e da disposição ímpar que o move todos os dias, desdobrando-se em múltiplas tarefas que o envolvem como médico, dirigente hospitalar, agropecuarista e também cooperativista, eis que é um dos pioneiros ‑ e participante ativo ‑ da Coamo Agroindustrial Cooperativa, nascida em Campo Mourão e hoje entre as 40 maiores organizações empresariais do Brasil. E o médico ainda faz sobrar tempo para o bom convívio familiar, a leitura e a música. Autodidata, tocar violino é o hobby que ele compartilha com os netos. Para tanta energia, como ele mesmo conta, também dão a sua contribuição a alimentação saudável e a genética, eis que sua mãe faleceu aos 105 anos.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Theodoro com o Dr. Romildo e diploma de Honra ao Mérito, e em frente ao seu hospital. Abaixo, a primeira construção, em madeira. (Foto: CRM-PR e reprodução)

HONRA AO MÉRITO

Foi bem cedinho, numa manhã de segunda-feira do mês de julho, que o Dr. Theodoro, atestando toda a disposição e lucidez, recepcionou o jornalista do Conselho de Medicina para um bate-papo e para que recebesse o diploma de “Honra ao Mérito”, comenda aprovada em reunião de diretoria e plenária na passagem de seu 61º ano de formação médica e que alcançou ainda os Drs. Francisco Busto Moreno, de Cianorte e com 56 anos de formado; Hyzo Gondeberto dos Santos, de Umuarama e com 54; e Cleso Lopes Nogueira, de Campo Mourão, com 56. O encontro ocorreu nas dependências da Casa de Saúde Araruna, área central da cidade de 14 mil habitantes e onde ele atende diariamente. E foi uma conversa marcada por várias interrupções. Afinal, muitos pacientes faziam questão do contato direto com o Dr. Theodoro, ora para tirar dúvidas ou mostrar um exame, ora para cumprimentá-lo ou levar um abraço de agradecimento. Também os funcionários volta e meia procuravam uma orientação.

Sempre paciente, o médico fez questão de mostrar todas as dependências do hospital que, apesar de pequeno porte, proporcional à municipalidade e sua população, é bem esmerado e tem demanda contínua. Parte dos atendimentos ambulatoriais e de consultas é suprida pelo hoje braço direito e sócio do Dr. Theodoro no hospital, o cirurgião geral e médico do trabalho Dr. Romildo Joaquim Souza (CRM-PR 5.400). Formado há 44 anos no Espírito Santo e com especialização no Rio, o Dr. Romildo está em Araruna desde o início da profissão e é o atual vice-prefeito – o chefe do executivo local é o farmacêutico Leandro Cesar de Oliveira. O Dr. Romildo foi delegado da Regional do CRM-PR em Campo Mourão por anos e é também é pai de médica, a dermatologista Dra. Claudia Dias de Souza (CRM 35.242), que é nascida em Araruna.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Theodoro e a esposa, em encontro da família no último dia 9 de novembro. (Foto: Arquivo da família)

Durante a conversa, o Dr. Theodoro contou muitas passagens pitorescas de sua vida profissional, como o fato de ter sido o responsável pelo parto do primeiro filho de D. Maria Adilia Rodrigues Hanel, cidadã ararunense e esposa do cirurgião dentista Irineu Hanel. Isto ocorreu em junho de 1973 e a criança batizada Ricardo Alexandre Hanel é hoje o diretor do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Baptist Health, em Jacksonville, Flórida, centro de referência da especialidade nos Estados Unidos. A exemplo do Theodoro, o Dr. Romildo recorda ter prestado atendimentos ao menino e adolescente Ricardo, hoje neurocirurgião de renome mundial e que fez parte da série especial do Conselho “Médicos Paranaenses pelo Mundo”.

Conheça um pouco da história do Dr. Ricardo Alexandre Hanel.

“Fiz muitos partos, mas o meu forte mesmo sempre foi a área cirúrgica”, conta o Dr. Theodoro. Ele também integrou o 5º Esquadrão de Reconhecimento do Exército, mas diz que não quis se associar à carreira militar, do mesmo modo que sempre evitou a política. No período do regime militar, diz que não enfrentou nenhum problema. Do atual momento de transição, declara-se esperançoso de melhor cenário para o País. Sobre religião, foi enfático: “É concepção de vida”. Exaltando seu amor à família e à profissão que escolheu, exibe com orgulho as muitas fotos e registros de passagens marcantes de sua vida. Na parede de seu consultório estão algumas titulações recebidas, incluindo o título de Cidadão Honorário de Araruna, “pelo esforço e dedicação dispensados a esta municipalidade”, e o Diploma de Mérito Ético-Profissional, que recebeu do CRM-PR em 2008, na passagem dos 50 anos de formado.

Sobre os colegas de turma, aliás, diz que ocorreram vários encontros de confraternização, mas que os últimos remontam ainda aos anos 1990, quando a maioria ainda estava em plena atividade. Do grupo, sempre manteve mais proximidade com o Dr. Ildefonso Amoedo Canto, de Pato Branco, e o Dr. Ogamar Soares Linhares, de Engenheiro Beltrão, com o qual se associou, ao lado do Dr. Said Felício Ferreira, para aquisição de hospital em Curitiba.

clique para ampliarclique para ampliarFicha de inscrição no CRM, em maio de 1964, e algumas das condecorações. (Foto: Reprodução)

TRAJETÓRIA

Vivaz e de privilegiada memória, o Dr. Theodoro fez uma retrospectiva desde a infância, que passou no bairro Cajuru, em Curitiba, ao lado das irmãs Marlemne e Eklenwilde e dos pais Germano e Maria (na grafia de seus documentos). O pai era mecânico e estudou no país de origem, a Alemanha, enquanto a mãe se encarregava dos cuidados da família.

Em meio aos estudos no Colégio Estadual do Paraná, teve de decidir seu futuro. Disposto a escolher uma profissão em que pudesse ajudar as pessoas, até ficou tentado a acompanhar um colega na Odontologia. Porém, optou pela Medicina e relembra que foi muito importante o cursinho que fez com o Dr. Guelmann. “Ajudou muito”, resume, para contar como foi aprovado no curso da UFPR, que iniciou em 1953, um ano antes da inauguração do prédio da Santos Andrade.

O Dr. Theodoro diz que a sua primeira profissão foi a de relojoeiro, ofício que muito contribuiu para que pudesse custear e concluir os estudos, transformando-se assim no primeiro da família a obter o título do ensino superior. Porém, recorda que até o 4º ano, enquanto esteve trabalhando, constituiu-se “num aluno de média para baixo”. Com mais tempo, diz, colocou-se num patamar diferenciado e que muito o ajudou na formação.

Interno da clínica cirúrgica na Santa Casa, relata que "passei a ter contato com mestres como os Drs. Mário Braga de Abreu, Pedro Emílio Cerqueira Lima, Manoel, Guiomar Gasparello Richard, Gastão Pereira da Cunha e Félix do Rego Almeida. Foram meus espelhos; me orientei através deles, em especial o Dr. Mário, de talento e habilidade excepcionais e ao qual rendo minha maior homenagem por ter sido um profissional capaz de enfrentar as dificuldades da época. É certo que tínhamos bons professores”. Sobre a Dra. Guiomar, aproveita para exaltar sua destreza também na música, citando que era uma exímia violinista e que o fez “pegar gosto” pelo instrumento musical.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Theodoro em ambiente familiar e na fazenda. (Foto: Reprodução)

Recorda que passou alguns meses no Hospital Nossa Senhora das Graças, na Capital, para adquirir conhecimento em ginecologia e obstetrícia, antes de se lançar a alguma cidade do interior, citando aí o aprendizado com o Dr. Nelson Roseira Gomes (CRM-PR 83). Mais seguro para o cumprimento de seu mister, passou em primeiro lugar em concurso para assumir serviços médicos em Rio do Sul (SC). Porém, ficou ali poucos meses, pois entendeu que não daria certo. Incentivado pelo amigo Dr. Said Felício Ferreira, que se formara um ano antes e se radicara em Maringá, decidiu ir para região, que experimentava processo de colonização. Não gostou de Maringá e acabou indo parar em Araruna, a 90 km da “Cidade Canção”.

“Fui parar no hotel do Luiz Rosa, que primeiro alugou um quarto e depois uma casa, para consultório. Foram tempos difíceis até construir pequeno hospital de madeira. Já casado, a esposa foi a primeira enfermeira e, pela necessidade, ia trabalhar até de madrugada”, recorda o Dr. Theodoro, que não deixa de enaltecer algumas famílias que contribuíram para que crescesse profissional e socialmente, como a do próprio Luiz Rosa e ainda os Gasparim, Rodolen, Pintro e Hanel. Também exalta o Dr. Said (CRM 948) e o colega de turma Dr. Ogamar Alvin Soares Linhares (CRM 1574), que se radicou em Engenheiro Beltrão. Com eles, acabou expandindo as atividades em saúde adquirindo em Curitiba a Maternidade homônima, administrada hoje por um dos filhos médicos juntamente com filhos dos sócios originais, estes já falecidos.

Hoje, além de diretor e técnico do hospital de Araruna e sócio da Maternidade Curitiba, o Dr. Theodoro integra a Unimed de Campo Mourão. Paralelamente às atividades ligadas à área de saúde, também é um dos pioneiros da Coamo e da Associação dos Criadores de Nelore, com inúmeras premiações. Ele também é dono da Fazenda Floresta Negra, em Cianorte, para onde vai com bastante frequência, já que é um dos seus passatempos preferidos ver o gado, os cavalos e as plantações. E o faz, na maioria das vezes, dirigindo a sua camioneta.

Ao emitir o diploma de Honra ao Mérito, o presidente do CRM-PR, Roberto Issamu Yosida, exaltou a história de dedicação e respeito aos princípios hipocráticos do Dr. Theodoro, fazendo-se merecedor de nova distinção da classe por representar exemplo às novas gerações. Para o conselheiro, a sociedade paranaense orgulha-se de profissionais assim, que tanto engrandecem a imagem da Medicina pregando a ética, o humanismo e a solidariedade. Com mais de seis décadas de atuação do Dr. Theodoro, o presidente do Conselho acentuou o alcance de seu trabalho assistencial.

FAMÍLIA

Dois dos três filhos do Dr. Theodoro seguiram seus passos na Medicina. O Dr. Ricardo Theodoro Beck (CRM-PR 9906), nascido na Capital, formou-se pela Evangélica do Paraná em 1985 e é gineco-obstetra. Ele é casado com a Dra. Dionete Aparecida Beck (CRM-PR) 12.045), que também se formou pela Evangélica, mas em 1989. O outro filho médico é o Dr. Roberto Teodoro Beck (CRM-PR 11.709 e SC 5886), formado pela mesma Fepar, em 1988. Ele é especialista em cirurgia geral, cirurgia vascular e com área de atuação em angiorradiologia e cirurgia endovascular. Reside em Joinville (SC). O terceiro filho é formado em engenharia mecânica.

Três dos netos também seguiram os passos na Medicina. O Dr. Theodoro Busso Beck Neto (CRM-PR 39.226), nascido em Curitiba, formou-se em 2017 pela Universidade Positivo. Ele é filho do Dr. Ricardo e da Dra. Dionete. O Dr. Eduardo Teodoro Döhler Beck (CRM-SC 22.399) formou-se em 2015 e atua no mesmo estado que o pai, Roberto. O irmão do Dr. Eduardo, Alexandre Teodoro Döhler Beck, está se formando pela Evangélica-Makenzie.

PERSONAGENS

Confira outros personagens da séria "Medicina que é vida... Vida que é Medicina!":

» DR. HYZO GONDEBERTO DOS SANTOS

» DR. CARLOS JOSÉ TAQUES FRANCO DE SOUZA

» DR. SEBASTIÃO AVELINO LOPES

MENSAGEM

Muito solícito, o Dr. Theodoro gravou uma mensagem direcionada àqueles que vão se iniciar ou já se iniciaram na profissão médica. Confira o vídeo abaixo.

O VÍDEO

Em resumo, o médico diz que a medicina é uma profissão de dedicação; onde não se tem domingo, sábado ou dias de feriados. “Mas é como uma coisa boa para você. Sempre tem que estar disposição do paciente. Essa é a primeira condição que o indivíduo como médico: tem que estar ao lado do seu paciente, fazer uma medicina honesta. Aceitar quando não sabe; tem muitos livros pra gente em hospitais. Medicina é ler sempre e se atualizar o máximo possível. Com certeza nós, médicos, precisamos nos adaptar aos novos conhecimentos que vêm naturalmente. Nem todos. Mas essas novidades médicas que estão hoje, os procedimentos médicos que se fazem hoje, nós temos condições de fazer. Ou temos que, novamente, frequentar os cursos que ensinam o que se deve fazer. A idade às vezes não é mais adaptável para essas coisas, já passou a nossa época, mas praticando bem aquilo que sabemos dos nossos aprendizados, como eu disse anteriormente... Aprendemos muito com o Dr. Mário de Abreu e muitos outros serviços que tinha em Curitiba. Gastão Pereira da Cunha e Costa Lima foram grandes professores de clínica médica e cirúrgica..."

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