Você já avisou sua família que quer ser um doador? A pergunta parece simples, mas envolve muitas
questões culturais, tabus, desconhecimento. E ela é o início de uma grande logística que salva
vidas. Neste Setembro Verde, mês da conscientização sobre a doação de órgãos
e tecidos, a grande motivação é que as pessoas verbalizem o seu desejo aos familiares, porque são
eles que vão dizer sim ou não para uma possível doação.
Segundo a Dra. Arlene Badoch, coordenadora-geral do Sistema Nacional de Transplantes, há 4 vezes mais chance de
se precisar de um órgão do que de ser um doador. "Pode acontecer com qualquer um de nós, com um de nossos
parentes. Mas enquanto estamos no gozo da saúde e do bem-estar, é comum negar e não querer falar sobre
o assunto. Por isso nós incentivamos que as pessoas falem sobre doação de órgãos em momentos
de união em família e, por que não, em encontros alegres, durante o café da manhã, o almoço
ou o jantar, é preciso manifestar essa intenção", afirma. "Ao longo desses anos trabalhando com doação
de órgãos, já presenciei alguns casos de pessoas que não eram doadoras e, de repente, se viram
do outro lado, necessitando de um transplante", complementa.
clique para ampliarDanilo Vinks, de 23 anos, precisou de um transplante de uma
hora para outra. (Foto: Arquivo pessoal)
E ninguém sabe quando vai precisar de um transplante. Às vezes, a necessidade é repentina, como
ocorreu com Danilo Vinks, de 23 anos, que mora em Toledo (PR). Em 2018, ele teve uma hepatite aguda fulminante e só
está vivo graças a um transplante de fígado: "Eu fiquei muito amarelo e os médicos informaram
aos meus pais que eu tinha apenas 12 horas de vida. Foi quando um rapaz voltando para casa sofreu um acidente e a família
doou os órgãos que eram compatíveis comigo. Hoje só estou vivo porque alguém teve essa
empatia. E meu papel é conscientizar os outros. Sejam doadores de sangue, de medula, de órgãos", diz.
No Brasil, existem 45 mil pessoas na fila de transplante de órgãos, esperando pelo sim de uma família.
Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), no primeiro semestre de
2021, houve 40% de recusa na doação durante a abordagem da morte encefálica, muitas vezes porque a família
desconhecia a intenção do parente de ser doador. Com a pandemia, houve queda de 20% nas doações
em todo o País.
Dra. Arlene explica que no caso de morte encefálica, a equipe se mobiliza para lutar contra o tempo. O primeiro
passo é o acolhimento familiar, com esclarecimento das dúvidas. "Após a autorização, são
feitos diversos exames, inicialmente para doenças infectocontagiosas, depois exames laboratoriais para as funções
de cada órgão. Então, os dados são inseridos no sistema informatizado nacional para filtrar os
candidatos à recepção", explica. Após o aceite, tem toda a questão logística, com
a captação e transporte para realização do transplante.
Entre os exames realizados, são fundamentais os testes de compatibilidade entre doador e receptor, como os de
tipagem HLA de baixa/média resolução bem como os de alta resolução (alta definição).
É esse exame que verifica a compatibilidade entre o doador e receptor. A Tipagem HLA baixa/média resolução
identifica o grupo alélico a que os genes pertencem. É um resultado baseado em DNA através de tipagem
molecular, ao nível dos dígitos que compõem o primeiro campo na nomenclatura baseada em DNA. Considerando
a grande variabilidade alélica dos genes HLA, o sucesso nessa busca torna-se um trabalho minucioso e complexo. Se nesta
fase encontra-se um possível doador, realizam-se testes de alta definição para a escolha final do doador
nos casos do transplante de células tronco hematopoéticas.
Vale lembrar que um único doador falecido pode salvar mais de oito vidas com o coração, pulmão,
fígado, rins, pâncreas, córneas, intestino, pele, ossos e válvulas cardíacas. Doação
de órgãos: fale sobre isso!
27 de setembro: Dia Nacional da Doação de Órgãos
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