Por sugestão do Conselho de Medicina do Paraná, o advogado tributarista e jornalista José Alexandre Saraiva publicou em sua
coluna "De Olho no Leão", edição da Gazeta do Povo do último dia 30 de janeiro, aspectos da ainda 'pouco esclarecida' Declaração
de Serviços Médicos, a Dmed, instituída pela Receita Federal. As dúvidas levantadas pelo articulista são as mesmas que os
médicos se fazem ou vão fazer, a partir do momento em que tiverem ciência sobre exigências previstas para a declaração de
rendimentos de 2011, com base no exercício de 2010. Além de deixar questionamentos sobre quais são as formas de equiparação
de pessoas jurídicas com físicas, a Instrução Normativa 985/09 omite a referência ao médico enquanto prestador de serviço
autônomo, mas refere-se a outros profissionais de saúde. O CRMPR prestará os esclarecimentos necessários aos profissionais
médicos e aos diretores de estabelecimentos de serviços de saúde registrados no Paraná tão logo sejam dadas as respostas aos
questionamentos apresentados ao Fisco.
Dmed - a nova do Leão
Declaração de Serviços Médicos vai integrar declaração de rendimentos de Pessoa Jurídica ou equivalente na declaração
do IR a ser entregue em 2011. Regras devem ser aclaradas em fevereiro de 2010.
A primeira Dmed retratará os registros financeiros por serviços prestados ocorridos entre 1º de janeiro e 31 de dezembro
de 2010.
Como é sabido, dentre as irregularidades mais comuns verificadas na malha fiscal do Imposto de Renda destaca-se a dedução
indevida com gastos relacionados à saúde, incluindo a não apresentação, quando solicitados, de comprovantes das despesas pleiteadas
como dedução, além da falta de reconhecimento dos valores de tais gastos quando reembolsados. Também tem sido constatada grande
incidência de utilização de recibos e notas fiscais, de duvidosa procedência, que não correspondem à efetiva prestação de
serviços pelos profissionais da área de saúde.
Temos dito que essas anomalias precisam ser extirpadas do dia a dia dos contribuintes e dos profissionais da saúde. Elas
acarretam transtornos burocráticos a todas as pessoas cujas declarações ficam retidas na malha fiscal, gerando procedimentos
de fiscalização e, consequentemente, demora na liberação da restituição do Imposto de Renda, sem prejuízo de eventual aplicação
de penalidades.
Pois bem. No afã de diminuir o acervo de declarações retidas na malha com essa problemática, e agilizar o processamento
das declarações (que hoje se aproximam da casa de 30 milhões), seja com imposto a pagar ou a restituir, a Receita Federal
acaba de instituir a Declaração de Serviços Médicos (Dmed). Trata-se de uma obrigação acessória a cargo das pessoas jurídicas
prestadoras de serviços de saúde, que deverá ser apresentada anualmente, a partir do próximo exercício (2011), retratando
e individualizando os pagamentos feitos pelas pessoas físicas em cada ano-base. A primeira Dmed, portanto, retratará os registros
financeiros por serviços prestados ocorridos nessas empresas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2010.
A declaração em tela, criada pela Instrução Normativa 985/09, destina-se a todas as pessoas jurídicas ou equiparadas nos
termos da legislação do Imposto de Renda, prestadoras de serviços de saúde, e as operadoras de planos privados de assistência
à saúde. A norma esclarece que são operadoras de planos privados de assistência à saúde, as pessoas jurídicas constituídas
sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão, autorizadas pela Agência Nacional
de Saúde Suplementar a comercializar planos privados de assistência à saúde.
Apesar dos esclarecimentos já veiculados pelo Fisco sobre quem está obrigado à apresentação da Dimed, e por se tratar
de matéria recém incorporada à legislação, os interessados devem ler com atenção o artigo 3º da referida instrução normativa,
cuja redação, a nosso ver, peca pela falta de clareza, notadamente no que diz respeito aos casos em que se configura a equiparação
de pessoa física a pessoa jurídica. Assim encontra-se redigido o artigo:
"Os serviços prestados por psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, dentistas, hospitais,
laboratórios, serviços radiológicos, serviços de próteses ortopédicas e dentárias, e clínicas médicas de qualquer especialidade,
bem como os prestados por estabelecimento geriátrico classificado como hospital pelo Ministério da Saúde e por entidades de
ensino destinados à instrução de deficiente físico ou mental são considerados serviços de saúde para fins desta Instrução
Normativa."
Note-se que a expressão "médicos" não aparece no dispositivo. De outro lado, a redação poderá levar à interpretação de
que serviços prestados por um dentista ou um médico, na condição de autônomos, estariam sujeitos à Dmed. A norma está endereçada
às pessoas jurídicas. Dispõe o seu artigo 5º:
"A Dmed será apresentada pela matriz da pessoa jurídica, contendo as informações de todos os estabelecimentos, em meio
digital, mediante a utilização de aplicativo a ser disponibilizado na página da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB)
na internet, no endereço
href="http://www.receita.fazenda.gov.br"target="_blank"> www.receita.fazenda.gov.br , até o último dia útil do mês
de fevereiro do ano-calendário subsequente àquele a que se referirem as informações."
São pesadíssimas as penalidades pelo descumprimento da novel obrigação fiscal, chegando a R$ 5 mil por mês-calendário
ou fração, nos casos de falta de entrega da Dmed ou sua apresentação fora do prazo. Informações falsas na declaração configuram
crime contra a ordem tributária e sujeitam os infratores às respectivas sanções penais.
José Alexandre Saraiva - saraivaeadvogados@hotmail.com