17/04/2008
Dirigente de conselho de medicina defende política pública de interiorização da saúde
O 1º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto Luiz D'Avila, defendeu hoje (15) a elaboração de uma política
pública de interiorização da estrutura de assistência à saúde. Para D´Ávila, não há falta de médicos no país e, sim, uma distribuição
bastante irregular desses profissionais. Segundo ele, o Brasil possui 174 escolas de Medicina, que formam a cada ano cerca
de 15 mil médicos.
"Você tem que levar as condições mínimas de infra-estrutura para dar um atendimento de qualidade, com uma equipe multiprofissional,
com condições para que o médico também consiga fazer uma educação continuada, que possa freqüentar congressos. Ou seja, você
tem que criar uma carreira, um plano de cargos e salários e carreira para que o médico possa se dispor a ir para o interior",
sugeriu.
Para o dirigente do CFM, a falta de estrutura de saúde decorre da ausência do Poder Público, que deveria criar um plano
de carreira para os médicos igual ao da magistratura ou do Ministério Público.
"Isso não é impossível. Não é difícil. É uma questão de vontade política. O Brasil precisa não é de mais médicos, mas
sim de bons médicos e uma melhor distribuição desses médicos no território brasileiro".
Estudo divulgado hoje pela Fundação Getulio Vargas (FGV) confirma que o problema mais grave no Brasil é que os profissionais
médicos estão mal distribuídos pelo país.
Segundo o levantamento, o estado do Rio de Janeiro e o Distrito Federal apresentam os maiores índices de médicos por habitante:
o primeiro com um médico para cada grupo de 299 habitantes e o segundo com 292 habitantes por profissional.
Em entrevista à Agência Brasil, D´Avila afirmou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza desde a década de 80
que haja "no mínimo um médico para cada mil habitantes". A pesquisa da FGV, com dados relativos a 2005, revela que havia naquele
ano um médico para 595 habitantes no Brasil.
O vice-presidente do CFM afirmou que no Nordeste brasileiro há uma grande concentração dos médicos nas capitais e na faixa
litorânea, deixando a região agreste sem profissionais. Ele citou o caso de Maceió (AL), que tem 92% dos médicos do estado,
enquanto apenas 8% estão na Zona da Mata e muitos poucos no sertão. "Nosso grande problema não é a falta de médicos. No Brasil
não faltam médicos", assegurou.
De acordo com o dirigente, na próxima quinta-feira (17), os médicos irão realizar um ato público no Congresso Nacional
com o objetivo de chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pela saúde pública. Eles reivindicam a regulamentação
da Emenda Constitucional 29 (que assegura percentuais mínimos que deverão ser investidos em saúde pública pela União, pelos
estados e municípios), ainda não aprovada pelo Congresso.
A interiorização dos médicos e a melhoria da estrutura de atendimento à saúde estão incluídas na pauta de reivindicações.
"Nós defendemos que a assistência de qualidade não se faz somente com médico. Mas se faz com uma equipe multiprofissional,
com infra-estrutura, com a questão da referência e das contra-referências, que é ter um lugar para transferir os pacientes
graves que você não consegue resolver naquela localidade porque ela é pequena e não tem os recursos mais avançados. Tudo isso
faz parte dessa luta em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS)", afirmou.
Estudo revela que faltam médicos no país
Faltam médicos no país. A conclusão é de um estudo divulgado hoje (15) pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Pelos dados
da pesquisa, referentes a 2005, naquele ano havia um médico para 595 habitantes no país.
Responsável pelo levantamento, o economista Marcelo Neri, no entanto, acha que o número não está tão distante do que se
considera ideal (cerca de 300 habitantes por médico), pelo menos na comparação com outros países. Para ele, o problema mais
grave é que esses profissionais estão mal distribuídos pelo país.
A situação mais grave é observada no Rio de Janeiro, que tem o município com menor número de habitantes por médico (Niterói,
com 93,55 habitantes por médico) e o que ocupa a base do ranking (Belford Roxo, com 6.878,54 habitantes por médico), entre
as cidades com mais de 250 mil habitantes.
O indicador de Niterói é melhor até que o de Cuba, que lidera o ranking mundial, com 169 habitantes por médico, destacou
Neri. A Nigéria, com 50.000 habitantes por médico, ocupa a pior colocação entre os países.
"Todos os indicadores da pesquisa revelam que o Brasil tem uma quantidade de médicos aquém do que seria recomendado. Essa
categoria profissional é a que apresenta a maior taxa de ocupação, de 90%, a maior média salarial, que é de R$ 6.270, e a
maior jornada de trabalho, com 50 horas semanais", disse o economista.
Ele citou países como a Itália e a França, que têm 300 habitantes por médico, e afirmou que o Brasil não está muito longe
desse ideal. "O principal problema é a locação espacial - há muitos médicos onde a necessidade é menor e faltam médicos em
áreas mais pobres, rurais e distantes", explicou.
Entre os estados brasileiros, o líder é o Distrito Federal, com 292 habitantes por médico, seguido pelo Rio de Janeiro
(299 por um) e São Paulo (448 por um). No outro extremo, aparecem o Maranhão, na pior colocação, com 1.786 habitantes por
médico; o Pará, com 1.351, e o Piauí, com 1.282 habitantes por médico.
Como medidas para ajudar a minimizar essas disparidades, Neri defende iniciativas dos governos para garantir melhor distribuição
espacial, ainda que seja em momentos de emergência. "Iniciativas como a criação da Força Nacional de Saúde são bem-vindas,
para realocar médicos, como no caso da epidemia de dengue no Rio", disse o economista.
Segundo ele, outra boa medida é incentivar médicos egressos de universidades federais para que trabalhem durante algum
tempo em áreas remotas, onde são mais necessários.
Fundação Getulio Vargas divulga pesquisa sobre escassez de médicos
O economista Marcelo Néri, do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas, apresenta hoje (15), às 9h45, na
sede da instituição, no Rio, a pesquisa inédita Escassez de Médicos. O documento mostra que os profissionais de medicina são
os mais raros no mercado brasileiro.
A pesquisa traz informações sobre a evolução da disponibilidade e do desempenho trabalhista dos médicos brasileiros, além
da quantidade de médicos por habitantes entre países, assim como para estados e municípios brasileiros.
Fonte: Agência Brasil