26/09/2012

Devo não nego, mas não sei quem vai pagar

Desde os pacientes que contratam as operadoras de saúde a peso de ouro até os médicos que, na outra ponta, recebem as ridículas quantias repassadas pelas empresas concordam que, do jeito que está, não dá para ficar. Até aí nenhuma novidade.


Recentemente, até o próprio Maurício Ceschin, presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar, mostrou que também concorda com a maioria. Ele admitiu, em reunião na sede da APM, que as reivindicações sobre reajustes de honorários médicos são "adequadas e justas".


Mas e então, como fica? Já que todos concordam, vamos acertar essa conta de uma vez por todas? Não, infelizmente não. No Brasil, a terra do "veja bem", as coisas não são tão simples assim.


Nesse momento do acerto final, surgem reuniões, negociações e ponderações que tomam a cena. Muitas palavras, pouca ação e mais uma vez a frustração geral. Nisso o tempo vai passando e nós, médicos, continuamos usurpados nos nossos direitos básicos de profissionais "liberais". Colegas endividados, contas no vermelho, consultórios fechando as portas, pacientes sem opção para atendimento, demora no agendamento de consultas são a realidade nua e crua do nosso dia a dia.


Em outro mundo e alheios aos problemas terrenos dos que adoecem e dos que vivem do trabalho, os atravessadores da saúde e sua ganância empresarial mantêm-se insensíveis à realidade, dando de ombros a todos (pacientes, médicos, ANS, órgãos de defesa do consumidor e quem mais vier) e seguem apresentando números cada vez mais vultosos nos seus balanços financeiros.


Apenas para citar um exemplo, a Amil, empresa top de reclamações no Procon, aumentou seu lucro líquido em 15,7% no primeiro trimestre de 2012 na comparação com o mesmo período do ano anterior, algo em torno de R$ 102,9 milhões, segundo o portal G1.


Cada vez mais temos que concordar com um velho amigo médico que dizia: "Os médicos não sabem a força que têm". Tomara que um dia descubramos.



Editorial publicado na Revista da Associação Médica de São Paulo do mês de agosto, escrito por Renato Françoso Filho e Leonardo da Silva, diretores de Comunicação da APM.

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