11/04/2022
Plenária temática do CRM-PR foca alcance dado ao termo "violência obstétrica", que tem como origem conflitos na relação médico-paciente ou inobservância das boas práticas e de atenção ao parto e nascimento
O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) debateu a questão do parto adequado e segurança obstétrica em plenária temática realizada nesta quinta-feira (7), que contou com a participação de mais de 30 conselheiros e médicos interessados no tema, como profissionais gineco-obstetras e professores de graduação.
A propagação do termo “violência obstétrica”, repercutida na sociedade a partir de conflitos na relação médico-paciente e em condutas entendidas como má prática obstétrica, preocupa os especialistas e tende a ser o foco de campanha de conscientização a ser implementada de forma conjunta entre entidades médicas e centros formados de médicos e de especialistas.
A reunião, realizada presencialmente na sede do Conselho em Curitiba e também de forma remota, contou com explanação do conselheiro Jan Pawel Andrade Pachnicki, que é professor de Ginecologia e Obstetrícia de diversas escolas médicas da capital e ex-presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná (Sogipa).
Durante sua fala, o conselheiro abordou práticas do atendimento a gestantes e parturientes que precisam ser observadas e respeitadas pelos médicos. Citou o Parecer CRM-PR n° 2875, de sua lavra e aprovado em sessão plenária de 28 de fevereiro último, e que trata de consulta sobre toque vaginal durante o primeiro período do parto em hospitais universitários, em situações em que diferentes agentes possam estar envolvidos na assistência à paciente. O parecerista ressalta que se trata de atividade supervisionada e que devem ser respeitadas as boas práticas e de atenção ao parto e nascimento.
“Recomenda-se, portanto, aos profissionais de saúde que realizam exames vaginais que se certifiquem de que o exame é realmente necessário e agregará informações importantes ao processo de tomada de decisão; estejam cientes de que, para muitas mulheres que já podem estar com dor, muito ansiosas e em um ambiente desconhecido, os exames vaginais podem ser muito angustiantes; garantam o consentimento, privacidade, dignidade e conforto desta mulher; e expliquem o motivo do exame e o que estará envolvido, além dos resultados e seu impacto, de forma sensível para a sua paciente. Ressalta-se, portanto, a importância do treinamento em serviço em Obstetrícia, visando certificar um processo de ensino-aprendizagem de qualidade”.
Também convidado a dissertar sobre o tema, o médico e professor Marcos Takimura, que leciona em diversas escolas médicas e integra a Secretaria Estadual de Saúde (SESA), abordou a evolução do ensino nas últimas décadas em prol de uma assistência humanizada da parturiente, além da adequação às novas recomendações sobre intervenções durante o parto preconizadas por entidades como a Organização Mundial da Saúde.
De acordo com o Prof. Marcos Takimura, o tema da assistência humanizada não é novo no estado, tendo como importantes referenciais na cidade de Curitiba o Hospital Bairro Novo e a Maternidade Victor Ferreira do Amaral, nos quais foram desenvolvidas equipes e processos voltados às diretrizes mais atuais de assistência à gestante.
A discussão sobre a temática teve ainda as participações do conselheiro Hélcio Bertolozzi Soares, ex-presidente do CRM-PR e Sogipa e que foi professor da especialidade na UFPR e PUCPR; Lenira Gaede Senesi, professora do Departamento de Tocoginecologia do Setor de Ciências da Saúde da UFPR e diretora técnica da Maternidade Victor Ferreira do Amaral; conselheiro Edison Luiz Almeida Tizzot, professor e vice-diretor do Setor de Ciências da Saúde da Federal; e o gineco-obstetra Isaque Kaieda, que levantou a questão do parto domiciliar (conferir Parecer CRM-PR 2875/2021).
Após amplo debate entre os participantes, houve consenso sobre a necessidade de uma melhor comunicação dos profissionais médicos com seus pacientes, de forma a se aperfeiçoar a relação médico-paciente. "O que precisamos melhorar como sociedade médica é a comunicação com o paciente, conquistar a sua confiança com empatia. Essa é a melhor forma de se atuar contra a violência obstétrica", apontou o conselheiro Jan Pachnicki.
Para tanto, o CRM-PR conduzirá o desenvolvimento de uma campanha envolvendo diferentes entidades de forma a promover o parto adequado, com orientações aos profissionais de Medicina e à sociedade, propiciando real conhecimento de ações que possam ser entendidas como "violência obstétrica" e ilícito ético.