28/12/2022
Roberto Issamu Yosida
Chegamos ao final de 2022. Cumprimos todas as atribuições legais do CRM-PR. E não poderia deixar de ser assim. Afinal, é função de uma casa de ética médica que acolhe 34.561 partes iguais, que são o total de médicos ativos que exercem a Medicina no Estado (até 22/12).
As proposições dos conselheiros são objeto de contínuo e incessante trabalho de todos, inclusive dos nossos colaboradores e da sociedade.
No período do ano civil que se encerra (2022), nenhuma escola de Medicina foi inaugurada no Paraná. Aliás, essa situação perdura desde o ano de 2018.
Hoje, temos a avaliação das escolas médicas para que a qualidade do ensino seja aferida dentro de padrões internacionais por meio do Sistema de Acreditação de Escolas Médicas (Saeme), desenvolvido e implementado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), com o apoio de especialistas da área médica.
Mantivemos o processo de Revalidação hígido na medida da legislação vigente.
Melhoramos as condições de trabalho com fiscalizações, educação e prevenção.
Combatemos a invasão dos atos médicos diariamente com a justeza e a força da Lei.
Ainda, todo médico vítima de violência no Paraná recebeu o acolhimento merecido a partir de contatos pessoais de membros da diretoria, ao mesmo tempo em que empreendemos esforços na prevenção à segurança dos profissionais e o devido processo legal contra a impunidade.
Todas as sugestões, e também as críticas, foram acolhidas e mereceram o devido encaminhamento ou esclarecimento, inclusive com a respeitosa interação, quando foi possível.
Há alternativa em curso, ainda que não perfeita, que vislumbra uma carreira de médico de estado.
O incentivo da participação nas decisões políticas que afetam a atividade médica foi bem-feito. E o futuro dirá se as decisões do passado foram corretas.
Fiscalizamos, inscrevemos e julgamos. Os números atestam tudo isso e são públicos para quem desejar conferir. E não são impressões. São números.
Realizamos com dedicação a educação médica continuada, registrando mais de 125.000 participações ao longo desta jornada de mais de uma década de perseverança e crença nesse ideal de educar para prevenir e não julgar.
Exaltando o trabalho efetivo de nossas câmaras técnicas, cumprindo a sua missão de apoio à coletividade nas demandas relativas às especialidades médicas, merece igualmente destaque o papel desempenhado pelas comissões de trabalho ao longo do exercício, como as de ensino médico, telemedicina, comunicação institucional, certificação digital de documentos médicos, integração com estudantes e jovens médicos e de saúde do médico.
No último ano, algumas novas surgiram e outras foram revigoradas. Neste conjunto, ganham destaque as comissões de defesa do ato médico, de prevenção à violência contra médicos, de prevenção e proteção de dados, de assuntos legislativos, de consultas e pareceres e a de combate à dependência química e suicídio.
A mais recente de todas, criada em novembro de 2022, a comissão de combate à dependência química e suicídio surge ante ao preocupante fenômeno que coloca o médico no topo da pirâmide entre as profissões mais expostas às vulnerabilidades mentais – somadas às físicas – na luta diária pela vida e para amenizar o sofrimento alheio. Estudos e estatísticas recentes reforçam a concepção de que o drama da pandemia alargou esse abismo e fragilizou ainda mais o médico, em especial o da "linha de frente" e que enfrentam, muitas vezes, jornadas extenuantes e limitações de recursos técnicos e de insumos.
Esta não é uma batalha individual. Exige solidariedade, responsabilidade e consciência coletiva, eis que o ato do médico aflito, prostrado, insensato, trará impactos negativos em seu entorno de convívio e atividade, na maioria das vezes. As primeiras reuniões da comissão referendaram a envergadura do problema e o quanto será preciso trabalhar, com respaldo especializado, para promover campanhas de esclarecimento, de conscientização e de enfrentamento.
O CRM-PR abraça esta causa por enxergar a sua nobreza e necessidade de apoio ao médico ‑ e também ao estudante de Medicina – enquanto fragilizado e impotente para cumprir seu mister perante uma sociedade cada vez mais exigente e angustiada com suas próprias limitações. O médico ou médica em dificuldade será acolhido e direcionado para que encontre forças para superar seu momento e conquiste a necessária reabilitação. Seus colegas, a exemplo de diretores técnicos e clínicos dos serviços em que trabalham, devem ser resilientes e conscientes, contribuindo para o êxito deste processo.
O primeiro exemplo prático da comissão mostra a relevância de seu propósito e o quanto é marcante num cenário em que, via de regra, os profissionais em atividade anseiam por ações contínuas do Conselho que impactam positivamente em seu cotidiano. Poucas semanas após sua ativação, a comissão acolheu caso de ideação suicida e teve intensa participação na resolução dele. O pronto atendimento da situação, com a participação em conjunto com várias autoridades internas e externas, permitiu a ação, neutralizado o risco iminente e possibilitando as providências que o momento exigia.
Na condição de dirigente do conselho de classe, para mim este episódio é um marco. E espero que seja para todos que, de algum modo, possam contribuir para aliviar o sofrimento alheio ou, mais ainda, mitigar risco de vida de um profissional de Medicina. Os suicídios e atos tentados estão presentes em nosso meio de forma muito marcante. É a realidade. O consolo é que podemos (e devemos) lutar para reverter isso.
A vida é como ela é: muito esforço e a alegria de sucesso em um caso! Tudo valeu!
*Roberto Issamu Yosida é conselheiro e presidente do CRM-PR.