07/08/2008
Cursos "inadequados" formam 1 em cada 4 médicos do país
Os cursos tiveram notas 1 e 2 em indicador do MEC, que leva em conta uma prova, o perfil do corpo docente e a satisfação
dos alunos.
Levantamento divulgado ontem pelo Ministério da Educação revela que 27 cursos de medicina do país "não têm condições de
funcionar", nas palavras do próprio governo.
Nessas escolas, cerca de 2.600 alunos se formam anualmente, o que representa 1 a cada 4 médicos que terminam o ensino
superior na área.
Os cursos mal avaliados tiveram notas 1 e 2 em um novo indicador criado pelo MEC, o CPC (Conceito Preliminar de Curso),
que vai de 1 a 5. Ele contabiliza desempenho e evolução dos alunos no Enade 2007 (antigo Provão), perfil do corpo docente
(como titulação dos professores) e a satisfação dos estudantes, com base no questionário do Enade.
Nos anos anteriores, o ministério considerava apenas o desempenho e a evolução dos universitários na prova.
Em medicina, foram analisados 153 cursos. Apenas quatro obtiveram a nota 5, que significa "referência na área".
Outras 15 áreas também foram avaliadas, a maioria ligada à saúde (odontologia, veterinária, fisioterapia, nutrição,
entre outros). Analisou-se ainda agronomia, zootecnia e tecnologia em agroindústria.
Do total de 3.239 cursos, 25% obtiveram notas 1 ou 2, grande parte de instituições privadas, e 21,4% ficaram entre
4 e 5 (1.211 não tiveram nota, por impossibilidades estatísticas).
A Unesp teve o maior número de notas máximas (seis cursos). Por outro lado, a Universidade Estadual Paulista também
teve curso mal avaliado (educação física em Rio Claro, com conceito 2). USP e Unicamp não participam do Enade, por não concordar
com a metodologia adotada.
Maior universidade do país, a Unip teve o maior número de "sem condições": 26 cursos com nota 2. A Uniban, também entre
as maiores instituições do país, chegou a ter nota 1.
Para calcular o número de estudantes formados nos cursos de medicina, a Folha usou o último Censo da Educação Superior,
com dados de 2006 -o de 2007 ainda não está disponível.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que, com base nos novos indicadores, a fiscalização dos cursos será
mais rígida. O próximo passo será enviar uma comissão de especialistas às instituições que tiraram notas 1 e 2.
O Inep, órgão do MEC responsável pela avaliação, pretende começar as visitas em um mês. Elas vão verificar se as
condições das escolas diferem da mostrada pelos indicadores.
Uma das maiores reclamações das universidades é o boicote dos estudantes. Caso o conceito continue baixo, o MEC diz
que abrirá processo para analisar o fechamento do curso.
Crítica
"As escolas que tiraram conceito 1 deviam ser fechadas. Não reúnem a menor condição para o ensino da medicina", diz
Antonio Carlos Lopes, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), presidente da Sociedade Brasileira de Clínica
Médica e ex-presidente da Comissão Nacional de Residência Médica do MEC.
Entidades que representam instituições de ensino superior privadas disseram que não são contrárias a avaliações,
mas se posicionaram contra a criação do novo conceito de avaliação, o conceito preliminar, que consideram "improvisado".
"Ninguém critica a avaliação, que é uma necessidade. A crítica trata da fórmula, do formato e da metodologia [utilizadanonovoconceito]",
afirmou José Roberto Covac, advogado do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, que diz reunir
80% das instituições do setor. Em nota, o fórum afirma que, se o Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior)
não for totalmente implementado, instituições de ensino superior "serão obrigadas a mudar seus projetos para transformarem-se
em cursos preparatórios sobre Enade".
Fonte: Folha de S. Paulo, publicado em 07/08/2008