04/01/2023
Cuidados paliativos aliviam dor em mais de 90% dos pacientes com câncer
Método foi o utilizado nos últimos dias de vida de Pelé, o rei do futebol. Segundo a OMS, mais de 25 milhões de pessoas necessitam
de cuidados paliativos no último ano de vida
Os cuidados paliativos visam melhorar a qualidade de
vida de pacientes que apresentam uma doença grave. O termo ganhou destaque com a morte do jogador Pelé, que
recebeu o diagnóstico de câncer de cólon em 2021 e estava internado desde o dia 29 de novembro de 2022
com cuidados paliativos. Ele faleceu um mês depois, deixando o mundo do futebol em luto. De acordo com a Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS), o método alivia a dor em mais de 90% dos pacientes com câncer.
A Organização Mundial da Saúde
(OMS) aponta que “os cuidados paliativos são aplicáveis no início do curso da doença, em
conjunto com outras terapias destinadas a prolongar a vida”. A entidade aponta que, a cada ano, cerca de 56,8 milhões
de pessoas, incluindo 25,7 milhões no último ano de vida, necessitam de cuidados paliativos. Ainda segundo a
OMS, apenas cerca de 14% das pessoas no mundo que precisam de cuidados paliativos, os recebem atualmente.
A cirurgiã oncológica e coordenadora de cuidados
paliativos da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Cláudia Naylor, diz que há uma limitação
de pesquisas sobre o momento do encaminhamento para cuidados paliativos especializados quando um paciente é diagnosticado
com algum tipo de câncer: “No caso da Oncologia, infelizmente o mais comum é que o cuidado paliativo ocorra
quando a doença se torna progressiva, depois de terapia de primeira e segunda linha ou quando o paciente passa
por grave sofrimento físico, psicológico ou espiritual”, afirma.
A integração entre cuidados paliativos e o tratamento com intenção
curativa é vital, visto que os pacientes e suas famílias geralmente se defrontam com cuidados prestados por
vários profissionais diferentes, de várias especialidades, e em diferentes ambientes: “A melhor qualidade
de vida possível é o principal objetivo dos cuidados paliativos e o gerenciamento ideal de sintomas é
o meio para alcançá-la”, explica.
MITOS ASSOCIADOS AOS CUIDADOS PALIATIVOS
Cuidados paliativos significam todos os tratamentos direcionados a pacientes cuja doença não
responde mais a nenhuma intervenção farmacológica ou cirúrgica. No entanto, a falta de conhecimento
dos profissionais de saúde e população em geral sobre o assunto está associada a mitos e equívocos,
que levam a baixos índices de encaminhamento e mau uso desses serviços.
Dessa forma, pacientes com doença avançada recebem os cuidados paliativos
muito tarde no curso da doença, provavelmente devido ao medo e à desinformação. Prova disso é
uma das metas da Union for International Cancer Control (UICC) até 2025: dissipar mitos e equívocos sobre a
doença e reduzir o estigma associado aos cuidados paliativos, garantindo a melhoria da qualidade de vida dos pacientes
e familiares.
Cuidados paliativos
em tratamento curativo x tratamento oncológico
A integração do Cuidado Paliativo Precoce (CPP) é um processo complexo que geralmente
abrange ambientes comunitários, incluindo relações sociais e de trabalho, e institucionais com planos
de cuidados centrados no paciente, ou seja, em seu “momento” tanto no tratamento quanto na doença.
É necessário haver flexibilidade,
pois alguns pacientes precisarão se mover entre diferentes níveis de cuidados ao longo da trajetória
da doença. A abordagem paliativa vai depender do status funcional do paciente e de sua carga de sintomas:
Paciente relativamente estável com carga
de sintomas limitada pode requerer apenas um nível de vinculação com os CPP, com a maior parte de seus
cuidados sendo administrados por sua equipe de atendimento habitual;
Paciente com doença avançada que apresente uma carga de sintomas além do escopo
de sua equipe de cuidados habituais pode se beneficiar de cuidados coordenados por equipe especializada em cuidados paliativos;
E paciente no final da vida com carga grave
de sintomas se beneficiará de serviços totalmente integrados, seja em ambiente hospitalar ou em seu domicílio,
para os cuidados finais.
Quadro
de terminalidade de um paciente oncológico
Na fase de terminalidade, a maioria dos pacientes com câncer avançado experimenta uma deterioração
progressiva em seu estado funcional global, ocorrendo um aumento da carga de sintomas nesses últimos meses/semanas
de vida, geralmente associado a um declínio concomitante na função respiratória, em seu estado
nutricional e mesmo na cognição, às vezes precipitado por complicações agudas que requerem
visitas recorrentes ao pronto-socorro e eventuais hospitalizações, quando não há uma abordagem
adequada dos sintomas.
Por sua vez, o reconhecimento
da fase terminal da doença facilita o planejamento dos cuidados de fim de vida; prepara a família, paciente
e cuidadores; envolve discussões sobre preferências como local da morte e questões quanto ao controle
de sintomas. Mas é necessário enfatizar que o reconhecimento tardio de que a morte está próxima
geralmente resulta em gerenciamento inadequado dos sintomas e atendimento psicossocial muito abaixo do ideal.
Como acontecem os Cuidados Paliativos
A comunicação com os pacientes e suas famílias
é fundamental na fase terminal, pois promove confiança entre eles e a equipe de saúde. Essa sensação,
por parte de pacientes e cuidadores, de não serem abandonados contribui para o bem-estar e auxilia no enfrentamento
da evolução da doença e do luto subsequente.
Cláudia Naylor explica que os pacientes variam em seu desejo de saber se estão chegando
perto da morte. Nos casos em que eles preferem não ser informados, é de vital importância pedir permissão
para falar com seus familiares. A discussão deve ser conduzida com sensibilidade, habilidade, paciência e empatia,
todas habilidades treináveis. Essa comunicação bem realizada contribui para redução dos
pedidos de intervenções médicas agressivas próximo à morte, assim como tende a diminuir
a morbidade e o luto.
Os maiores temores,
tanto de pacientes quanto seus familiares, são a dor não aliviada adequadamente, falta de ar e outros sintomas
graves. Por isso, eles precisam ter certeza de que essas questões serão tratadas meticulosamente. Afinal, faz
parte dos cuidados integrais manter o sentido de controle e dignidade do doente e sua família, e assim, preservar a
esperança em uma morte sem o sofrimento possivelmente evitável.
Referências Bibliográficas
1 - Organização Panamericana de Saúde (OPAS). https://www.paho.org/pt/topicos/cancer. Disponível em 3 de janeiro de
2022.
2 – Organização
Mundial da Saúde (OMS) - https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/palliative-care. Disponível em 3 de
janeiro de 2022.
3 - Union for International
Cancer Control [UICC] World Cancer Declaration. https://www.uicc.org/what-we-do/advocacy/world-cancer-declaration. Disponível
em 3 de janeiro de 2022.
Sobre
a SBCO
Fundada em 31 de maio de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) é
uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos
e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer. Sua missão é também
promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção,
detecção precoce e o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia
oncológica brasileira. É presidida pelo cirurgião oncológico Héber Salvador (2021-2023).