12/11/2008
Cuidado: estudante de medicina malformado é o médico de amanhã
Divulgado ontem (8), o Exame do Conselho Regional de Medicina reprovou 61% dos estudantes de sexto ano de medicina. É um absurdo
já esperado. Afinal, a toda hora vemos escolas médicas sendo abertas sem critério, baseadas em um modelo pedagógico medíocre
e inconsistente. São faculdades sem hospital, portanto, não dão aos acadêmicos a possibilidade de conhecer a realidade do
atendimento e de aprender em serviço, com mestres qualificados. Ao contrário, normalmente têm corpo docente desqualificado
e falhas graves na grade curricular.
Outro agravante é o fato de estas escolas manterem parcerias com vários hospitais ao mesmo tempo, enviando grupos de alunos
a instituições de saúde diferentes, com orientações totalmente diversas.
Tais fatos são apenas o desfecho de uma trajetória que já absolutamente equivocada. O disparate se inicia com um vestibular
que não seleciona. Basta ter condições financeiras para freqüentar um dos inúmeros cursos de medicina abertos com objetivos
meramente comerciais.
Tais instituições, volto a frisar, ostentam corpo docente desqualificado; nem mesmo 30% de professores têm mestrado ou
doutorado. Pior do que isso, boa parte não têm nem mesmo titulo de especialização.
A falta de infra-estrutura, de recursos humanos e de materiais nos hospitais para os quais os alunos são encaminhados
é grave. Obviamente não conseguem colocar em prática o que não aprenderam em sala de aula.
É preciso dar um basta no desserviço que o governo vem prestando à comunidade e obedecer a rígidos critérios para abertura
de escolas médicas. Um documento para normatizar e fiscalizar estas instituições já existe e foi elaborado por uma comissão
constituída especificamente para esse fim. Infelizmente, está esquecido por não ir ao encontro dos interesses que envolvem
a abertura de escolas médicas.
Está na hora de rever a importância do modelo pedagógico e da metodologia do ensino médico para assistir, com tranqüilidade,
à medicina que será levada à população pelas mãos destes futuros médicos.
Prof. Antonio Carlos Lopes é professor titular da Unifesp, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e ex-secretário
executivo da Comissão Nacional de Residência Medicado MEC