10/07/2015
Situação foi debatida na sexta-feira (10) em audiência na Casa Civil e que teve a intermediação do CRM-PR
A crise financeira que atinge a Santa Casa de Irati, ameaçando o iminente fechamento de serviços como a UTI neonatal, foi motivo de audiência realizada na manhã da última sexta-feira (10) na Casa Civil do Governo do Paraná e que teve a intermediação do Conselho Regional de Medicina do Paraná. O secretário Eduardo Sciarra, que já foi deputado federal e representante político da região, comprometeu-se em desenvolver gestões no âmbito do Estado e também do governo federal para alocar os recursos necessários para que a população de Irati e dos municípios circunvizinhos não fique desassistida. Expressou, na ocasião, a sua expectativa de que até o final deste ano as finanças do Paraná estarão estabilizadas e com disponibilidade de recursos para investimento.
Com o fechamento de muitos hospitais na região, a Santa Casa de Irati vem absorvendo grande demanda, com o que seus custos aumentaram muito, a ponto de registrar defasagem mensal da ordem de R$ 200 mil. As dívidas acumuladas pela instituição já somam R$ 5 milhões. Antes da audiência com o secretário, a administração já havia exposto o problema aos deputados que representam a região, para os três senadores do Paraná e aos prefeitos, além da 4ª. Regional de Saúde.
Como iniciativa imediata, o secretário da Casa Civil já contatou o par da Pasta da Saúde, Michele Caputo Neto, que manifestou solidariedade e que está avaliando as condições em que o Estado pode contribuir para que a Santa Casa continue atendendo a população da região e oferecendo serviços de qualidade. Na manhã desta segunda-feira, 13, durante a audiência pública de mobilização das santas casas, na Assembleia Legislativa do Paraná, o secretário Michele Caputo Neto ressaltou a importância das santas casas e expressou o apoio ao movimento nacional visando mais recursos e condições de funcionamento. O secretário disse que deve ser agendada para os próximos dias a reunião para debater a questão específica da Santa Casa.
A audiência com o secretário Eduardo Sciarra, em seu gabinete na Casa Civil, teve as participações do presidente do CRM-PR, Luiz Ernesto Pujol, do provedor da Santa Casa de Irati, Germano Strapasson, também presidente do Sindicato dos Hospitais de Irati e Região, e ainda de Sidney Barankevicz, diretor administrativo da instituição hospitalar e diretor do mesmo sindicato patronal. Luiz Ernesto Pujol manifestou a preocupação com o problema e assinalou que o Conselho continuará atento aos desdobramentos para assegurar que não haja desabastecimento assistencial.
Números da crise
As dificuldades vivenciadas pela Santa Casa de Irati foram expostas em ampla matéria veiculada há alguns dias no jornal “Folha de Irati”. A reportagem de autoria da jornalista Kelly Ramos mostra o risco de a unidade hospitalar ter de enxugar sua estrutura diante da crise, que decorre de perdas financeiras mensais e dívida acumulada. Confira o material jornalístico abaixo.
Serviços em risco
Dados do ano de 2014 mostram que a situação financeira da Santa Casa de Irati não é boa. O acúmulo de dívidas chega a R$ 5 milhões. A falta de reajuste nos repasses feitos pelo Estado e, principalmente, pela União, somados ao aumento dos custos, tem sido a fórmula que pode ter consequências preocupantes para a população, como o fechamento de algum setor de atendimento, como por exemplo a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal da entidade.
De acordo com o diretor administrativo, Sidnei João Barankevicz, há um ano a instituição assumiu aproximadamente R$ 150 mil a mais em despesas. O valor é referente a todos os aumentos, como salários dos funcionários ‑ que receberam o valor referente a inflação anual (8%), honorários dos médicos, medicamentos, alimentação, energia elétrica, entre outros.
Por mês, somente na folha de pagamento o acréscimo foi de R$ 50 mil. Honorários médicos mais R$ 40 mil, assim como R$ 30 mil a mais em medicamentos. Já a conta de luz, que no primeiro semestre de 2014 era R$ 21 mil/ mês, passou para R$ 40 mil nos seis primeiros meses desse ano.
“Não houve nenhum reajuste do Governo Federal. O último aconteceu em agosto de 2013. Já o Governo do Estado reajustou apenas o que se refere ao Mãe Paranaense em janeiro de 2015, que representa R$ 40 mil por mês”, explica.
Sidnei fala que houve aumento de repasses. Contudo, o acréscimo é atrelado à ampliação de atendimentos, como por exemplo: absorção completa da demanda de Imbituva e Inácio Martins, desde que tiveram seus hospitais fechados, e de Rebouças, que mesmo tendo uma entidade hospitalar, encaminha pacientes a Irati. Além da demanda de atendimentos a pacientes vindos da região, desde novembro de 2013 o hospital passou a ter um ambulatório de especialidades, no qual são realizadas 600 consultas mensais e 100 cirurgias eletivas.
Francine Yotoko Ferreira, que também é diretora de administração da Santa Casa, explica que anteriormente o déficit mensal era de R$ 50 mil. Junto a esse valor, estão sendo somados mais R$ 150 mil, o que tem resultado em um prejuízo de R$ 200 mil todos os meses. Segundo ela, a direção está procurando soluções internas, que poderão ser demissões de funcionários, corte de todas as despesas possíveis e até diminuição de atendimentos que não são competência da Santa Casa. Ela ressalta que o atendimento a convênios e os particulares não terão alteração.
“Também não será mais possível realizar atendimentos além do que está pactuado com os municípios através das Autorizações de Internações Hospitalares (AIHs), pois 87% dos atendimentos são oriundos do Sistema Único de Saúde (SUS)”, explica Francine. A diretora deixa claro que pacientes em situação de emergência continuarão sendo recebidos, normalmente.
De acordo com os diretores, atualmente, o setor que mais proporciona prejuízos é o da UTI neonatal, que possui 10 leitos via SUS, o qual cobre apenas a menor parte dos custos. Para mantê-la em funcionamento, por mês, são aplicados R$ 200 mil. Esse setor absorve plantonistas 24 horas, direção técnica, equipe de enfermagem e mais uma equipe multiprofissional qualificada. “Ainda não definimos sobre o fechamento. Estamos buscando ajuda com os municípios e com o Estado e Governo Federal. Se acaso isso não ocorra, a região precisará ter um hospital de referência, para onde as gestantes serão encaminhadas previamente”, explica Sidnei.
A situação financeira da Santa Casa foi discutida com a irmandade, composta pelos conselhos administrativo e deliberativo. Segundo Francine, o hospital nos últimos cinco anos cresceu consideravelmente e tem projetos de melhorias para o futuro. “Não é intenção nossa e nem da irmandade ter que regredir. Vamos ter mais uma conversa com o Estado. Não há nada definido ainda”, ressalta. Se nada for feito, a expectativa é que daqui um ano a dívida esteja na casa dos R$ 10 milhões.
A diretora conta que o problema já foi exposto aos deputados que representam a região, para os três senadores do Paraná e aos prefeitos.
O provedor da Santa Casa, Germano Strassmann, explica que se isto ocorrer comprometerá uma situação, que conforme os dados disponíveis no portal (www.portalodm.com.br) demonstra dados que em Irati, em 1995, eram 29,3 óbitos a cada mil nascidos vivos. Em 2013, este percentual passou para 10,0 óbitos a cada mil nascidos vivos, representando redução de 66 % da mortalidade infantil. “É evidente que mais instituições trabalharam para que esse número fosse possível. Vale ressaltar que os números de Irati são melhores que os de Guarapuava, Ponta Grossa, Campo Largo e Curitiba”, informa.
Estado
O chefe da 4ª Regional de Saúde, João Almeida Junior, fala que foi solicitada, no dia 6 de julho, uma planilha de custos da UTI neonatal para Santa Casa de Irati. Segundo ele, após conhecerem detalhadamente os valores necessários, vão buscar formas para ajudar.
“Não queremos que nenhum leito feche. Sabemos da importância que a UTI neonatal tem para a região e quantas vidas já salvou”, comenta. Almeida expõem que mensalmente, o governo do Estado, repassa para a entidade R$ 250 mil para custeio. “Nos últimos quatro anos aumentamos em 84% o valor destinado para a Santa Casa. Nós vamos ajudar, mas é preciso deixar claro que a maior falha é vinda do Governo Federal. O que nos acordamos com o hospital, estamos fazendo, como é o caso das cirurgias eletivas”, afirma o chefe da 4ª Regional.