18/04/2008
Cresce número de nascimentos de bebês prematuros no Brasil
A cada ano, mais bebês prematuros nascem no Brasil. Em 2000, 109.210 partos até a 36ª semana (oito meses) de gestação
foram feitos no País. Em 2005, segundo dados recentes do Ministério da Saúde, esse número passou para 123.569, um crescimento
de 13%. Essas crianças nasceram com menos de 2,5 quilos e passaram até mais de três meses numa UTI.
Para especialistas, o avanço da assistência pré-natal é uma das causas. Há alguns anos, essas crianças morreriam antes
do parto. A falta dos mesmos exames pré-natais, no entanto, também explica esse aumento.
Hoje, uma gestante faz em média 5,2 exames pré-natais no Brasil, abaixo das 6 consultas recomendadas pela Organização
Mundial da Saúde. 'Não basta fazer pré-natal. É preciso que seja bem-feito, com todos os exames básicos', diz o diretor de
ações estratégicas do Ministério da Saúde, Adson França.
O ministério não tem índices abrangentes sobre a mortalidade desses bebês, pois as certidões de óbito normalmente trazem
as complicações e doenças decorrentes da prematuridade e do baixo peso como causa da morte - e não o fato de terem nascido
antes dos nove meses. Os médicos, porém, falam em taxas que variam de 50% a 90%, de acordo com o tempo de gestação e peso
ao nascer.
Abaixo de 2,5 kg, o bebê é considerado de baixo peso. Com menos de 1,5 kg, passa para o nível de muito baixo peso. Abaixo
de 1 kg, são os casos de muitíssimo baixo peso - que têm maior risco de complicações neurológicas e motoras.
Os dados do ministério, apesar de pouco significativos, mostram que a mortalidade variou pouco nos últimos anos. Em 2000,
1.656 óbitos foram registrados. Cinco anos depois, eram 1.515, registro bem abaixo do esperado.
A boa notícia é que alguns centros médicos vêm conseguindo baixar os índices de mortalidade. Em São Paulo , no Instituto
da Criança, do Hospital das Clínicas (HC), a taxa de sobrevivência de bebês de muitíssimo baixo peso é de cerca de 50%. Para
os de muito baixo peso é de cerca de 80%.
O neonatologista Mário Cícero Falcão, do Instituto da Criança, explica que, em gestantes adolescentes e mulheres mais
velhas, a probabilidade de parto prematuro é maior. 'O útero de uma adolescente ainda não está formado para conseguir suportar
os nove meses de gestação.'
Angústia
Luca nasceu no dia 3 de março, com 31 semanas de gestação, 30 centímetros e 970 gramas, peso esperado para um feto de
28 semanas. Em pouco mais de um mês, conseguiu chegar a 1,4 kg, mas só deve sair da UTI neonatal quando chegar a 1,8 kg, o
que pode demorar mais de um mês.
Sua mãe, Silvana Porto Benício, personal trainer, de 33 anos, fez todos os pré-natais e vinha tendo uma gravidez tranqüila.
Em março, porém, o último pré-natal detectou que Luca não estava mais sendo nutrido através da placenta e já não se mexia
mais. No mesmo dia, Silvana foi internada para fazer a cesariana.
Há mais de um mês, Silvana passa os dias na UTI. No dia em que o Estado visitou o hospital, ela estava angustiada. Após
alguns dias sem ganhar peso, Luca não havia acordado para mamar. 'Quando chego em casa, todos os dias, começo a chorar. É
desesperador.'
Infecções, diabete e hipertensão também podem causar o parto prematuro. Na Maternidade Municipal de Vila Nova Cachoeirinha,
zona norte de São Paulo, 837 bebês com menos de 2,5 kg nasceram em 2007. A maternidade, referência para gestações de alto
risco, também registrou em média o nascimento de uma criança com menos de 1,5 kg a cada dois dias. 'Isso é resultado das doenças
das gestantes e, muitas vezes, de assistência pré-natal deficiente', diz a diretora clínica do hospital, Miriam Faria.
A maternidade conseguiu baixar os índices de mortalidade de 29,6 por mil nascidos vivos, em 1997, para 13,3, em 2007.
Hoje, a mortalidade de bebês com menos de 750 gramas é de 60%. Para os menores de 1 kg é de 40%. Segundo Miriam, isso é resultado
de treinamento e adoção de protocolos únicos para todo o corpo clínico.
Segundo a coordenadora da área técnica de saúde da criança e do adolescente da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo,
Clea Leone, o aumento da prematuridade é fenômeno mundial, resultado da melhoria no pré-natal e da fertilização assistida,
que costuma resultar na gestação de gêmeos.
Em São Paulo , a mortalidade neonatal caiu de 9,78 por mil nascidos vivos, em 2001, para 8,3, em 2006. Naquele ano, o
índice de prematuros com menos de 2,5 kg foi de 9,5% e, com menos de 1,5 kg, de 1,5%. 'Hoje, a grande questão é a qualidade
de vida que essas crianças vão ter no futuro', diz Clea.
Sobrevivência também aumentou
As chances de sobrevivência de bebês prematuros com baixo peso cresceu nos últimos anos acompanhando o avanço das técnicas
pré-natais e perinatais. Segundo a neonatologista do Hospital e Maternidade São Luiz, Míriam Rika, uma gestação de 23 semanas
é o limite mínimo com que os médicos trabalham para salvar um recém-nascido prematuro com muitíssimo baixo peso.
Míriam afirma que, no passado, a vida desses bebês estaria condenada. 'Até há algum tempo, a taxa de mortalidade de bebês
com menos de 27 semanas era de praticamente 100%', diz.
O uso de corticóides durante a gravidez e de surfactantes (espécie de detergente natural que permite a abertura dos alvéolos
pulmonares, evitando a falta de ar) após o parto possibilitam que o bebê sinta menos os efeitos da síndrome da angústia respiratória,
comum em prematuros. 'Os sistemas de ventilação mecânica também melhoraram muito', explica Miriam.
Fonte: O Estado de São Paulo