22/09/2008
Cresce em 66% no País o número de hospitais de planos de saúde
Já são 500 estabelecimentos; crescimento polêmico é explicado pela necessidade de redução de custos
O número de hospitais administrados por planos de saúde aumentou 66% nos últimos dois anos no Brasil. O crescimento
é motivado pela preocupação de operadoras do setor em reduzir custos com assistência médica e fomenta um intenso debate sobre
possíveis prejuízos à qualidade geral dos serviços.
Segundo dados do mercado, atualmente 500 hospitais no País são administrados por planos, ante 300 há dois
anos. Um exemplo é o tradicional Hospital Nove de Julho, na região da avenida Paulista, que há cerca de seis meses é administrado
pela empresa Esho, do controlador da Amil, Edson de Godoy Bueno. No entanto, ele continua aberto também para o atendimento
de convênios de outras empresas.
"A idéia é ter um controle melhor do custo, é uma tendência", afirma o presidente da Associação Brasileira
de Medicina de Grupo (Abramge), Arlindo de Almeida. O fenômeno, chamado de verticalização, é verificado principalmente entre
operadoras de planos, uma vez que as seguradores têm limitações legais para adquirir serviços. As operadoras são as que têm
mais usuários e que só permitem o uso de médicos indicados.
Almeida explica que as empresas do setor tradicionalmente possuem seus próprios serviços, mas a abertura recente
de capital na Bolsa de Valores por grandes empresas do setor, como Amil e Medial, impulsiona novas aquisições.
Além disso, as compras de pequenas e médias empresas de planos por grandes companhias do setor faz com que
determinadas operadoras tenham um maior número de serviços sob seu controle. "Enxergamos a verticalização como um modelo de
gestão da saúde do beneficiário", afirma Wilson Cappellete, diretor da unidade de negócios Hospitais da Medial, que recentemente
assumiu hospital no DF.
Apesar de a Amil ter optado por não controlar todo o Hospital Nove de Julho, o caso é visto no mercado como
principal exemplo do interesse do setor em controlar os prestadores de serviço. A Esho já administra diferentes serviços de
saúde. Procurados, Bueno e Amil não quiseram comentar a aquisição.
Preocupação
"Nós olhamos essas mudança com muita preocupação", diz o diretor-executivo do Hospital Santa Catarina, Fabio
Tadeo Teixeira. Representantes de hospitais privados independentes, de grande porte, como o Santa Catarina, o São Luiz e o
Albert Einstein têm alertado que a verticalização poderá afetar a qualidade geral de atendimento, com cortes de exames e insumos
hospitalares. Destacam ainda que o fato de estarem sendo preteridos pelos convênios poderá significar menor recursos para
que continuem a investir em tecnologias.
"Teremos uma redução de mercado e de investimentos, conseqüentemente os hospitais privados não conseguirão
manter a evolução tecnológica e não temos garantia de que as operadoras farão isto. A expectativa é que o grau de qualidade
reduza como um todo", continuou Teixeira, que destaca que, diferentemente das operadoras, o setor tem limitações legais para
abrir o capital na Bolsa. "Talvez tenhamos ilhas de qualidade, para pacientes particulares e internacionais. O mercado será
nivelado por baixo."
"Eles fazem esses questionamentos porque estão preocupados com a concorrência", rebate Almeida, que destaca
que são raros os hospitais de planos que atendem só um tipo de convênio médico. "E os outros convênios só internarão nesses
lugares se o serviço tiver qualidade", continuou.
"Concorrência é bom", diz o diretor de Normas e Habilitação de Operadoras de Saúde da Agência Nacional de
Saúde Suplementar, Alfredo Cardoso. "Mas também já tivemos experiências de verticalização que não foram eficientes, o custo
era maior e a qualidade, pior", alertou.
Fonte: Estado de São Paulo