09/12/2008

Coração mais potente

Cardiologistas usam novo tipo de transplante para tratar doença cardíaca



Médicos do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) realizaram pela primeira vez no Rio de Janeiro o transplante de tecido doado, cujas células foram eliminadas em banho químico, numa mulher, de 29 anos, que sofre de uma doença rara, chamada tetralogia de Fallot.

Esta anomalia congênita geralmente é corrigida na infância, mas a doença pode deixar seqüelas, como grave estreitamento da artéria pulmonar, problemas no ventrículo e na artéria aorta. A paciente recebeu uma nova válvula pulmonar há um mês e agora corre menor risco de passar por outras cirurgias.

Na técnica, conhecida como transplante de homoenxerto descelularizado, o tecido tirado de um cadáver recebido passa previamente por um processo de lavagem com detergentes especiais, que retira células que podem levar à rejeição e mantém intacta a estrutura.

Depois ele é implantado no receptor. O método aplicado no INC lembra o que foi usado este ano na colombiana Claudia Castillo, de 30 anos. Ela sofria problemas respiratórios devido à tuberculose e ganhou uma nova traquéia feita a partir do órgão de um doador morto num acidente de trânsito.

Só que no caso de Claudia, os médicos do Hospital de Barcelona repovoaram a base da traquéia com células-tronco extraídas da sua própria medula e traquéia. A experiência européia foi publicada na revista "Lancet" e cientistas afirmam que ela se tornará rotina.

- No caso da brasileira operada no INC, poderia ser usado qualquer tipo de prótese de válvula pulmonar, só que o homoenxerto descelularizado tem menor chance de calcificar novamente, reduzindo assim a chance de novas intervenções - explica o médico Andrey Monteiro, chefe da cirurgia pediátrica do INC, que participou da operação.

Método pode servir em outros órgãos
Válvulas convencionais tendem a se deteriorar com o passar dos anos. O INC acredita que nos próximos dois a três anos seus médicos terão condições também de repovoar homoenxertos descelularizados com células-tronco dos próprio pacientes. A mesma técnica poderá ser aplicada em tratamentos de outras estruturas cardíacas, como artérias e válvula aórtica. Assim alguns problemas do coração serão resolvidos em definitivo.

O diretor-geral do INC, Hans Fernando Dohmann, diz que uma vez que o tecido tratado quimicamente é implantado no receptor, as próprias células do organismo começam a revestir a matriz. As válvulas são classificadas quanto ao tamanho, compatibilidade sangüínea e imunológica.

- Isso reduz a possibilidade de inflamação e aumenta a durabilidade da válvula, por exemplo. O resultado cirúrgico é melhor - afirma o cardiologista, que, com equipe, apresentou estudo com artérias de animais descelularizadas e recuperadas, no último Congresso Brasileiro de Cardiologia.

Pesquisadores da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba já trabalham há mais tempo como homoenxerto descelularizado, e realizaram o primeiro procedimento num menino de 12 anos, que sofria de insuficiência aórtica. Especialistas da PUC do Paraná, em parceira com a Universidade de Berlim, estudam ainda como aumentar o tempo de duração de válvulas enxertadas.

Uma das técnicas usa apenas fibras de colágeno que formam a estrutura da válvula. Outra alternativa é implantar a válvula descelularizada e adicionar células endoteliais do próprio receptor.



Fonte: O Globo

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