10/07/2009

Controle do tabagismo: é preciso avançar

O BRASIL avançou muito nos últimos anos na regulação e no controle do tabagismo e continua fazendo progressos importantes que põem o país na vanguarda da prevenção do início do hábito de fumar. Bom exemplo são as advertências sanitárias estampadas nos produtos de tabaco, criadas com base em pesquisas que comprovam sua eficácia em reduzir o poder de atração do cigarro. Nesse sentido, o projeto de lei assinado no último dia 22 pelo presidente dos EUA, Barack Obama, traz avanços e merece reflexão.


O projeto norte-americano, entre outras normas, proíbe cigarros com sabor. É uma ideia que vem sendo discutida no Brasil por meio do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer, que, desde 1989, articula em nível nacional ações educativas, legislativas e econômicas com o objetivo de prevenir a iniciação no tabagismo. A iniciativa conta ainda com apoio de diversas instituições envolvidas no movimento antitabagista.


De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o tabagismo é uma doença pediátrica, já que cerca de 90% dos fumantes regulares começam a fumar antes dos 18 anos. E os cigarros com sabor são uma ferramenta poderosa para atrair adolescentes e até crianças, que, num primeiro contato com o cigarro tradicional, têm certa aversão ao gosto do produto.


Documentos internos das companhias de tabaco, divulgados em decorrência de ações judiciais, revelam que os jovens são o público-alvo da indústria quando se trata de atrair consumidores. Além disso, esses textos mostram que, no primeiro contato com o cigarro, o jovem se ressente do sabor forte, e este pode ser um empecilho para que ele se torne um fumante regular. Os cigarros com sabor certamente são uma alternativa para atrair novos fumantes.


Em meados dos anos 80, as pesquisas que resultaram na criação dos primeiros cigarros com sabor de chocolate, baunilha e licor foram consideradas "revolucionárias" pela indústria por terem descoberto um apelo eficaz focado nos fumantes mais jovens. No Brasil, proliferaram as versões com sabor: menta, creme, canela etc.


Pesquisa feita entre 2002 e 2005 pelo Instituto Nacional de Câncer, em parceria com a Universidade Johns Hopkins, dos EUA, revelou que 44% dos estudantes brasileiros de 13 a 15 anos que fumam regularmente preferem cigarros com sabor. A pesquisa ouviu 13.518 alunos de 170 escolas de dez capitais brasileiras.


Ou seja: a atratividade é um componente-chave para a criação da dependência de nicotina e outras substâncias tóxicas do cigarro. É justamente para comunicar os reais efeitos do tabagismo -os graves danos à saúde- que o Brasil obrigou, a partir de 2001, os fabricantes de cigarro a estampar nos maços imagens impactantes de advertência sanitária. O mesmo motivo levou o governo brasileiro a proibir a descrição dos produtos como "light" ou "baixos teores", que transmitem a falsa ideia de que são menos prejudiciais à saúde.


Na verdade, esses cigarros têm maior número de orifícios no filtro, permitindo a entrada de maior quantidade de ar no cigarro, o que dilui os componentes tóxicos da fumaça exalada pelo fumante. E os fumantes, de forma muitas vezes involuntária, reduzem esses orifícios com os próprios lábios ou com os dedos para satisfazer a dependência da nicotina.


Atualmente, 16% dos brasileiros acima de 15 anos moradores das capitais são fumantes. Esse percentual já foi maior. Em 2003, eram 18,8%. Em 1989, quando se pesquisaram capitais e zonas rurais, esse percentual chegou a 32%. Apesar da diferença metodológica entre as pesquisas, está clara a tendência de redução da população fumante no Brasil. É um avanço a ser comemorado por toda a sociedade.


Mas ainda há muito a fazer em relação à política de controle do tabagismo -uma boa ideia é estudar a implementação no Brasil da iniciativa do presidente Obama, que, ao assinar a lei, afirmou que foi um dos tantos adolescentes seduzidos pela indústria do tabaco.


LUIZ ANTÔNIO SANTINI, médico, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e da diretoria da União Internacional Contra o Câncer, é diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer.


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