08/03/2013
Conselhos de medicina aprovam manifesto em defesa do SUS e fazem críticas às medidas anunciadas
"Não podemos admitir que interesses políticos subalternos, financeiros e de mercado decidam sozinhos os rumos e o futuro de
um modelo enraizado na nossa Constituição e que pertence a 190 milhões de brasileiros". Dessa forma termina o Manifesto de
Belém, aprovado na plenária de encerramento do I Encontro Nacional de Conselhos de Medicina, encerrado nesta sexta-feira (8),
na capital paraense. O documento, aprovado por aclamação, sai em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) "público, integral,
gratuito, de qualidade e acessível a toda a população".
Na mensagem dos médicos direcionada à Nação, os representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM) e dos 27 Conselhos
Regionais de Medicina (CRMs) apontam ações anunciadas pelo Governo Federal que, em sua avaliação, se implementadas podem comprometer
o futuro do sistema de saúde brasileiro.
Entre as preocupações dos Conselhos de Medicina estão a possibilidade de entrada de médicos estrangeiros e de brasileiros
com diplomas obtidos no exterios sem sua respectiva revalidação para atender em território nacional. As entidades consideram
que essa medida fere normativas legais e põe a qualidade da assistência em situação de risco, por não permitir a aferição
da competência e da capacidade desses profissionais.
"Trata-se de proposta improvisada, imediatista e midiática, que ignora as questões estruturais do trabalho médico no Sistema
Único de Saúde (SUS) e também o Revalida, exame criado pelo Governo que tem avaliado com justiça a competência e a capacidade
desses médicos interessados em atuar no país", aponta o documento.
As entidades também criticaram a ausência de uma carreira de Estado para o médico, considerada a saída viável para a cobertura
efetiva dos vazios assistenciais nos municípios mais distantes ou nas periferias dos grandes centros. Esta proposta, que já
foi apresentada formalmente ao Ministério da Saúde, prevê que ao se criar essa carreira o Governo oferecerá ao médico uma
política funcional (educação continuada, progressão funcional, remuneração adequada) e, principalmente, infraestrutura de
trabalho (instalações, leitos, equipamentos, insumos, acesso à rede qualificada para encaminhar pacientes, etc).
Finalmente, os Conselhos de Medicina criticaram fortemente a possibilidade de estreitamento nas relações entre o Governo
e as operadoras de planos de saúde. "A intenção de reduzir impostos, dar subsídios e destinar recursos públicos para as operadoras
de planos de saúde, conforme anunciado após encontros de representantes do Governo com empresários do setor, demonstra, de
forma contraditória, o favorecimento da esfera privada em detrimento da pública na prestação da assistência à saúde, cuja
prática tem sido feita sob o signo do subfinanciamento público federal, principal responsável pelas dificuldades do SUS",
afirma a nota.
CONFIRA A ÍNTEGRA DO MANIFESTO ABAIXO:
MANIFESTO DE BELÉM
UMA MENSAGEM DOS MÉDICOS À NAÇÃO BRASILEIRA
O Conselho Federal de Medicina (CFM) e os 27 Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), reunidos em Belém (PA), manifestam
seu repúdio às ações anunciadas, recentemente, pelo Governo Federal que ferem conquistas e diretrizes constitucionais da saúde
pública. As entidades alertam a sociedade brasileira para as medidas, com as quais não concordamos, que se implementadas podem
comprometer o futuro do sistema de saúde brasileiro:
1) A entrada irresponsável de médicos estrangeiros e de brasileiros com diplomas de medicina obtidos no exterior sem
sua respectiva revalidação fere a norma legal, coloca a qualidade da assistência à população em situação de risco e não garante
a ampliação definitiva de acesso à assistência nas áreas de difícil provimento. Trata-se de proposta improvisada, imediatista
e midiática, que ignora as questões estruturais do trabalho médico no Sistema Único de Saúde (SUS) e também o Revalida, exame
criado pelo Governo que tem avaliado com justiça a competência e a capacidade desses médicos interessados em atuar no país;
2) A ausência de uma carreira de Estado para o médico do SUS, com a previsão de infraestrutura e de condições de trabalho
adequadas para os profissionais, impede a presença efetiva de médicos e a melhoria do atendimento em pequenos municípios e
nas periferias dos grandes centros. Somente a implementação dessa carreira trará solução eficaz para o preenchimento definitivo
dos vazios assistenciais;
3) A intenção de reduzir impostos, dar subsídios e destinar recursos públicos para as operadoras de planos de saúde,
conforme anunciado após encontros de representantes do Governo com empresários do setor, demonstra, de forma contraditória,
o favorecimento da esfera privada em detrimento da pública na prestação da assistência à saúde, cuja prática tem sido feita
sob o signo do subfinanciamento público federal, principal responsável pelas dificuldades do SUS;
4) Os Conselhos de Medicina defendem o SUS público, integral, gratuito, de qualidade e acessível a toda a população.
Para tanto, exigimos o cumprimento de uma agenda mínima, a qual inclui a destinação de 10% da receita da União para a saúde
e o aperfeiçoamento dos serviços públicos, dotando-os de infraestrutura e recursos humanos valorizados para atender de forma
eficaz a população;
Conclamamos o Poder Legislativo; o Poder Judiciário; o Ministério Público; as entidades médicas e da área da saúde; os
parlamentares; as universidades; a imprensa; e todos os movimentos da sociedade civil organizada a se irmanarem nesta cruzada
em defesa de um sistema público de saúde de qualidade, como um dos maiores patrimônios sociais da Nação. Não podemos admitir
que interesses políticos subalternos, financeiros e de mercado decidam sozinhos os rumos e o futuro de um modelo enraizado
na nossa Constituição e que pertence a 190 milhões de brasileiros.
Belém (PA), 8 de março de 2013.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM)
CONSELHOS REGIONAIS DE MEDICINA (CRMs)
Fonte: CFM