28/09/2012
Conscientizar para salvar
O transplante de órgãos e tecidos é um dos grandes avanços da medicina moderna, sendo atualmente considerado um tratamento
eficaz para um grande número de doenças. Deixou de ser algo de ficção científica e ocorre frequentemente, aqui, nos hospitais
de nosso estado. Assim sendo, seria razoável supor que deveria estar disponível para quem precisasse, mas infelizmente essa
não é a nossa realidade.
A maior fonte de órgãos para transplante são os doadores em morte encefálica. Esta é uma situação irreversível, cujo diagnóstico
necessita de uma série exames determinados em lei, e que após a autorização familiar, é capaz de salvar ou auxiliar a vida
de até 8 pessoas. A lista de distribuição de órgãos para transplante, em nosso país, é dividida por estados, sendo cada membro
da federação responsável pela organização e fiscalização das atividades transplantadoras. Nosso estado, em 2007, possuía uma
taxa de doadores efetivos, de 7.6 por milhão de população(pmp), e no primeiro trimestre do corrente ano, de 13 pmp. É evidente
que houve melhora nos números, entretanto ainda mantemos uma fraca nona posição entre os demais estados.
Apontar os fatores envolvidos nesses números não é tarefa simples. A engrenagem de eventos que envolve o processo doação-transplante
é complexa e multifatorial, não obstante passível de intervenções. O início do processo se dá com diagnóstico da morte encefálica,
com a capacitação dos profissionais envolvidos e a conscientização das instituições hospitalares da importância da manutenção
e atuação efetiva das comissões intra-hospitalares exigidas por lei.
Superada essa etapa, a autorização familiar é imperativa. Uma miríade de fatores influenciam essa decisão, alguns deles
reais como a insatisfação com o serviço de saúde prestado ao seu ente querido, alguns fantasiosos, como o medo de tráfico,
distribução injusta, mercado negro dos órgãos e alguns míticos como mutilação do corpo do doador, proibições religiosas e
reversibilidade da morte encefálica. Essa negativa familiar é responsável por aproximadamente 45% da não efetivação da doação
de órgãos.
Agora em curso, a Semana Nacional de Doação de Órgãos existe para conscientizar a sociedade que existem pessoas que necessitam
de transplantes, sendo que em sua maioria esta é a única possibilidade de tratamento. Conscientizar as entidades de classe
(médicos, enfermagem, assistência social, administração hospitalar) que treinamento é necessário para o efetivo funcionamento
da engrenagem. Também para conscientizar e cobrar o governo que atitudes devem ser continuamente tomadas para aumentar o número
de doadores. E, finalmente, para conscientizar as famílias de potenciais doadores a importância da autorização da doação de
órgãos. Nessa semana, conscientizar é o verbo em voga.
Artigo escrito pelo médico Fábio Silveira.