18/10/2018

Consciência ética, o caminho para a boa Medicina

Roberto Issamu Yosida

O Dia do Médico lembra que temos profissionais mais conscientes de suas responsabilidades e com melhor preparo ético; e os pacientes, mais satisfeitos e esperançosos

Todos os dias, milhares de procedimentos médicos são realizados neste nosso vasto país, sob remuneralção dos sistemas público ou privado de saúde, pelo desembolso direto dos usuários dos serviços ou até mesmo sob ações de voluntariado. Não importa como ocorre o custeio e sim que, via de regra, é acentuadíssimo o grau de satisfação dessa assistência, premiando, mesmo que de forma anônima e sem alarde, toda a dedicação empreendida pelos profissionais de saúde, incluídos aí os nossos perseverantes médicos.

Mesmo assim, por ser um segmento com estreita relação com a vida e o bem-estar das pessoas, eleva-se a sua vulnerabilidade por interpretações de insucessos e, do mesmo modo, mesmo que em números ínfimos, tornam-se mais visíveis e de repercussão imediata as denúncias de atos entendidos como de negligência, imperícia ou imprudência. Esta visão ainda se avoluma quando não tratada com o necessário cuidado pela mídia ou com despertar de interesses econômicos em demandas levadas à esfera judicial, sob a leitura do chamado “erro médico”, que nem sempre tem relação com a atitude do médico.

Sejam procedentes ou não, tais queixas devem ser apuradas pelo Conselho de Medicina, a quem cabe, ainda, fiscalizar o exercício da atividade médica e zelar para que à população seja oferecida ‑ e garantida ‑ o melhor na atenção à sua saúde. Cumprindo sua função judicante, deve avaliar possíveis atitudes contrárias aos preceitos éticos a partir de denúncias advindas de pacientes e familiares e também por imperativo legal, o que chamamos de ex officio.

Nesta toada, vimos as denúncias crescerem ao longo destes 60 anos de atuação conselhal, o mesmo ocorrendo com a proporção das apenações impostas aos profissionais. Assim, auferiu-se à autarquia, por óbvio, maior respeito e credibilidade perante a sociedade, mas também estabeleceu para alguns o falso conceito de órgão exclusivamente punitivo, ignorando-se todos os esforços em outras frentes de ação exatamente para reduzir as possibilidades de desvios éticos, como a fiscalizações das condições de trabalho ofertadas aos médicos para cumprir seu mister ou atividades educativas. Ou, ainda, a constante cobrança pela qualidade na formação pelos  cursos médicos.

Dados estatísticos nos mostraram, ao longo dos anos, que boa parte das queixas recebidas pelo Conselho, suscitando abertura de procedimentos sindicantes, não tinha amparo em evidências de exclusivo despreparo técnico-prático de médicos, mas sim de despreparo ético, de inobservância de requisitos elementares de boa convivência e de respeito aos pacientes. Enfim, conflitos na relação médico-paciente, em especial pela falta de diálogo, de transparência, de paciência...

Em reforço às suas iniciativas de educação continuada, o CRM-PR instituiu a partir de 2011 um modelo ainda mais arrojado para interagir com médicos e estudantes e fomentar as discussões éticas, expondo os dilemas e os problemas do cotidiano e também os bons exemplos que professores e profissionais nos emprestam.

Transcorrido o período de pouco mais de sete anos, com histórico de mais de 550 eventos realizados ‑ muitos deles multidisciplinares – e com aproximadamente 60 mil participantes, chegamos ao Dia do Médico de 2018 com um feito histórico e de exemplo para outras regiões: o Paraná não apenas conseguiu promover decréscimo anual no índice de processos ético-profissionais, como se prepara para fechar o exercício com um patamar de denúncias que é inferior ao que registrávamos há uma década. Isto com substancial acréscimo do número de médicos em atividade e sob o olhar de uma sociedade cada vez mais bem informada, crítica e com canais facilitadores para expor suas queixas.

Podemos asseverar sim que, hoje, temos médicos mais conscientes de suas responsabilidades e pacientes ‑ beneficiários dos seus serviços ‑ mais satisfeitos e esperançosos. E se a consciência ética se manifesta viva na área da Medicina, entendemos ser possível o semeio em outras áreas, como educação, segurança, meio ambiente e sustentabilidade. Precisamos cada vez mais de uma sociedade atenta aos seus direitos e deveres, o que inclui os cidadãos terem sensibilidade na atenção aos seus próprios hábitos saudáveis de vida e na convivência com os semelhantes. Afinal, não há dúvida de que os acelerados avanços científicos e tecnológicos nos tornarão mais longevos e também mais bem informados. Mas isso não garante que seremos seres humanos melhores, mais felizes e mais aculturados e solidários.

No que concerne ao exercício da Medicina, há de se destacar o grande peso que representam os bons exemplos. Há 32 anos o CRM do Paraná instituiu o Diploma de Mérito Ético-Profissional para reverenciar médicos que tenham cumprido uma jornada de 50 anos de forma irretocável. Neste ano, foram quase 100 os homenageados, muitos deles mestres nos cursos médicos e, como seus pares, também na arte de assistir, de mitigar sofrimento, de confortar. Vale a pena construir nosso futuro sob inspiração nesses grandes nomes da Medicina paranaense.

Na passagem deste Dia do Médico podemos afirmam que temos, sim, muitos bons motivos para comemorar e confraternizar com a população. A começar pela certeza de que há um universo de profissionais convicto em seu papel hipocrático. São médicos e médicas que oferecem o melhor de si em prol das pessoas sob seus cuidados, mesmo enfrentando todo tipo de dificuldades, que incluem a falta de segurança no ambiente de trabalho, de infraestrutura e de incentivo à carreira. A eles expressamos todo o nosso orgulho e a certeza da escolha do bom caminho, sob amor, entusiasmo e perseverança.

Registramos, para reflexão, a mensagem de mestre que se foi: “Para ser médico precisa gostar de gente, mesmo que indigente. Gostar de diagnósticos, mesmo que por vaidade, é útil assim mesmo. Ter gosto de reparar, curar e modificar o ser como um deus terreno; sereno nos propósitos, certeiro nos acordes”.

Parabéns!

Roberto Issamu Yosida é conselheiro-presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná.

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