22/02/2018
Em 1967 elas eram apenas 5,4% dos médicos no PR; hoje representam 40% e devem ser maioria em uma década
O Conselho Regional de Medicina do Paraná realizará em 8 de março evento especial para marcar a passagem do Dia Internacional da Mulher. “A força e a perseverança da mulher na Medicina” será o tema em destaque da atividade, que vai ocorrer presencialmente das 20 às 22h, na sede do CRM em Curitiba, e terá transmissão online e com possibilidade de interação. É exigida inscrição prévia e que pode ser feita aqui.
A iniciativa faz parte do programa de Educação Médica Continuada e das comemorações do 60º aniversário de fundação do Conselho do Paraná, tendo o propósito maior de, ao homenagear as mulheres, enaltecer aquelas que abraçaram a Medicina como profissão, inscrevendo-se numa história de luta e perseverança que as projeta em maioria na proporção com os homens em futuro iminente.
O painel terá a participação de médicas de renome e liderança. Uma das expositoras será a Dra. Helen Anne Butler Muralha, que se formou pela Universidade Federal do Paraná, em 1954, uma das 13 mulheres em meio a uma turma com 130 homens. Além do histórico ético exemplar, a gineco-obstetra tem em seu vasto currículo a deferência de ter sido a primeira mulher a compor o corpo de conselheiros do CRM-PR, na gestão de 1988 a 1993. Foi professora dos cursos de Medicina da UFPR e PUCPR e integra a Academia Paranaense de Medicina. Sempre ativa, dedica parte de seu tempo com idas ao consultório e à Fundação Sidónio Muralha, que homenageia seu marido, escritor e poeta português falecido em 1982.
Também serão palestrantes as Dras. Viviana de Mello Guzzo Lemke, atual conselheira e que no início deste ano assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHC); e Claudia Paola Carrasco Aguilar, presidente da Associação Brasileira de Mulheres Médicas – Seção Paraná. Esta, é psiquiatra e também secretária do Simepar.
A abertura e mediação das palestras caberá à coordenadora do programa de EMC, Cecília Vasconcelos, também professora da Fepar e preceptora de residências em clínica médica e hematologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba. Ela fará exposição sobre o histórico de lutas da mulher para se consolidar na Medicina paranaense, que tem seu marco inaugural em 1919, com a formatura da Dra. Maria Fauce de Macedo, também alçada depois à condição de primeira docente do curso médico da UFPR.
Uma trajetória centenária
A Dra. Maria Fauce, assim como outras tantas que a sucederam, registram em seus depoimentos o preconceito de gênero e a difícil missão de se inserir como médica na sociedade, o que se atesta com o fato de nunca ter conseguido montar seu consultório próprio pela relutância de pacientes. Ela atuou na área de análises clínicas e foi a precursora do laboratório que passaria às mãos do casal médico (Fani e Oscar) Frischmann Aisengart.
De acordo com pesquisa da conselheira Cecília Vasconcelos, ao longo de décadas a presença da mulher foi quase insignificante nos cursos médicos, com a tendência começando efetivamente a mudar nos anos 70 e 80 e ganhando corpo há pouco mais de 10 anos, quando o ingresso tornou-se predominantemente feminino.
De acordo com o estudo Demografia Médica 2015, do CFM, 2010 foi o último ano em que os homens estiveram em maior número entre os registros primários nos Conselho de Medicina: 7.250 contra 7.136 mulheres. Em 2011, 54% dos 14.634 médicos que se formaram já eram mulheres, o que se consolidou nos anos seguintes. Assim, a feminização da medicina confirma-se no Brasil: até a faixa dos profissionais com menos de 30 anos de idade as mulheres já se sobrepõem em quantidade.
No Paraná, a exemplo do Brasil, os homens continuam em maioria, numa proporção de 60 para 40%. Contudo, as projeções estatísticas de ingressantes nas escolas médicas indicam a inversão percentual em uma década.
A predominância da mulher no mercado de trabalho já é marcante em algumas especialidades, como dermatologia, pediatria, genética médica, endocrinologia e medicina da família, entre outras. A presença feminina, contudo, ainda é muito tímida nas áreas de urologia, ortopedia, cirurgia torácica, neurocirurgia, medicina esportiva e cirurgia geral. Para a coordenadora do programa de EMC do CRM-PR, a atuação da mulher também é marcante nos centros formadores e na ocupação de funções de liderança de atividades médicas, incluindo a representatividade nas sociedades de especialidade. Na Academia Paranaense de Medicina, por anos integrada somente por homens, aos poucos as médicas também ocupam o seu espaço. Além da Dra. Helen, também são acadêmicas Leide Parolin Marinoni, Monica Beatriz Parolin, Saly Moreira e Lorete Maria da Silva Kotze, que foi a segunda mulher a ocupar o cargo de conselheira do CRM-PR.
60 anos do Conselho
Embora com criação formal em data anterior, o início das atividades do Conselho de Medicina do Paraná coincide com a posse da primeira diretoria provisória e da inscrição dos médicos, em 12 de março de 1958. A inscrição n.º 1 foi reservada ao primeiro presidente, o Prof. Milton Macedo Munhoz. A primeira médica inscrita recebeu o número 58. Foi a Dra. Vivian Albizi de Carvalho, que se registrou ao lado do marido, Jayme (57). Depois dela vieram as Dras. Gilda Kasting (73), Maria Becker (128), Salomé Rochin (135), Fani Frischmann Aisengart (136) e Gilka Gilda Ghignone (180).
A pioneira Dra. Maria Fauce de Macedo só se inscreveu em agosto de 1958, recebendo o número 226. A tímida presença feminina no exercício da atividade médica pode ser confirmada com a inscrição de apenas 108 mulheres entre os 2 mil profissionais registrados no Conselho do Paraná até abril de 1967, o que representava somente 5,4% do total. Hoje, temos 10.423 mulheres entre os 25.901 médicos inscritos e ativos no Estado, ou 40,24%.
Na trajetória do Conselho, 31 mulheres marcaram presença no corpo representativo, algumas em mais de uma gestão. Treze delas integram a atual gestão, que detém a maior representatividade feminina nestes 60 anos.
Atuais conselheiras:
Marília Cristina Milano Campos
Cecília Neves de Vasconcelos Krebs
Viviana de Mello Guzzo Lemke
Cristina Aranda Machado (Londrina)
Ewalda Von Rosen Seeling Stahlke
Keti Stylianos Patsis
Lisete Rosa e Silva Benzoni (Londrina)
Gisele Cristine Schelle
Gláucia Maria Barbieri
Nazah Cherif Mohamad Youssef
Regina Celi Passagnolo Sérgio Piazzetta
Tânia Maria Santos Pires Rodrigues
Teresa Cristina Gurgel do Amaral
Conheça um pouco mais da história da Dra. Helen Anne.