03/09/2009
Congresso discute estratégia de distribuição do Tamiflu
A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados realizou nesta quinta-feira, 3 de setembro, audiência
pública para discutir a estratégia do Ministério da Saúde relativa à dispensação do medicamento Tamiflu no território nacional.
O medicamento é usado no tratamento de pacientes com a gripe A (H1N1). Estiveram presentes no encontro parlamentares, representantes
da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, da Sociedade Brasileira de Infectologia,
da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, da prefeitura de Passo Fundo e do governo do Estado do Paraná.
Nesta quarta-feira o Ministério da Saúde informou que o Brasil atingiu 657 óbitos decorrentes da gripe suína. No último
boletim divulgado, no dia 26 de agosto, o País registrava 557 óbitos. As novas mortes são referentes a confirmações laboratorais
entre 23 e 29 de agosto.
Em sua fala, o diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, Eduardo
Hage, apontou algumas ações do governo que serão desenvolvidas, como a destinação de R$ 22,72 milhões à compra de equipamentos
de proteção, principalmente para profissionais de saúde, e material para o diagnóstico da nova gripe, um total de 113,2 mil
unidades de oito itens diferentes.
Além disso, o Ministério da Saúde irá financiar cinco pesquisas sobre o comportamento do vírus A (H1N1). A intenção é
validar o produto fabricado no Brasil e nacionalizar a sua produção. Hagge também comentou sobre uma possível proibição de
venda do medicamento nas farmácias brasileiras. "Esta notícia é falsa. O único laboratório fabricante do remédio teria dado
prioridade aos pedidos de compra feitos pelo Ministério da Saúde". Outra questão apresentada por ele referiu-se às mulheres
grávidas e os problemas decorrentes da doença. "Um total de 620 gestantes apresentou resultado positivo e desenvolveu a doença.
No entanto apenas 63 morreram", frisou Hage.
Experiências positivas
O modelo de gestão desenvolvido pela prefeitura de Passo Fundo-RS para combater a doença foi apresentado pelo secretário
municipal de saúde do município, Alberi Grando. Naquela cidade foi criado um Comitê Municipal contra a gripe A após a morte
de pessoas na cidade e região.
Segundo ele, as medidas adotadas tiveram como foco o acompanhamento dos doentes na rede
hospitalar, capacitação dos profissionais, contato permanente com a imprensa e profissionais de saúde, assim como a preocupação
com os eventos que seriam realizados no município.
"Cancelamos encontros importantes como a feira do livro que acontece anualmente. O papel do conselho foi decisivo para
controlarmos a situação. Nossa preocupação era agir antes da doença. E não existiam boatos, mas sim notícias reais e transparentes".
Alertas
Na visão dos representantes das instituições presentes a dispensação do medicamento deveria ter sido ampliada não só aos
pacientes com sintomas evidentes, mas também àqueles em que os médicos entendessem que a prescrição da droga fosse necessária.
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Juvêncio Furtado, alertou para a situação que o mundo poderá viver
em breve. "Teremos no próximo ano uma segunda onda da doença, algo em torno de 20% a 30% da população mundial. A grande arma
para o próximo ano será a vacina que já foi aprovada em testes. Agora temos que pensar nos grupos que iremos beneficiar prioritariamente,
qual o tipo de vacina a ser empregado e onde iremos atuar", analisou Furtado.
Outro problema apontado por ele foi a carência no país no número de leitos de terapia intensiva para os tratamento dos
casos graves. "Para resolver esta situação é necessário também melhorar a estrutura hospitalar. Não estamos preparados para
atender esta demanda, por mais que o ministério se esforce".
O deputado Eleuses Paiva (DEM-SP), autor do requerimento da audiência pública, pontuou em seu discurso o número reduzido
de profissionais da saúde para atender a demanda, a centralização do governo no controle da distribuição do Tamiflu e os problemas
decorrentes da falta de recursos para a área da saúde.
"Temos uma saúde subfinanciada no país. Na época do Inamps tínhamos 30% do orçamento da Seguridade Social. Hoje são apenas
15%. Se existe remédio suficiente para todos, estranha-me muito o fato da venda no mercado negro do Tamiflu. A falácia de
que estamos preparados, com hospitais bem equipados é deplorável", disse.
O deputado Germano Bonow (DEM-RS) falou também sobre o caso gaúcho. "Quem acompanhou o problema que vivenciamos lá no
Rio Grande do Sul observou um exército da saúde sem munição. Não tínhamos a experiência de uma gripe com um comportamento
diferente. É evidente que estamos aprendendo com a doença, mas não poderíamos de forma alguma centralizar a distribuição dos
medicamentos. E se vier mesmo esta segunda onda, precisaremos estar preparados", frisou ele.
Já o deputado Alceni Guerra (DEM-PR) comentou sobre os problemas de distribuição do medicamento principalmente nas áreas
de fronteira entre estados brasileiros e entre o Brasil e outros países. "Sei que muitas pessoas têm que sair do país para
conseguir o remédio que aqui é escasso".
O presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, Celso Ramos, apontou outro problema referente aos
estudos sobre a doença. "Nas universidades brasileiras não há muita discussão sobre as gripes de forma geral. Os alunos não
estão preparados". Ele falou também sobre a dificuldade na realização dos exames para detecção da doença. "Apenas alguns laboratórios
no país estão realizando os procedimentos. E os laboratórios privados tem tido dificuldades na aplicação dos exames".
Sugestões
O deputado Eleuses Paiva sugeriu a criação de um contato permanente dos profissionais de saúde com o governo federal.
"Seria muito oportuno se tivéssemos um telefone 0800 ou um site para que as informações fossem mais precisas sobre a situação
da doença no país. Além disso, este mecanismo poderia ajudar as pessoas e o próprio governo a identificar onde existem problemas
a serem resolvidos, como a falta de medicamentos e atendimento insuficiente às pessoas". O representante do Ministério aceitou
a proposta e disse que irá propor ao órgão a criação de canal de comunicação permanente.
Fonte: AMB