02/08/2019

Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida com mais de 900 participantes

Evento, que será encerrado neste sábado (3) no Expo Unimed, teve homenagem à presidente e seus antecessores na sociedade de especialidade (SBRA)

 A solenidade de abertura do CBRA 2019 (Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida) ficou marcada pelo clima de celebração e homenagens. No auditório Oscar Niemeyer do Expo Unimed Curitiba estiveram reunidos profissionais das mais diversas áreas relacionadas à reprodução humana: médicos, embriologistas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e administradores de clínicas.

clique para ampliarclique para ampliarRepresentantes da SBRA homenageados. (Foto: Eneas Gomez/CBRA)

A presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Hitomi Miura, iniciou seu discurso destacando a importância do trabalho realizado pelos profissionais brasileiros. “Temos paixão pelo que fazemos, a sede pelo conhecimento nos move. Cerca de dez milhões de mulheres são diagnosticadas com endometriose e nós somos responsáveis por desenvolver e aplicar técnicas que ajudam essas mulheres a realizarem o sonho de construir uma família”, disse.

Com mais de 900 participantes, o CBRA 2019 se consolidou como a soma de esforços de uma grande equipe. Representantes de clínicas e entidades médicas, patrocinadores, apoiadores e 28 expositores compartilharam informação, conhecimento e tecnologias que têm desenvolvido a área de reprodução assistida no Brasil.

Para Álvaro Ceschin, presidente do CBRA 2019, a 23ª. edição do evento é motivo de grande orgulho. “Estamos lidando com preciosas sementes. Óvulos, espermatozoides, embriões e a enigmática terra fértil: o endométrio. Um tema amplo e de constante aprendizado, que podemos discutir em 384 palestras, cursos e workshops técnicos. Estamos felizes de trazer as principais referências nacionais e mundiais no assunto para compartilhar conhecimentos”, comemorou.

clique para ampliarclique para ampliarCongresso teve palestrantes nacionais e internacionais. (Foto: Eneas Gomez/CBRA)

Houve a homenagem à atual presidente e seus antecessores na presidência da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, na cerimônia inaugural que foi prestigiada, dentre outras autoridades, pelo presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Roberto Yosida. Ainda participaram outros representantes do CRM-PR, como os conselheiros José Clemente Linhares e Jan Pawel Andrade Pachnicki, também presidente da Sogipa, que integram o grupo de poalestrantes.

Para encerrar a solenidade de abertura, a palestra magna “Sementes férteis para um novo Brasil”, com Deltan Dallagnol, trouxe reflexões importantes sobre o grande propósito que permeia o trabalho da classe médica e da área de reprodução assistida. “É preciso pensar no quanto estamos verdadeiramente conectados com aquilo que acreditamos ser o nosso propósito. Plantar sementes férteis é o primeiro passo para um país mais justo e produtivo”, destacou.

Houve atividades durante toda esta sexta-feira, sendo que o encerramento do Congresso será neste sábado.

“Berçário dos mosquitos aedes aegypti”

O médico Isaac Moise Yadid foi um dos pioneiros em reprodução humana no Brasil. Participou dos primeiros cursos de fertilização in vitro realizados no país e compôs a equipe do primeiro bebê de proveta brasileiro. Convidado a participar do CBRA 2019, ele falou na tarde desta sexta-feira sobre os vírus Zika, Chikungunya e Dengue e a Reprodução Assistida.

Para contextualizar, Yadid explicou que as arboviroses são causadas por arbovírus, sendo mais de 540 espécies conhecidas e 150 delas causadoras de doenças. O agente de transmissão é o Aedes Aegypti, que pode depositar até 1,5 mil óvulos, que sobrevivem por até um ano. “Diferente do que se divulga que eles sobrevivem apenas em situações específicas, eles permanecem vivos em ambientes totalmente desfavoráveis. O mosquito vive por 45 dias e uma vez infectado, assim permanecerá até morrer”, disse.

Pelo mundo, a incidência é maior no hemisfério Sul, especialmente no Brasil, onde o médico qualificou como “berçário dos mosquitos”. Yadid apresentou dados de 2019 do Ministério da Saúde que mostram o crescimento de 149% dos casos de dengue. Já no caso da Zika houve uma diminuição de 18% em relação a 2018, e a Chikungunya decresceu 51%.

O médico citou os sintomas de cada doença durante a gestação, que envolve febres, dores musculares, manchas vermelhas na pele, entre outros. Também, falou sobre os problemas de gestantes infectadas. No caso da dengue, um bebê abaixo do peso, prematuridade e crianças comprometidas logo no início de vida. “Em situações de Chikungunya, há a dificuldade de crescimento, atraso no desenvolvimento neurológico e a criança deve ser acompanhada por até dois anos. Já a Zika apresenta a desproporção craniofacial, má formação no desenvolvimento cortical, anormalidades do corpo caloso, entre outros”.

Para finalizar, Yadid falou sobre as normas da ANVISA com relação à Reprodução Assistida, em que mulheres e homens devem ser testados e caso os resultados sejam inconclusivos, novos testes devem ser feitos. Casais submetidos a sêmens de doadores fazer a mesma triagem e o prazo de validade dos exames são de 30 dias.

Doenças virais x RHA

A primeira palestra do painel foi sobre Hepatites e HIV, com o Dr. Waldemar de Almeida Pereira de Carvalho. Ele explicou sobre as possibilidades de gestação para portadores de HIV sendo o par discordante feminino, masculino e par concordante. Também, falou sobre os riscos e tratamentos para as Hepatites B e C.

Precisão do diagnóstico da endometrite crônica

Pela primeira vez no Brasil, a doutora Inmaculada Moreno, responsável por estudos e desenvolvimento de exame para diagnóstico molecular da Endometrite Crônica, falou nesta sexta-feira no CBRA 2019. Ela abriu a sua palestra explicando que, pelo fato da doença ser assintomática, muitas mulheres só descobrem que a têm quando querem engravidar. “Por isso ela não é tratada em muitíssimos casos”, disse. A doença afeta cerca de 30% das mulheres com diagnóstico de infertilidade, além de poder ocasionar abortos repetitivos e falhas de implantação – com números superiores a 50% dos casos.

Inmaculada mostrou um estudo recente que comprova a relação entre a Endometrite e a infertilidade. Na sequência ela detalhou as três técnicas clássicas de diagnóstico por Histologia, Histeroscopia e Microbial Culture. Segundo a pesquisadora, todos dependem do observador e do ciclo menstrual da paciente. Ela apresentou dados da pesquisa do diagnóstico molecular que incluiu dados de 65 pacientes diagnosticadas com endometrite crônica pelos três testes clássicos. “Nosso objetivo foi desenvolver o diagnóstico molecular equivalente, em termos de sensibilidade e especificidade dos três métodos clássicos juntos, superando as incompatibilidades de resultados de cada um deles separadamente e em conjunto”, falou. Ela ainda mostrou um quadro comparativo entre os três testes clássicos e o diagnóstico molecular, comprovando a eficácia e assertividade do procedimento.

A endometrite crônica é uma inflamação na mucosa endometrial (que reveste a parede interna do útero) causada por patógenos bacterianos.

Imunologia da implantação

Integrante do Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Maria da Graça Bicalho fez sua participação no painel Imunologia da Implantação, focando na influência dos genes HLA e KIR no cenário da implantação.

Ela, que desenvolve pesquisas de imunogenética na área de transplantes, lembrou que a Medicina já consegue decifrar diversas causas da infertilidade, mas para um percentual de casais existem causas de etnologia desconhecida, abrindo um amplo campo a ser desvendado.

“Neste contexto, os genes HLA e KIR poderiam ser o resultado de uma resposta imune maternal protetora, e a interação entre ambos apresenta resultados ainda controversos que devem permanecer sendo investigados”, esclareceu.

Utilização de meta-análises

A utilização de meta-análises para evolução das técnicas de medicina reprodutiva foi o assunto apresentado pelos médicos Dr. Matheus Teixeira Roque e Dra. Claudia Petersen na tarde de quinta-feira no CBRA 2019. O objetivo dos especialistas foi identificar até que ponto a integração de estudos deve ser considerada como fator determinante nos processos de fertilização. “É preciso desenvolver o olhar sobre aquilo que as meta-análises não dizem. Lembrar que os estudos são realizados com grupos considerados pequenos em comparação ao número de pacientes reais da área de reprodução”, alertou o Dr. Matheus Roque.

Mestre em Reprodução Humana, o especialista falou sobre a meta-análise na técnica de freeze-all. “Pela combinação dos estudos, percebe-se que há um grande anseio por novas pesquisas na área de congelamento embrionário. As publicações são insuficientes diante da amplitude do tema. Além disso, é importante lembrar que o tratamento de fertilização deve ser sempre individualizado. Não há como generalizar ou tomar como base grupos que estão distantes da nossa realidade médica”, comentou.

A meta-análise como referência na seleção de espermatozoides de alta qualidade foi abordada pela dra. Claudia Petersen, embriologista clínica e doutora em ginecologia, obstetrícia e mastologia. Com informações sobre os métodos de IMSI, PICSI, MACs e sperm slow, a palestrante mostrou resultados que consideram todas as técnicas similarmente efetivas.

Transferência embrionária

O método de ultrassonografia utilizado em transferências embrionárias foi pauta de um painel realizado na tarde desta quinta-feira no CBRA 2019. Especialistas em reprodução humana, os doutores Raul Eid Nakano e Paulo Gallo de Sá debateram as vantagens dos procedimentos guiados por ultrassom abdominal e transvaginal.

Segundo o dr. Raul Nakano, o método transvaginal apresenta maiores benefícios para as pacientes. “Há redução do desconforto durante a transferência e diminuição da ansiedade pré-fertilização. Especialmente em pacientes obesas ou com sobrepeso, observa-se que esse método também permite melhor visualização do útero”, comentou.  De acordo com os estudos analisados pelo dr. Paulo Gallo de Sá, a transferência guiada por ultrassonografia abdominal é favorece o trabalho do médico. “O método abdominal facilita a passagem do cateter, com melhor visibilidade durante o procedimento. Além disso, é mais rápido, leva cerca de 84 segundos, contra 154 segundos do transvaginal”, disse.

Em relação aos resultados obtidos com os tipos diferentes de ultrassonografia, os dois especialistas concordam que não há grandes diferenças. “As taxas de gravidez e de nascimentos vivos são as mesmas. A escolha do método ultrassonográfico depende, portanto, da análise de outros fatores relacionados à transferência, como condições uterinas, peso da paciente e experiência técnica do profissional. Esses fatores podem influenciar positivamente os resultados”, concluíram.

Cisto dermoide e endometrioma

A endometriose afeta cerca de 10% da população feminina durante a vida reprodutiva. Entre pacientes que precisam realizar tratamentos de reprodução assistida, a taxa varia entre 10% e 25%. Apontada como fator desencadeante de quadros de infertilidade, a endometriose pré-fertilização é alvo de debates dentro da classe médica. O tema esteve em pauta durante o CBRA 2019, no painel que trouxe os drs. Marcelo Rocha Filho e George Hamilton Caldas Silveira. Ambos discutiram os prós e contras de cirurgias para retirada de cistos dermoides e endometriomas em pacientes com fertilização in vitro agendada.

Segundo o dr. Marcelo Rocha, o maior risco da não-intervenção cirúrgica é a evolução das patologias para quadros mais graves. “Nos estudos realizados, não houve diferença entre pacientes operadas e não operadas em relação à qualidade embrionária, ao desenvolvimento da gravidez e aos nascimentos vivos durante o ciclo de fertilização”, detalhou. Para o dr. George Hamilton, a presença de cisto dermoide e endometrioma só deve levar à cirurgia aquelas pacientes cuja qualidade de vida é afetada.  “Em mulheres pré-fertilização in vitro que apresentam muitas dores ou obstrução nas vias urinárias e intestinais, a cirurgia para retirada pode ser feita, desde que com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Na maior parte dos casos, nada se coloca à frente da fertilização in vitro, até porque as técnicas de implantação são muito modernas e seguras”, destacou.

Tanto Marcelo quanto George foram enfáticos em relação à individualização dos atendimentos. A análise criteriosa das condições de saúde, expectativas e implicações da cirurgia é essencial: “cada caso é único, não temos como generalizar um tema tão sensível para pacientes em tratamento de reprodução assistida”, concluíram. 

Infertilidade x mortalidade

Existe alguma relação entre infertilidade e mortalidade? Segundo o especialista Kurt Barnhart (Diretor do Centro de Pesquisa Clínica de Saúde da Mulher, da Escola de Medicina Perelman, na Universidade da Pensilvânia/EUA), existe sim.

Um estudo apresentado por ele nesta quinta-feira, no CBRA 2019, desenvolvido ao longo dos últimos 30 anos com 25 mulheres e 19 homens, revelou que pessoas inférteis têm mais probabilidade de desenvolver doenças.

“Indivíduos inférteis têm 10% mais chance de mortalidade, 20% mais chance de ter câncer e 70% mais possibilidades de ter diabetes”, disse.

Barnhart concluiu sua participação questionando se existiria uma mudança positiva nas condições de vida de pacientes inférteis que eventualmente conseguisse engravidar. “Esta é uma grande oportunidade para a área médica no que diz respeito ao rastreamento e medidas preventivas”, encerrou.

Programação deste sábado

PLENÁRIA MUSEU OSCAR NIEMEYER

MITO OU REALIDADE -MICROPÓLIPOS – REJUVENESCIMENTO OVARIANO

09h00-09h10 | Micropólipos
Palestrante: Dr. Joji Ueno

09h10-09h20 | Rejuvenecimento Ovariano
Palestrante: Dr. Bruno Tarasconi

09h20-09h30 | Discussão

PAINEL – MELHORANDO AS TAXAS DE IMPLANTAÇÃO

09h30-10h00 | 1. Microbioma uterino
Palestrante: Dra. Inmaculada Moreno | Espanha

10h00-10h10 | 2. Como reduzir stress oxidativo
Palestrante: Dra. Gabriela Halpern

10h10-10h20 | 3. Dez passos na alimentação para melhorar as taxas de gravidez
Palestrante: Dra. Rosa Silvestrin

10h20-10h30 | Discussão

CONFERÊNCIA

10h30-11h00 | Modelo espanhol de banco de óvulos
Palestrante: Dr. Fábio de Castro Cruz | Espanha

11h00 – 11h30 INTERVALO PARA COFFEE BREAK

PAINEL – LEGALIDADE

11h30-11h40 | 1. Resolução CFM 2019: O que deverá mudar?
Palestrante: Dr. Edson Tizzot

11h40-11h50 | 2. RDC da VISA: O que está por vir?
Palestrante: Enf. Cynthia de Mello Barreto

11h50-12h00 | 3. Como captar gametas para banco de doação. Aspectos morais , legais e éticos
Palestrante: Dr. Edson Borges

12h00-12h10 | 4. Capacitação e Certificação em Reprodução Assistida -Papel da SBRA
Palestrante: Dr. Adelino Amaral Silva

12h10-12h30 | Discussão

 

AUDITÓRIO JARDIM BOTÂNICO

WORKSHOP GINECOLOGIA COMO CONDUZIR PACIENTES GINECOLÓGICOS NA NOVA ERA DA REPRODUÇÃO?

09h00-10h00 | Caso clínico 1: SOP
Palestrante: Dr. Condesmar Marcondes Oliveira Filho

10h00-11h00 | Caso clínico 2: Propedêutica do casal infértil
Palestrante: Dr. Raul Eid Nakano

11h00 – 11h30 INTERVALO PARA COFFEE BREAK

11h30-12h30 | Caso clínico 3: Congelamento social
Palestrante: Dra. Hitomi Miura Nakagawa

 

AUDITÓRIO PARQUE BARIGUI

WORKSHOP ANDROLOGIA COMO INTERPRETAR O FATOR MASCULINO NA REPRODUÇÃO

09h00-09h10 | Abertura

09h10-09h30 | Detalhes importantes do espermograma
Palestrante: Dr. Daniel Zilberstain

09h30-09h50 | Fatores ambientais e a infertilidade masculina
Palestrante: Dr. Paulo Taitson

09h50-10h10 | Impacto da fragmentação de DNA na gestação
Palestrante: Dra. Eduardo de Paula Miranda

10h10-10h30 | Tópicos atuais em varicocele
Palestrante: Dr. Cláudio Teloken

10h30-10h50 | Quando fazer a reversão de vasectomia?
Palestrante: Dr. Fernando Lorenzini

10h50-11h00 | Discussão

11h00 – 11h30 INTERVALO PARA COFFEE BREAK

11h30-11h50 | Recuperação espermática na azoospermia. Onde estamos?
Palestrante: Dr. Moacir Rafael Martins Radaelli

11h50-12h10 | Quando encaminhar para o andrologista?
Palestrante: Dr. Emir de Sá Riech

12h10-12h30 | Discussão

Envie para seus amigos

Verifique os campos abaixo.
    * campos obrigatórios

    Comunicar Erro

    Verifique os campos abaixo.

    * campos obrigatórios