20/10/2020

Confira um aperitivo da próxima edição da Iátrico, prevista para novembro de 2020

Resenha de um dos seriados mais comentados da atualidade, "Cobra Kai", de autoria do Dr. Carlos Sperandio, estará na edição 38 da revista cultural do CRM-PR

Revista cultural do CRM PR, o Iátrico tem como sua principal característica prover os colegas de informações outras à medicina, mas sempre com o olhar médico que nos torna semelhantes (e únicos!). A próxima edição, de número 38, está prevista para novembro de 2020!

Temos aqui um aperitivo: a resenha de um dos seriados mais comentados da atualidade: Cobra Kai. É de autoria do Dr. Carlos Sperandio, um dos membros do conselho editorial da revista. Estará inserido na seção "No Escurinho do Cinema", seleção de filmes para ver e rever e que tem a coordenação do médico e cinéfilo Dr. Isaias Dichi.

Curioso para saber mais sobre nossa revista? Todas as edições anteriores do Iátrico estão disponíveis online no site do CRM, no link.

Cobra Kai (2018)

Por que ver: Cobra Kai - seriado Netflix Karatê Kid (1984) foi um daqueles filmes blockbusters equivalentes a uma mega canção pop dos anos 80. Toda uma geração quis treinar artes marciais ao ver o mirrado Daniel Larusso enfrentar (e vencer!) os valentões do colégio usando os ensinamentos do Sr. Miyagi.

Acontece que a versão dos acontecimentos de Johnny Lawrence, o vilão do filme original vitimado pelo famoso golpe da garça, é inimaginavelmente mais interessante ao proporcionar análise psicanalítica das personagens da trama. Embora no filme-base ele tenha sido retratado como um anti-herói, rico e arrogante, o agora novo protagonista mostra como sua história difícil de vida o tornou um típico loser americano. Sua autenticidade, porém, faz com que o espectador fique empático com sua situação já nos primeiros episódios. Do outro lado, Larusso personifica o sonho americano ao ter enriquecido trabalhando, justamente com venda de carros, o símbolo nacional da indústria gringa.

A série transcorre principalmente com a alta rivalidade dos dois, comprovando como a falta de comunicação entre duas pessoas pode levar a consequências desastrosas. Nos momentos em que há diálogo sincero - as melhores cenas de todos os 20 episódios - vê-se claramente como os dois são parecidos, tornando claro o paralelo extrapolável a todas as relações conflituosas entre quaisquer duas outras pessoas no mundo.

De pano de fundo ainda se vê um saboroso conflito geracional, demonstrado pela dificuldade de como os então adultos inflexíveis da década de 80 têm em lidar com as transformações sociais que os jovens de hoje lideram na sociedade atual. O dojô se torna um lugar multicultural, sem divergências de gênero, cor de pele, etnia ou composição corpórea.

Há ainda espaço para uma cena medicamente lindíssima do reencontro da gangue original Cobra Kai, revivendo um passeio de moto no último dia de vida de um deles, retirado de sua internação hospitalar no melhor cenário de cuidados paliativos que se poderia imaginar.

Encantador por entreter públicos de diferentes gerações, Cobra Kai se sobressai por conseguir o famoso balance do Sr Miyagi: há tempos uma série não conseguia discorrer sobre o drama das relações humanas proporcionando tantas risadas quanto reflexões. Assim como um dia quisemos ser Daniel Larusso, surpreendemo-nos como todos em algum momento de nossa vidas já fomos Johnny Lawrence.

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