20/05/2008
Compras da Saúde terão novas regras
Considerada drible na Lei de Licitações, portaria deve alterar diretrizes para aquisição de remédio e insumo
Dois ministros - da Saúde, José Gomes Temporão, e do Desenvolvimento, Miguel Jorge, - assinaram ontem uma
portaria que estabelece novas diretrizes para a compra de medicamentos e insumos pelo governo federal. Segundo Temporão, com
a medida, 'o preço baixo deixa de ser o único referencial'. 'A prestação do serviço tem que obedecer a critérios de qualidade',
afirmou o ministro.
Os objetivos da portaria, que ainda não foi publicada no Diário Oficial da União e precisa ser assinada por
mais dois ministros, são reduzir a vulnerabilidade da Política Nacional da Saúde, aumentar investimentos em inovação, adensar
a cadeia produtiva fortalecendo as empresas nacionais, modernizar a gestão dos laboratórios públicos e atrair centros de produção
e desenvolvimento para o Brasil.
A medida também visa a driblar alguns pontos que são entendidos como distorções provocadas pela Lei de Licitações,
entre elas a que obriga a compra pelo menor preço. Dessa forma, laboratórios públicos estavam importando matéria-prima de
qualidade inferior e precisavam reprocessá-la antes de usá-la na produção de medicamentos. Os insumos importados estão em
vantagem por conta do câmbio baixo e porque não cumprem exigências que os fabricantes nacionais precisam seguir.
Farmanguinhos, um dos laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz, precisou recorrer a esse tipo de estratégia,
contratando uma empresa no Rio para reprocessar matéria-prima importada para a produção de medicamentos do coquetel antiaids.
O resultado: o custo do remédio ficou mais alto do que se a instituição tivesse comprado material nacional.
'O que a Fiocruz está fazendo é contratar o serviço de um conjunto de farmoquímicas brasileiras, que produzem
aqui e entregam produto de qualidade para Farmanguinhos. Essa estratégia foi aprovada pelo Tribunal de Contas. Enquanto a
gente não muda a Lei de Licitações, é o que se pode fazer do ponto de vista da prática', disse Temporão.
A portaria interministerial não tem poder de lei, mas o ministro acredita que ela tem 'poder indutor', que
levará Estados e municípios a adotarem essa estratégia na compra de insumos e medicamentos.
O documento foi assinado ontem, na abertura do Seminário sobre o Complexo Econômico-Industrial da Saúde, na
sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ainda faltam as assinaturas dos ministros de Ciência
e Tecnologia, Sérgio Rezende, e do Planejamento, Paulo Bernardo.
Laboratórios
O governo quer fortalecer as empresas nacionais do setor do chamado complexo industrial da saúde, que inclui
desde fornecedores de insumos, hemoderivados e equipamentos médicos até os fabricantes de princípios ativos e remédios. A
ação se dará por meio do BNDES, que admite financiar a compra de empresas do setor por laboratórios nacionais.
'O Brasil precisa fortalecer suas empresas, mas com critérios de mercado, qualidade, capacidade de competição',
disse o presidente do banco, Luciano Coutinho. O complexo da saúde é um dos setores considerados estratégicos dentro da Política
de Desenvolvimento Produtivo, lançada na semana passada pelo governo. Alguns dos objetivos são formar grupos com escala de
produção maior e capacidade de internacionalização. O diagnóstico feito pelo governo dá conta de que o setor tem grande dependência
de importações 'nos produtos de maior densidade de conhecimento e tecnologia' e caminha para um déficit ao redor dos US$ 6
bilhões.
Estima-se que a cadeia da saúde mobilize 7% a 8% do Produto Interno Bruto (PIB). A meta é reduzir para US$
4,4 bilhões o valor negativo até 2013, levando em conta que o setor crescerá até lá e isso poderia ampliar ainda mais o déficit,
caso não sejam adotadas as novas medidas.
Fonte: O Estado de São Paulo