25/10/2019
Roberto Issamu Yosida
A Medicina é o desejo de significativa parcela das famílias. Ser médico pressupõe alcançar respeito e ser referência na sociedade. Porém, uma escola de Medicina de qualidade é onerosa para nossos padrões.
Para efeito de raciocínio, o salário bruto do presidente do Brasil é de R$ 27.841,33 mensais. Como os descontos de IR e INSS, isso cai para um pouco menos de R$ 20 mil líquidos. Até 2016, o valor era maior: R$ 30.934,70 mensais. Michel Temer, então, reduziu todos os salários do primeiro escalão do governo, incluindo o dele próprio, em 10%.
Então, se ele tivesse que pagar uma escola de Medicina particular, iria desembolsar, na média, pelo menos 7 mil reais a título de mensalidade. Isto sem contar as suas outras despesas que são incorporadas quando se é obrigado a mudar de domicílio, como alimentação, moradia, saúde, transporte e outras que se somam, inclusive de materiais didáticos. Para a absoluta maioria das famílias, é uma situação impossível.
O recurso reservado à grande parte das famílias é o sacrifício de todos os seus integrantes para, ao final, ter um doutor formado. Ou optar pelo financiamento. Ou, ainda, a tentação irresistível da aventura em terras fronteiriças do Brasil, onde as promessas são de formar o doutor a um custo bem mais baixo.
Há um desvirtuamento na formação do médico. Por necessidade imperiosa de honrar seus compromissos, por vezes o acadêmico é obrigado a trabalhar e estudar, o que prejudica sua formação integral. Mais que isso, prejudica a própria saúde física e emocional. O resultado está presente em estatísticas.
Ao entrar no mercado de trabalho, encontrará cenário de ocupação profissional concentrado nas grandes cidades, cujas populações têm reduzido poder aquisitivo. O regime de plantões seguidos, aliado à precarização das contratações e os baixos valores remuneratórios, certamente decepcionarão o jovem médico.
Uma reflexão simples e direta tem que ser feita por todos, inclusive pelos ocupantes de cargos políticos: nós seremos assistidos por médicos doentes e com formação inadequada. Não por culpa deles, que serão tão vítimas quanto seus pacientes, mas por culpa do sistema.
* Roberto Issamu Yosida é Presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná.
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