12/05/2011
Como ciência e religião veem o universo
Religião e ciência são independentes, mas não incompatíveis. A opinião é do professor e engenheiro agrônomo Evaristo Eduardo
de Miranda, que é doutor em Ecologia e autor de diversas obras e trabalhos científicos. Em palestra proferida na quarta-feira
(11 de maio), no auditório do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), sobre o homem perante o universo, o professor
explicou qual é o sentido do universo para a ciência e para a religião, tema de seu mais recente livro, O Íntimo e o Infinito,
publicado pela Editora Vozes. "A ciência quer saber como o universo funciona, enquanto a religião quer saber por que", comparou.
Diante de um público formado por 45 pessoas, entre médicos e outros profissionais, como o reitor da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUC-PR), Clemente Ivo Juliatto, o ex-ministro da Casa Civil Euclides Scalco e o jornalista Aroldo Murá,
o professor Evaristo Eduardo de Miranda apontou as diferenças entre problema (objeto da ciência) e mistério (objeto da religião).
"Um problema se coloca diante de você, que não está envolvido, e precisa de uma solução", explica. "Por exemplo: será que
ali existe uma estrela? Se a resposta for afirmativa, será que ela tem planetas? Se tiver eles são rochosos ou gasosos. Se
forem rochosos podem ter vida, se forem gasosos não." Os mistérios, por sua vez, não se esgotam com as respostas e estamos
envolvidos nele: quem é o homem? Como Deus age no universo? "Mas ao procurar essas respostas nós crescemos", afirma.
Na primeira parte da palestra, Evaristo Eduardo de Miranda falou sobre os avanços obtidos com o advento dos telescópios
espaciais, a partir do pioneiro Hubble. "Nos últimos 15 anos, a astronomia acumulou mais conhecimento sobre o universo do
que em toda a história da humanidade", garantiu. O professor lembrou que antes de 1995 não se conhecia nenhum planeta fora
do sistema solar. "Hoje são mais de 600 - uma média de um planeta novo descoberto por semana", contou.
O palestrante destacou o conhecimento humano sobre a composição, a história, o início, a expansão e a evolução do universo.
"Conhecemos as partículas sub-atômicas, os átomos, as moléculas, as rochas, os planetas, as estrelas, as galáxias, os aglomerados
de galáxias e as dimensões do universo, que é finito", disse.
A segunda parte foi destinada à abordagem da religião. "As religiões sempre se interessaram em conhecer o universo", afirmou.
Após citar as concepções do universo nas fés hinduísta, taoísta e muçulmana, o professor concentrou sua explanação na tradição
judaico-cristã. "O criador, Deus, se revela na criação, por isso conhecer o universo é uma maneira de conhecer e entender
Deus", diz.
Crítica ao criacionismo
Crer na criação não significa aceitar a doutrina criacionista, que faz uma interpretação literal dos textos bíblicos:
na terceira parte da palestra, quando falou sobre a relação entre ciência e religião, Evaristo Eduardo de Miranda criticou
duramente o criacionismo. "É uma forma de idolatria: eles criam um Deus à imagem e semelhança deles, que diminui de tamanho
a cada nova descoberta científica", definiu. De acordo com o palestrante, a Bíblia é a palavra de Deus por ter sido
inspirada por Deus, mas foi escrita por homens, por isso está sujeita a falhas, erros, incoerências e omissões, como toda
obra literária, e os criacionistas não conseguem entender isso.
Hoje, conforme ressaltou o professor, ciência e fé convivem de forma harmônica. "A astronomia e a física não precisam
da religião para estudar o universo, assim como a religião não precisa da ciência para falar de Deus", disse. O palestrante
lembrou ainda que o Vaticano, que no passado perseguiu cientistas ligados à Igreja como Galileu Galilei e o padre Nicolau
Copérnico, hoje apoia estudos de astronomia. O diretor do Observatório do Vaticano, José Gabriel Funes, admite a possibilidade
de existência de vida inteligente em outros planetas e chega ao ponto de falar em "nosso irmão extraterrestre", da mesma forma
que são Francisco de Assis chamava de irmãos e irmãs todas as criaturas vivas da Terra.
O palestrante
Paulistano, Evaristo Eduardo de Miranda é formado em agronomia pelo Instituto Superior de Agricultura Rhône Alpes, de
Lyon, França. Tem mestrado e doutorado em Ecologia pela Universidade de Montpellier, França. Escreveu 25 livros e cerca de
100 trabalhos técnicos e científicos publicados no Brasil e exterior. É orientador de mestrados da Universidade de São Paulo
(USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Integrante da diretoria do Instituto Ciência e Fé, que promoveu a
palestra, o professor atua na Embrapa, onde lidera projetos na área de desenvolvimento sustentável. É consultor do Gabinete
de Segurança Institucional da Presidência da República e assessor da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional e da
Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal. É colaborador de publicações como a National Geographic, A Tribuna
e O Estado de S. Paulo, além de atuar no programa Terra da Gente, na EPTV, afiliada da Globo. Recebeu diversos
prêmios e condecorações, como a Ordem do Rio Branco, a Ordem do Mérito Militar, o prêmio Abril de Jornalismo, a Medalha do
Pacificador e o Prêmio Newton Freire-Maia.