23/02/2024
Com aumento de 1.381% no número de casos, audiência na ALEP debate cenário da dengue
Durante encontro promovido pela deputada Márcia Huçulak (PSD), foi anunciada a chegada das primeiras doses do imunizante contra
a doença no estado. Presidente do CRM-PR, Romualdo Gama, também participou
clique para ampliarAudiência ocorreu no Plenarinho da Assembleia Legislativa
na manhã desta quinta-feira (22). (Foto: Orlando Kissner / ALEP)
Um aumento de 315% no Brasil, 1.381% no Paraná e uma
projeção de 4,2 milhões de casos no país até o fim de ano. A epidemia da dengue alcança
números impactantes e os desafios para o combate à doença no Estado foram temas de uma audiência
pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná. O encontro promovido pela deputada estadual Márcia
Huçulak (PSD) reuniu especialistas e lotou o Plenarinho para debater e identificar estratégias eficazes e sustentáveis
para barrar o avanço da doença cujo cenário foi definido como “aterrorizante”.
“A dengue tem abalado o Brasil, nos desafiado e é
uma doença que precisa do trabalho de toda a sociedade. Só o setor saúde não vai dar conta. Nós
estamos com as emergências cheias em várias regiões no estado. Nós já temos 16 óbitos
confirmados no Paraná. E a tendência, segundo o Ministério de Saúde, é de passar de 4 milhões
de casos no Brasil”, afirmou a parlamentar.
O
atual patamar nunca foi atingido tão rapidamente, segundo dados do Ministério. Até o dia 20 de fevereiro,
foram registrados 688.461 casos prováveis no Brasil – 315% a mais do que no mesmo período de 2023, ano
em que o país bateu recorde de mortes. Este ano, já ocorreram 122 óbitos no país; outros 456 ainda
sob investigação. Há ainda 5.561 casos de dengue grave ou com sinais de alarme.
O Paraná é o quarto estado com maior número de casos prováveis,
72.526 – bem à frente do Rio de Janeiro com 51.532 casos e que decretou epidemia na quarta-feira (21). Em número
de casos absolutos, Minas Gerais aparece em primeiro lugar (232.683), seguida por São Paulo (117.571) e Distrito Federal
(80.979).
O número atual no estado é
o dobro dos piores momentos já registrado na crise de 2019-2020. O alerta da coordenadora estadual de Vigilância
Ambiental, Ivana Lucia Belmonte, foi acompanhado de um prognóstico ainda pior. “Um estudo da Fiocruz, publicado
esta semana, aponta que a dengue está afetando municípios que nunca foram impactados e está avançando
para o todo o território”, disse Ivana, que representou o Secretário da Saúde do Paraná,
Beto Preto.
Um dos motivos para o agravamento,
na avaliação da especialista, é o fenômeno El Niño. “As mudanças climáticas,
com muita temperatura elevada, precipitações de chuva muito intensas facilitaram a proliferação
vetorial”, acrescentou.
Há mais
de 30 anos neste enfrentamento, ela considera que só uma mudança de cultura pode contribuir para frear a doença.
“Qualquer pessoa sobre que fazer para prevenir a dengue. E por que não fazemos? Então, essa mudança
cultural é importante para que a gente tenha realmente uma alteração de cenário epidemiológico”.
Em Curitiba, o panorama é o mais crítico da história
em relação à dengue, com 349 casos, com 311 casos importados de outros estados A avaliação
é da superintendente de Gestão em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, Flávia
Celen Quadros. Ela representou a secretária Beatriz Battistella Nadas.
“Em 45 dias, registramos mais da metade dos casos de 2023, e oito vezes mais casos do
que no mesmo período do ano anterior. Temos 12 pessoas internadas O cenário para a Macrorregião Leste
é aterrorizante”, afirmou. “É uma região enorme, com quase 50% da população
do estado. Além da capital, inclui a Região Metropolitana de Curitiba, região de União da Vitória,
Ponta Grossa e Guarapuava, onde não tínhamos tanta dengue”, acrescentou Huçulack.
A conselheira estadual de Saúde Maria Lucia Gomes confessou
estar “apavorada”. “Nunca tivemos a situação que estamos vendo hoje. Estou apavorada. Curitiba
sempre foi exemplo, mas esse ano não é mais. É um horror. Nós temos de fazer a nossa parte. É
revoltante porque a sociedade não tem noção do quanto e investido para conscientizar a população.
Fico triste de ver os agentes terem de fazer mutirão para limpar o quintal de um cidadão. Isso custa caro. É
uma fortuna também o custo de uma pessoa internada. E vacina é para 90 dias, aí já morreu todo
mundo. A dengue tipo 3 mata!”, alertou Maria Lúcia, que representou o presidente do Conselho, Rangel da Silva.
O diretor de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal
de Curitiba, Pedro Henrique de Almeida, falou sobre a ponta de atendimento, a abordagem terapêutica e a necessidade
de considerar a possibilidade de dengue com o exame laboratorial, sem a necessidade de qualquer exame laboratorial diante
dos sintomas e em regiões endêmicas. “Identificar, hidratar corretamente e pactuar a retaguarda adequada
nas regionais”, citou.
Chegada
da vacina
A audiência pública
coincidiu com a chegada primeiro lote de vacinas contra a dengue, enviado pelo Ministério da Saúde e o anúncio
foi feito aos presentes no Plenarinho. Segundo o Governo do Estado, a remessa com 35.025 doses do imunizante Qdenga, produzido
pela farmacêutica Takeda, teve seu envio antecipado após diálogos das secretarias estaduais com a pasta
federal. Ao todo serão encaminhadas 523.005 vacinas para os estados. A faixa etária definida como prioritária
para a imunização é de crianças de 10 a 14 anos.
“O maior número de internações que se observa é nessa idade.
Mas temos poucas vacinas. E não dá para confiar só na vacina, especialmente, porque são necessárias
duas doses, com um intervalo de 90 dias. Só então a pessoa terá imunidade. Por isso, nós temos
de fazer um trabalho nas escolas, nos condomínios, nas casas, onde estão 75% dos focos do mosquito”, ponderou
a parlamentar.
Repelente
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná,
Romualdo Gama, falou da articulação para a chegada da vacina. Ele lembrou, também, que nem todos os repelentes
são eficazes, sendo os mais indicados os que possuem a substância icaridina. Ele ainda citou que a maior concentração
de picadas do mosquito é pela manhã até 15 horas e reforçou a importância de limpeza de
caixas d´água A deputada Márcia Huçulak aproveitou para informar que a prefeitura de Curitiba tem
disponibilizado repelentes nos Armazéns da Família por R$ 10,25.
Assustador
O secretário municipal de Saúde de Antonina, Odileno Garcia Toledo, fez um desabafo sobre a situação
da cidade, cujo um cenário é “ideal” para a proliferação da dengue: região
de mata atlântica, com humidade, calor intenso, chegando à sensação térmica de 50 graus
e uma região portuária, com grande movimento, acarretando mais incidência no número de casos.
“Temos 1.417 registros, não atualizados e, infelizmente,
tivemos a notícia do segundo óbito. É ruim para nós e nos coloca em uma situação
de derrota contra a doença. O ano passado foi o ano que mais trabalhamos com a dengue, com campanhas nas escolas...
Ainda assim, vimos aumentar o número de casos. Estamos com equipes sobrecarregadas, trabalhando em mutirão.
A cidade inteira tem casos confirmados. Assusta”, contou.
O presidente da Associação das Administradoras de Condomínios do Estado do Paraná
(AACEP), Claudio Marcelo Baiak, colocou a entidade à disposição dos Órgãos públicos
para reforçar o combate ao mosquito. A ACCEP reúne aproximadamente 150 mil unidades em condomínios, abrangendo
cerca de 550 mil pessoas em todas as regiões do estado. “Importante reforçar o treinamento dos colaboradores
para facilitar o acesso aos agentes de saúde”, afirmou.
A secretária de Saúde do município de Paulo Frontin e vice-presidente adjunta
do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Paraná (COSEMS), Bruna Cristina Markevicz, ressaltou a preocupação
com a epidemia pelo aumento dos gastos dos municípios com a saúde e a importância de apoio, inclusive
financeiro, às gestões municipais para manter as ações de combate.
Também compôs a mesa a presidente do Conselho Regional de Enfermagem do
Paraná, Ethelly Feitosa Rodrigues Santos.
Relatório
Ao final
do evento ficou definida a elaboração de um relatório com sugestões e recomendações
a ser encaminhado a órgãos competentes. “Também vou apresentar o relatório aqui na nossa
casa, onde tenho conversado com os deputados da importância de todo mundo atuar nas suas regiões, afinal nós
temos um poder de voz”, concluiu Huçulak.
FONTE: ALEP