12/06/2020

Cirurgias pediátricas de cardiopatia congênita caem mais de 50% no Brasil

Dados são apresentados neste 12 de junho, o Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita, que visa conscientizar profissionais e familiares de que a assistência precisa continuar apesar da pandemia

Nesta sexta-feira (12) comemora-se o Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita, mas, segundo o presidente do Departamento de Cirurgia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, Andrey Monteiro, a situação é de preocupação em função da pandemia do novo coronavírus. Segundo Monteiro, há um déficit acumulado de cirurgias cardíacas pediátricas não realizadas no país, que já era de 50% antes da pandemia. Agora, o número de cirurgias não realizadas está entre 70% e 80% em todo o país. A queda ocorreu tanto no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde), como na rede privada. O cardiologista imagina que, a curto prazo, o déficit acumulado poderá aumentar ainda mais. “Quanto mais tempo isso [pandemia] durar, maior será o déficit”, conclui.

Em Curitiba, o Teste do Coraçãozinho realizado como parte da triagem neonatal, garantido por Lei Municipal Nº 14.061/2013, de autoria do então vereador Felipe Braga Cortes, que repercutiu a data em suas redes sociais. Diretor da Secretaria de Estado da Justiça e hoje presidente do Conselho dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Braga Cortes ressalta que o teste serve para diagnosticar precocemente essa malformação cardíaca que acontece durante o desenvolvimento do feto, obtendo-se assim um melhor resultando no tratamento. "É importante sempre estar atento aos sintomas, pois, segundo a OMS, em cada cem recém nascidos um apresenta cardiopatia congênita", assinalou o ex-parlamentar, que aproveitou para dirigir cumprimentos à atuação da APCL - Associação Paranaense de Crianças Cardiopatas Coração de Leão.
clique para ampliarclique para ampliarMaterial da campanha de conscientização. (Foto: Divulgação)

PROTOCOLOS DE SEGURANÇA

De maneira geral, no Brasil, só têm sido feitos casos de urgência, quando há risco iminente. A situação varia de acordo com o porte do hospital, observou Monteiro. No Hospital Pro Criança Cardíaca, do Rio de Janeiro, instituição médico-social fundada há 23 anos para cuidar da crianças cardíacas carentes, o atendimento dos pacientes vem sendo mantido, operando-se casos com maior risco de morte e com cuidados redobrados, seguindo todos os protocolos clínicos de segurança, como a testagem do paciente, familiares e equipe médica.

O cardiologista admitiu, entretanto, que houve uma redução no movimento de cirurgias cardíacas pediátricas para todos os hospitais, em média entre 70% e 80%. “Uns reduziram menos, outros mais, outros até pararam o movimento cirúrgico. Cada centro tem um cenário”. Segundo o especialista, o déficit é maior nas regiões Norte e Nordeste e menor no Sul e Sudeste brasileiro. Deixou claro, porém, que em relação à queda do movimento de cirurgias pediátricas, a perda ocorreu em todo o país.

GRAVIDADE

Andrey Monteiro afirmou que o Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita é um motivo a mais para que a população e os profissionais de saúde compreendam a gravidade da situação para a população infantil. “O problema não é só da rede assistencial. Neste momento, por conta da preocupação em não se contaminar, a verdade é que as pessoas sequer estão buscando tratamento para outros problemas de saúde. As famílias, muitas vezes, não querem levar o paciente para tratamento porque acham que vão se expor”.

Monteiro destacou o número crescente de enfartes registrado dentro das casas, desde o início da pandemia, porque as pessoas sequer procuram o hospital. “Passa a haver uma série de problemas e não só por causa da rede assistencial. Isso também passa pela preocupação das pessoas e, de certa forma, pela desinformação”. É preciso, disse Monteiro, que outros centros pediátricos voltem a operar, priorizando os pacientes mais graves.

A data nacional de conscientização é oportuna para divulgar o número que já era deficitário antes da pandemia, mas também para incentivar os profissionais e os familiares que a assistência tem que continuar e que se deve ir retomando a vida normal com os protocolos clínicos e as cidades mantendo as orientações de segurança, recomendou.

SEQUELAS

A cardiopatia congênita envolve desde uma apresentação simples, que pode ser notada como um sopro cardíaco, até alterações externas, como a criança ficar arroxeada, com baixa oxigenação no sangue. Essas cardiopatias podem provocar sequelas nas crianças, dependendo do nível de gravidade do caso. Andrey Monteiro esclareceu que o não tratamento no momento adequado aumenta a chance de deixar sequelas mesmo nos pacientes tratados. “Isso vai variar de acordo com o nível da cardiopatia, com o nível de comprometimento do coração, até se o momento em que houve o tratamento foi adequado ou não”. As cardiopatias mais complexas, em casos extremos, têm chance de gerar problemas em outros órgãos além do coração, como pulmão, fígado e rins.

Andrey Monteiro informou que os procedimentos eletivos de baixo risco não têm sido realizados no Hospital Pro Criança Cardíaca. O volume global de cirurgias para pacientes de convênios de planos de saúde foi bastante reduzido desde março, quando teve início o isolamento social decretado para evitar a disseminação da Covid-19. Por outro lado, não houve interrupção nas cirurgias efetuadas nas crianças com cardiopatia congênita atendidas pela instituição tradicionalmente, que se mantiveram no volume histórico de quatro procedimentos mensais.


SUBNOTIFICAÇÃO

Apesar de estudos iniciais demonstrarem que as crianças são menos suscetíveis à Covid-19, com uma incidência em torno de 4%, acredita-se que há uma subnotificação da doença na população pediátrica, já que a maioria é assintomática ou pouco sintomática.

A diretora médica do Hospital Pro Criança Cardíaca, Isabela Rangel, ressaltou que, recentemente, foi evidenciada uma nova apresentação clínica em crianças e adolescentes associada à Covid-19, denominada Síndrome Inflamatória Multissistêmica, com manifestação clínica e alterações laboratoriais similares às observadas na Síndrome de Kawasaki (doença infantil rara que causa inflamação nas paredes de alguns vasos sanguíneos do corpo) ou na Síndrome de Choque Tóxico (complicação rara e potencialmente fatal de certas infecções bacterianas).


Fonte: Folha de Londrina, com informações de Felipe Braga Cortes.

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