Nesta sexta-feira (12) comemora-se o Dia Nacional de
Conscientização da Cardiopatia Congênita, mas, segundo o presidente do Departamento de Cirurgia Pediátrica
da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, Andrey Monteiro, a situação é de preocupação
em função da pandemia do novo coronavírus. Segundo Monteiro, há um déficit acumulado de
cirurgias cardíacas pediátricas não realizadas no país, que já era de 50% antes da pandemia.
Agora, o número de cirurgias não realizadas está entre 70% e 80% em todo o país. A queda ocorreu
tanto no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde), como na rede privada. O cardiologista imagina que, a
curto prazo, o déficit acumulado poderá aumentar ainda mais. “Quanto mais tempo isso [pandemia] durar,
maior será o déficit”, conclui.
Em Curitiba, o Teste do Coraçãozinho
realizado como parte da triagem neonatal, garantido por Lei Municipal Nº 14.061/2013, de autoria do então vereador
Felipe Braga Cortes, que repercutiu a data em suas redes sociais. Diretor da Secretaria de Estado da Justiça e hoje
presidente do Conselho dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Braga Cortes ressalta que o teste serve para diagnosticar
precocemente essa malformação cardíaca que acontece durante o desenvolvimento do feto, obtendo-se assim
um melhor resultando no tratamento. "É importante sempre estar atento aos sintomas, pois, segundo a OMS, em cada cem
recém nascidos um apresenta cardiopatia congênita", assinalou o ex-parlamentar, que aproveitou para dirigir cumprimentos
à atuação da APCL - Associação Paranaense de Crianças Cardiopatas Coração
de Leão.
PROTOCOLOS DE SEGURANÇA
De maneira geral, no Brasil, só têm
sido feitos casos de urgência, quando há risco iminente. A situação varia de acordo com o porte
do hospital, observou Monteiro. No Hospital Pro Criança Cardíaca, do Rio de Janeiro, instituição
médico-social fundada há 23 anos para cuidar da crianças cardíacas carentes, o atendimento dos
pacientes vem sendo mantido, operando-se casos com maior risco de morte e com cuidados redobrados, seguindo todos os protocolos
clínicos de segurança, como a testagem do paciente, familiares e equipe médica.
O cardiologista admitiu, entretanto, que houve
uma redução no movimento de cirurgias cardíacas pediátricas para todos os hospitais, em média
entre 70% e 80%. “Uns reduziram menos, outros mais, outros até pararam o movimento cirúrgico. Cada centro
tem um cenário”. Segundo o especialista, o déficit é maior nas regiões Norte e Nordeste
e menor no Sul e Sudeste brasileiro. Deixou claro, porém, que em relação à queda do movimento
de cirurgias pediátricas, a perda ocorreu em todo o país.
GRAVIDADE
Andrey Monteiro afirmou que o Dia Nacional de Conscientização
da Cardiopatia Congênita é um motivo a mais para que a população e os profissionais de saúde
compreendam a gravidade da situação para a população infantil. “O problema não é
só da rede assistencial. Neste momento, por conta da preocupação em não se contaminar, a verdade
é que as pessoas sequer estão buscando tratamento para outros problemas de saúde. As famílias,
muitas vezes, não querem levar o paciente para tratamento porque acham que vão se expor”.
Monteiro destacou o número crescente de
enfartes registrado dentro das casas, desde o início da pandemia, porque as pessoas sequer procuram o hospital. “Passa
a haver uma série de problemas e não só por causa da rede assistencial. Isso também passa pela
preocupação das pessoas e, de certa forma, pela desinformação”. É preciso, disse
Monteiro, que outros centros pediátricos voltem a operar, priorizando os pacientes mais graves.
A data nacional de conscientização é
oportuna para divulgar o número que já era deficitário antes da pandemia, mas também para incentivar
os profissionais e os familiares que a assistência tem que continuar e que se deve ir retomando a vida normal com os
protocolos clínicos e as cidades mantendo as orientações de segurança, recomendou.
SEQUELAS
A cardiopatia congênita envolve desde uma
apresentação simples, que pode ser notada como um sopro cardíaco, até alterações
externas, como a criança ficar arroxeada, com baixa oxigenação no sangue. Essas cardiopatias podem provocar
sequelas nas crianças, dependendo do nível de gravidade do caso. Andrey Monteiro esclareceu que o não
tratamento no momento adequado aumenta a chance de deixar sequelas mesmo nos pacientes tratados. “Isso vai variar de
acordo com o nível da cardiopatia, com o nível de comprometimento do coração, até se o
momento em que houve o tratamento foi adequado ou não”. As cardiopatias mais complexas, em casos extremos, têm
chance de gerar problemas em outros órgãos além do coração, como pulmão, fígado
e rins.
Andrey Monteiro informou que os procedimentos
eletivos de baixo risco não têm sido realizados no Hospital Pro Criança Cardíaca. O volume global
de cirurgias para pacientes de convênios de planos de saúde foi bastante reduzido desde março, quando
teve início o isolamento social decretado para evitar a disseminação da Covid-19. Por outro lado, não
houve interrupção nas cirurgias efetuadas nas crianças com cardiopatia congênita atendidas pela
instituição tradicionalmente, que se mantiveram no volume histórico de quatro procedimentos mensais.
SUBNOTIFICAÇÃO
Apesar de estudos iniciais demonstrarem que as crianças
são menos suscetíveis à Covid-19, com uma incidência em torno de 4%, acredita-se que há
uma subnotificação da doença na população pediátrica, já que a maioria é
assintomática ou pouco sintomática.
A diretora médica do Hospital Pro Criança
Cardíaca, Isabela Rangel, ressaltou que, recentemente, foi evidenciada uma nova apresentação clínica
em crianças e adolescentes associada à Covid-19, denominada Síndrome Inflamatória Multissistêmica,
com manifestação clínica e alterações laboratoriais similares às observadas na Síndrome
de Kawasaki (doença infantil rara que causa inflamação nas paredes de alguns vasos sanguíneos
do corpo) ou na Síndrome de Choque Tóxico (complicação rara e potencialmente fatal de certas infecções
bacterianas).
Fonte: Folha de Londrina, com informações
de Felipe Braga Cortes.