Relatório de avaliação técnica da entidade indica que dispositivos causam dependência e podem iniciar jovens que nunca fumaram
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu nesta quarta-feira, 6, manter a proibição
de venda de cigarros eletrônicos no Brasil e ampliar a fiscalização para coibir o mercado irregular dos
dispositivos. Participaram da votação quatro diretores da Anvisa - a decisão foi unânime. A venda
de cigarros eletrônicos é proibida no País desde 2009.
A avaliação técnica da Anvisa aponta que nenhum dispositivo eletrônico é útil
para ajudar fumantes a parar de fumar e que cigarros eletrônicos causam dependência e diversos riscos à
saúde. Também indica que uma suposta redução de substâncias contidas nos cigarros eletrônicos,
na comparação com os cigarros tradicionais, não significa redução de danos à saúde.
Cigarros eletrônicos, ou vapes, funcionam por meio de uma bateria que aquece um líquido interno, composto
por água, aromatizante, nicotina, propilenoglicol e glicerina. Têm formas variadas, e modelos mais modernos se
parecem com pen-drives. Alguns são fechados: não é possível manipular o líquido interno.
Outros podem ser recarregados com líquidos de várias substâncias e sabores, como uva e menta.
A avaliação da Anvisa, com base em pesquisas científicas e experiências em outros países,
é de que os cigarros eletrônicos favorecem a entrada dos jovens no tabagismo. Para a diretora Cristiane Jourdan,
relatora do processo, uma eventual decisão de liberar os produtos poderia ter impacto negativo na política de
controle do fumo no Brasil.
Além disso, segundo Cristiane, é inviável “a comprovação generalizada da ausência
de riscos desses produtos”. A diretora lembrou que os dispositivos eletrônicos para fumar são apresentados
em diferentes formatos e sabores. E há constantes mudanças no design dos produtos pelos fabricantes. Relatório
técnico apresentado pela Anvisa destacou que, nos Estados Unidos, houve até março 6,6 milhões
de pedidos de registros dos dispositivos.
Já o diretor Rômison Rodrigues Mota, que também votou a favor de manter a proibição,
afirmou que “é inegável o impacto que todos os DEFs (dispositivos eletrônicos para fumar) podem
causar na iniciação ao tabagismo, seja pela atratividade, aditivos, tecnologia ou pela falsa percepção
de risco”.
Ele acrescentou que a agência não pode se abster de seu papel de controlar os produtos - por isso, segundo
ele, a opção por aumentar a fiscalização contra o mercado irregular é a mais adequada.
Na mesma linha, o diretor Alex Machado lembrou que os cigarros eletrônicos estão "entrando aos milhares pelas
fronteiras do País", o que representa um desafio às autoridades.
Apesar de reconhecer a disponibilidade dos cigarros eletrônicos no mercado ilegal, a Anvisa considerou que isso
não é um motivo para que a agência libere a venda dos dispositivos. A agência deve alterar o texto
da regra sobre os cigarros eletrônicos para indicar a necessidade de ações de fiscalização
em parceria com outros órgãos e de campanhas educativas.
Fabricantes dos dispositivos reivindicam a liberação de vendas dos cigarros eletrônicos no Brasil
sob argumento de que eles oferecem risco reduzido à saúde, em comparação ao cigarro tradicional,
e por isso deveriam ser liberados como alternativa para uso adulto. Também dizem que o veto não impede a venda
irregular.
Os cigarros eletrônicos surgiram nos anos 2000 e tiveram crescimento impulsionado, inicialmente, por empresas novas.
Depois, grandes multinacionais de tabaco como British American Tobacco (BAT), Philip Morris e Altria compraram participações
em empresas de cigarros eletrônicos ou criaram as próprias marcas. Hoje, são cerca de 30 mil marcas de
cigarros e líquidos à venda na Europa. Em 2014, as vendas globais eram de US$ 2,76 bilhões (R$ 14,8 bilhões).
Após cinco anos, saltaram para US$ 15 bilhões (R$ 80,7 bilhões).
Os cigarros eletrônicos
já são proibidos no Brasil pela Anvisa desde 2009, mas o tema voltou ao debate na agência. O Brasil, reconhecido
internacionalmente pelo sucesso nas medidas de controle ao tabagismo, faz parte de um grupo de 32 países que proíbem
os dispositivos. Outros 79 liberam a venda de cigarros eletrônicos, com mais ou menos restrições.
Em países onde os cigarros eletrônicos estão liberados, há tentativas de restrição
ao uso. A Comissão Europeia, por exemplo, propôs no fim do mês passado barrar a venda de produtos de tabaco
aquecidos com sabor, após aumento das vendas em seis países.
Nos Estados Unidos, a agência sanitária americana, a FDA, tentou barrar a comercialização
de uma das marcas mais populares por falta de evidências de riscos à saúde. A empresa, no entanto, conseguiu
na Justiça autorização para continuar vendendo os produtos.