28/09/2007
Check up financeiro
A saúde financeira dos médicos precisa de cuidados especiais. Esse grupo de profissionais chama a atenção de planejadores
financeiros e da própria Comissão de Valores Mobiliários (CVM), regulador do mercado de capitais, porque são presas fáceis
de ofertas mirabolantes de investimento.
"É uma categoria peculiar", diz uma fonte da CVM. Eles trabalham muito no início de carreira, em vários empregos. Depois,
formam uma clientela, começam a ganhar reconhecimento e são cada vez mais procurados. "Ganham muito dinheiro, mas não dispõem
de tempo para sequer saber quanto ganham e se tornam alvos fáceis", acrescenta.
Por isso, os médicos são presas de bancos, de consórcios, de corretores de imóveis, de corretores de valores e de outros
fornecedores de produtos de investimentos menos ortodoxos, como os contratos de avestruz, boi e tantos outros.
Para agravar o cenário, os médicos costumam pagar o sofá da sala de espera do consultório com o mesmo cartão de crédito
que pagam os almoços de família. Ou seja, tiram do mesmo bolso as despesas pessoais e as do consultório, um erro básico de
gestão financeira. "O médico não tem como gastar porque não tem tempo e acaba fazendo barbaridades", diz o médico Walter Lyrio
do Valle, diretor técnico da União Nacional das Entidades de Auto Gestão em Saúde. "A primeira providência quando ele ganha
dinheiro é comprar um BMW financiado", acrescenta.
Médicos têm poucos fins de semana com a família, férias ou feriados. São muitos raros, portanto, os momentos para lazer,
para consumo e menos ainda para cuidar dos seus próprios investimentos. Assim, as decisões de consumo são feitas sem qualquer
reflexão, e não há qualquer programação de fluxo de caixa tanto para a receita quanto para a despesa.
A verdade é que os médicos não aprendem a gerir seu próprio negócio. "Os médicos, dentistas e tantos outros profissionais
liberais não cursam na faculdade nenhuma matéria de administração, mas eles são verdadeiras empresas", diz Marco Gazel, sócio
da M2 Investimentos que tem uma carteira de clientes da área médica. "A primeira coisa que o médico tem de entender é que
ele é um homem de negócios, não basta fazer a cirurgia bem feita, ele tem de aprender a cuidar do próprio negócio, caso contrário,
terá problemas sérios", adverte.
Na opinião de Gazel, este não é um problema apenas dos médicos, mas de todo profissional liberal, que tem uma entrada
de recursos diferente da contabilizada por um assalariado. Se já é um desafio para muitas famílias gerir o orçamento doméstico
sabendo previamente quanto receberá e com dia certo para a entrada dos recursos no caixa, imagine manter a disciplina tendo
de organizar não apenas as saídas de recursos, mas a receita.
Gazel conhece bem o perfil. É filho e irmão de médicos. Sua irmã, Mariza, clínica geral, deixa sob os cuidados do irmão
a gestão dos seus investimentos. "A maioria dos meus amigos deixa o dinheiro parado no banco", conta Mariza. "A medicina toma
muito tempo da nossa vida", diz.
Os médicos são o principal alvo dos gerentes que precisam cumprir metas de vendas de planos de previdência, como PGBL
e VGBL. Como não costumam pensar na aposentadoria, os médicos são seduzidos por essas ofertas quando elas aparecem e fazem
as aplicações sem avaliar bem a relação custo/benefício. Só vão lembrar de fazer novos aportes quando o gerente aparecer de
novo com uma oferta. "Aposentadoria é um problema sério", diz Valle, da União Nacional de Auto Gestão em Saúde. "A grande
maioria dos médicos não tem um plano de aposentadoria que funcione."
Para fazer um check up das finanças pessoais, os especialistas recomendam, principalmente aos médicos e para os profissionais
liberais em geral, saber o quanto ele ganha por hora e se consegue separar as contas de casa das despesas do consultório.
Em seguida, é preciso responder à seguinte pergunta: "Vale a pena investir no consultório?" Além disso, é necessário conhecer
seus sonhos de consumo e avaliar como será a aposentadoria.
Fonte: Valor Econômico